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OS GÉMEOS - 15

.

 

(continuação)

 

— Zeca... — disse ele então, histriónico, como se a emaranhar-se numa ideia, que não desejaria ainda expor, mas que deixaria no ar, dizendo-a ele, claro, nas palavras dele, sem dúvida, mas que não lhe parecia dele, esquisitamente, como se por processo obscuro alguém antes lha tivesse instilado na mente e nesse momento o mandasse proferi-la: — Isto está a ficar grande de mais! Você sabe... as investigações vão-se dispersando, hoje mais uma experiência amanhã mais um novo objectivo, depois mais uma estufa e depois mais espaço laboratorial... Um homem não pode ter braços nem cabeça para chegar a tudo em que se mete... Até porque também tem de viver... en?... Ainda para mais sou um cientista, não sou, nunca fui e nem quero ser um empresário. Tenho aqui uma extensão muito grande de terras... Veio-me à ideia cá um plano...

— Pois era isso mesmo que eu vinha cá dizer-lhe doutor. Está certo. O doutor não é um agrário, nem tem obrigação de ser. É um cientista, sim senhor... Eu queria comprar um bocado disto, para não estar aí ao abandono... Sem produzir!

— Ó amigo Zeca... estou aí com um plano que pode ser interessante... mas vender?... Não! Pode ser que um dia aconteça. Um homem anda daqui para ali e sei lá, um dia posso ir-me embora. Então, talvez... Sim, nessa situação eu poderia falar consigo... Tanto mais que, volto a afirmar, devo muita consideração e simpatias às suas senhoras. E não só... Será um caso a ver, na altura. Mas agora, não!

— Então, senhor doutor?...

— Deixe-me pensar bem naquele tal plano...  Neste fim-de-semana passo lá em sua casa para jantarmos e conversarmos. Quero ouvir a sua opinião... Dê lá muitos cumprimentos às suas senhoras, se fizer o favor. Eu lá aparecerei, Sábado à tardinha.

— De todo em todo, pelo que me diz, o descontentamento ainda não dá para desencadear a rebelião, não é assim, Louise?

— E acho que nem dará nunca. Não é difícil controlar inimigos da laia do Zeca. Os seus interesses estão bem à mostra, e como no fundo contendem com os de outros, nunca hão-de pôr-se de acordo para o guerrear a si, William. Ao mais atrevido já você deu resposta. Mas que plano é o seu? Posso saber?

— Pois! Vamos discuti-lo... O meu irmão James, que você não deve conhecer, também é parte interessada nisto aqui... Mas como não aparece nem dá notícias, temos nós que decidir.

— Nós?

— Claro, Louise! Você em Lameira Grande ainda é minha mulher, não é? Ah, ah, ah!... E que não seja, é tudo o que tenho, cá. Uma mulher única, que me mantém a viver, e a trabalhar, e a gostar de estar aqui. Tem sido uma equipa perfeita... Talvez devesse proporcionar-lhe mais afectividade, ou mesmo “pecado”... Hum, mas acho-a tão equilibrada que, talvez fosse mesmo pecado intrometer-me consigo. Contento-me, se me perdoa a desfaçatez de, de vez em quando, deliciar-me a vê-la banhar-se no rio... Ou a passear-se por aí a amar a noite... Hum! É bem agradável!...

— Bem, a desfaçatez é minha, em última análise... mas se não o perturbo, vou continuar a ser assim. E quanto a “pecado”, parece que cada qual se está a arranjar bem, não é? Eu gosto de ser natural... e espontânea, e de saborear a liberdade. E por isso tenho adorado esta vida aqui e consigo.

— Eu também. Mas pelos vistos há em Lameira Grande quem não aprecie muito a nossa paz.

— E então?

— Pois bem, se querem arroz eu vou dar-lhes arroz. Até entendo que com o nosso absentismo agrícola estejamos a interferir um pouco na economia local. Tenho uma proposta a fazer-lhes: delimita-se uma área mais do que suficiente para nós, desenha-se um grande arco à nossa volta, veda-se com uma cerca, para evitar abusos, e cede-se-lhes o resto do terreno para seararem. Vão ter muito que fazer... De acordo?

— Acho que é uma bela ideia... se o arco for bem grande, para eu poder continuar a passear a minha privacidade...

— É possível que não possamos ter essa privacidade enluarada por muito mais tempo... Isto está a crescer a um ritmo que eu não previa. Já começo a ter certa dificuldade em conciliar o estudo com a investigação experimental. Não dou um ano sem que tenhamos de recrutar alguém para o laboratório. Espero que entretanto James dê sinal de si.

— Acha que vão aceitar a sua proposta, William?

— Que é que querem de melhor? Querem arroz e eu vou oferecer-lhes arroz. Cedo-lhes para utilização, sem condições, grande parte da seara. Vender terras não vendo. Quando muito poderemos associar-nos a eles na exploração. Você já alguma vez geriu um arrozal?... Não, não, não estou a brincar! Eu sei que a Louise é capaz. E se estiver disposta a isso pode dar-lhes um apoio precioso.

— Isso é um desafio?

— Veremos.

 


 
(continua)

Escrito de acordo com a Antiga Ortografia

 

.

 

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sexta-feira, abril 19, 2013 - 14:08

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