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O Egoísmo e a Armadilha dos Conceitos
O conceito de egoísmo generalizou-se e, superficialmente, tendemos a conferir-lhe um sentido errado. O egoísmo em si, porém, nada tem de errado. O egoísmo é algo de natural e inato, na medida em que ele representa o instrumento através do qual asseguramos a nossa integridade enquanto indivíduos.
O homem é um ser dual – ele é indivíduo e é social. Ele pertence-se e é pertença. O que dele pode resultar de benéfico, quer para si, quer para o ambiente social de que é parte constituinte, depende exclusivamente do equilíbrio que se estabelece entre os factores que determinam a sua natureza. Assim, não é possível, nem desejável, que o indivíduo descure, ou de algum modo prejudique, a sua integridade enquanto ser único com necessidades próprias e exclusivas que devem ser satisfeitas, em prol de um terceiro, que pela sua proximidade, não deixará de sofrer a consequência negativa de receber o outro fora da sua completude e amputado de importantes faculdades.
Se como indivíduo, a minha plenitude depende não só de mim, mas também daquilo que o outro me dá, então como poderei eu realizar-me satisfatoriamente se o que me for transmitido pelo outro não for algo de positivo e perene? E como poderei eu dar ao outro tudo o que de bom tiver para dar, se não cuidar primeiro de me nutrir de todos esses bens?
O egoísmo, na sua acepção negativa, não reside pois, naquele instinto de auto-preservação que todos temos e de que não devemos prescindir. O verdadeiro egoísmo negativo é não conferirmos ao outro o direito de ser egoísta.
O egoísmo negativo acontece quando nos centramos demasiado em nós e achamos que tudo tem de ser determinado e acontecer em função exclusiva de nós.
É quando nos esquecemos que a relação que mantemos com o mundo e com a vida é biunívoca; que não se trata de uma relação mas de uma inter-relação. Este infeliz esquecimento, manifesta-se não só quando exigimos dos outros, como quando, por amor cego e imbuídos das melhores intenções, nos esquecemos de nós.
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