OBRA "UMA MULHER COMO TU" da CORPOS EDITORA

Samira sorriu ligeiramente ao mesmo tempo em que olhava para a luz do sol da diminuta janela. A janela da esperança e da liberdade brilhava apenas por trás das grades, onde se podia vislumbrar um olival sem fim, de um tom verde-escuro, por vezes roçando o negro. Num tom de criança vencida, olhou para todas as suas três companheiras de infortúnio e respondeu:

- Fugir? Fugir era bom. Mas como e para onde?...
- Para algum lado, longe deste tipo de gente. Se temos de andar nesta vida, que seja ao menos com alguma dignidade.
- Dignidade Camila?... Diz-me uma coisa. Como vieste parar a esta vida?
- Miséria humana Samira. A mais pura miséria humana. A fome, o trabalho mal pago, o não ter o suficiente para viver e criar meu pequeno filho. Quando aceitei vir, sabia para o ia, mas não esperava ser presa e espoliada de toda a liberdade. Você mesmo me disse, vender o corpo mas nunca a alma.
- Liberdade e um pouco de dignidade, mesmo na nossa profissão… Sim, acho que merecíamos no mínimo isso. Sabes Camila, eu fui vendida a uma rede de exploração sexual por meus pais por apenas cem dólares. Parece pouco não é, mas para eles foi uma fortuna. Com apenas dez anos já me encontrava nesta vida. Por isso te perguntei, fugir sim, mas para onde? Para Angola? Para a minha família?...

IN "UMA MULHER COMO TU" da CORPOS EDITORA