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O elfo

A bruxa caminhou pela floresta sozinha. Caminhou em paz, com a alma serena e um sorriso nos lábios. Sentia-se tranquila na sua pele de bruxa e de ser mágico. Sentia-se finalmente em casa. Sabia que não enfeitiçara o homem que percorria agora um mundo paralelo ao dela e nem sequer o tornara seu. Mas sabia que no final do dia, ele olharia o por do sol, ansiando pela chegada da lua. No momento em que a lua invadisse o céu, ele poderia vê-la e senti-la. E, embora a distância entre os seus mundos os mantivesse continuamente afastados, a magia do mundo dela permitia que as suas almas se cruzassem todas as noites, em momentos de entrega e troca de afectos cada vez mais intensos. Os encontros físicos, agora, só eram, possíveis na lua cheia.
Observou a floresta que percorria de forma distraída e pousou o seu olhar sobre a água cristalina do riacho que se estendia à sua frente. De repente, viu-o. Estava sentado sob uma pedra, concentrado a tocar a flauta que ele próprio construíra de um seixo do riacho. As madeixas de cabelo loiro saíam de uma forma sedutora do capuz do seu fato verde, cor que predominava na floresta naquela altura do ano.
Parou enfeitiçada pela melodia que ele tocava, não conseguindo mover-se, como se aquela música tivesse o dom de a tornar prisioneira dele.
Ele continuou a tocar, sem a olhar uma única vez, mas ela sabia que ele a via através da neblina dispersa pela floresta.
Subitamente a melodia mudou, tornou-se ainda mais intensa e mais sedutora. Nos seus ouvidos ouviu-o sussurrar ao som da nova melodia que tocava…

- Anseio por ti. Anseio por ver-te. Anseio por estar contigo e ver o teu riso e os teus olhos fugirem dos meus de uma forma quase tímida. Gosto dos teus olhos tanto quanto tu gostas dos meus. São lindos! E brilham de forma intensa sempre que olhas os meus olhos, fazendo-me sentir o centro do universo. Do teu universo. Fazes-me rir. Fazes-me sentir bem. Desafias-me e sempre que estou contigo sinto a necessidade de ter os sentidos sempre ligados e despertos. Todos os sentidos: emocional, físicos…Anseio por ti de uma forma que não julgava possível. Entranhaste-te no meu pensamento mesmo quando estou a dormir.
Adormeço sempre a pensar em ti. Sim, o meu último pensamento vai sempre para ti. Depois, vejo-me novamente no teu sofá de folhas de eucalipto, com cheiro a menta, a beber chã e a devorar pequenos bolos suculentos. Sei que te quero devorar a ti também… e os meus olhos percorrem o teu rosto de forma gulosa.
Estendo a mão e anseio tocar-te. Fechas os olhos num suspiro e também tu anseias o meu toque. Desprendo-me de medos e de preconceitos e vou ao teu encontro. Beijo-te. Inicialmente com ternura, quase a medo, mas depois, sentindo o teu corpo colado ao meu, o teu coração batendo desenfreadamente, perco o pudor e deixo-me ir na minha paixão. As minhas mãos tornam-se audazes e tal como a minha boca, exploram-te. Como sonho que sejas doce! Sei que és doce. Que o teu corpo vai gemer contra o meu como no meu sonho. Que tu te queres entregar a mim como no meu sonho. Que te posso levar à lua quando estiver dentro de ti, despertando a bruxa que tanto teimas em guardar. Solta-a. Solta-a como no meu sonho. E deixa que as minhas mãos percorram o teu corpo despertando-te para feitiços que até podes conhecer, mas que comigo teimas em não experimentar. Deixa-me ser o teu servo. Deixa-me ser o teu escravo. Anseio por ti…Quero que sejas minha….

A sua pele arrepiou-se. O seu coração bateu descompassadamente.
Não era surpresa para ela que o elfo a desejava. Muitas vezes ele o afirmara. Muitas vezes ele procurara acabar com os encontros que ela tinha com o humano na orla da floresta. Porém, nunca procurara seduzi-la recorrendo aos poderes mágicos que possuía.
Não podia negar a atracção que sentia por aquela personagem e pelos seus poderes. Não podia negar o quanto era sedutor. E sobretudo, não podia esquecer que pertencia ao seu mundo e que sentia um desejo enorme de partilhar com ele conhecimentos ancestrais e feitiços que ambos conheciam.
Mas não conseguia esquecer o Humano, as suas mãos a percorrerem –lhe o corpo, a serenidade e tranquilidade que ele lhe permitia sentir, a paz de espírito que tanto tempo lhe levara a reconquistar…
Preferia esperar por uma nova lua cheia. Podia não ser tão intensa, nem envolvente como a magia que o elfo possuía. Porém, era mais tranquila e tinha a capacidade de lhe dar uma segurança que há muito não sentia.
Pousou a mão lentamente sobre o seu peito, fechou os olhos e sussurrou o feitiço que lhe permitiu soltar-se daquela doce prisão dourada.
Virou as costas e lentamente retomou o caminho por onde viera.
Ele parou de tocar, quebrando a melodia e o encantamento, e ela conseguiu visualizar o seu olhar preso na sua figura a afastar-se. Depois, um vento suave envolveu-a numa terno abraço e sussurrou-lhe ao ouvido:

- Ainda não desisti de ti….

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sexta-feira, abril 11, 2008 - 14:06

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morrigan

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Comentários

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Re: O elfo

Texto bem escrito em dom da palavra!

:-)

imagem de Tommy

Re: O elfo

"A sua pele arrepiou-se. O seu coração bateu descompassadamente." apenas assim consigo ter palavras para comentar o ke nos toca em teus textos, parabens

imagem de MariaSousa

Re: O elfo

Cada vez gosto mais da sua bruxa e dos elfos e das fadas...

Bjs

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