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Pequeno cosmo

Vinte anos passaram desde que aqui vim... Não dei pelo tempo passar...
Tinha prometido que na primeira oportunidade voltaria a este lugar. Não vim mais cedo por receio de acordar águas que se agitam à menor brisa.
Mas esta noite não poderia estar em mais lado nenhum... A mesma noite, vinte anos depois... Agora, beberei sozinha e brindarei à lua e às estrelas que permanecem no lugar, tantos anos depois.
O portão está aberto, o espaço acessível, o banco deserto.
Avanço cautelosa, coração em sobressalto por cada gargalhada que parece ouvir. As nossas vozes estão gravadas naquele lugar e as emoções estão ao rubro. Os sentidos recordam-se, pensei que tivessem esquecido.
Sorrio para os jovens clandestinos que revejo ali, naquela hora e naquela noite... Não sabem da sua sina, deixo-os assim. Tudo o que posso fazer é agradecer-lhes pelo momento em que existiram mais corajosos e mais verdadeiros do que alguma vez viriam a ser. Ali estavam eles representando para mim um diálogo que sabia de cor.
Está calor, refresco-me na espuma borbulhante da taça improvisada.
Absorta na espiral de um tempo perdido, perdida para o movimento presente. Alheia ao que me cerca, não dou pelo estranho chegar. Um vulto de caminhar apressado como se quisesse recuperar os minutos do seu atraso. Também ele vinha para aquele lugar. «Não é só nosso» - segredei como se os meus jovens conhecidos pudessem escutar...
Suspirei e ignorei o estranho... Nenhum sinal de alerta, nenhum perigo anunciado. O momento era de contemplação, a cena decorria perante os nossos olhos e os diálogos retomavam o seu curso.
Escuto o som da felicidade, rio-me também. É amor e eles não sabiam, não o queriam, querendo… Antagonismos próprios da idade.
Retomo a linha do diálogo em pensamentos que fluem alto, escapa-se o som da garganta, seguido de um murmúrio vindo da sombra. O estranho soprava-me ao ouvido as respostas às minhas falas. Era a voz de um homem que preenchia a voz do menino.
« Ele conhece as palavras.. Conheceu-te um dia.»- Bombeia o sangue carregando-me de eléctrica mensagem.
Os jovens estavam suspensos, olhando o Futuro. Eu via-me forçada a encarar o Presente, segui o som, olhei para trás.
«Ali está ele!» - suspiro da emoção luminosa em meus olhos.
A cena repetia-se, o Passado era Presente e amadurecido. As vozes embargadas pelo pó sufocante nas gargantas respondiam com palavras antigas.
Está calor, refresco-me na espuma borbulhante da taça improvisada. Ele sorriu. Os meus lábios hidratados pelo espumante, ofereciam uma visão de alívio. A hora era chegada e a vontade antiga preenchia o lugar, envolvendo-nos.
Um passo em frente e os nossos corpos assumem o seu devido lugar na história. A cada passo dado sentia que a juventude diluída era bebida pela memória. Agora era o que deixámos continuamente escapar.
Olhos nos olhos, vontades iguais, compreendidas e aceites.
«Ele ria de olhos estrelados, sorriso de lua» - estremeci, rodeando-o como um laço que enlaça bocas em abraços de desejo.
Mãos trémulas, carregadas de ambição carnal, coração pedinte pelo seu destino, lançaram ao vento a roupa que ele vestia. Tarde demais para a peça de roupa que trazia… O vestido era novo, mas a vontade antiga ditou os termos da sua rendição. Caía rasgado na urgência, assim como todos os medos que envolviam aquele momento.
No ar, rodopiando, entre abraços que comprimem os corpos e que os encaixam, palmo a palmo. No colo, ele a carregava para não mais a deixar fugir. O mesmo banco moldava-se para os receber.
Os cabelos negros de um cobriam-se com os cabelos negros do outro. Os dedos entrelaçados pulsavam ao ritmo de uma respiração ofegante. Corpos nus, iluminados por uma luz difusa que emanava de dentro para fora. Não era preciso olhar para lua e para as estrelas, tudo estava ali nos olhos que se perdiam no olhar do outro. O nosso pequeno cosmo, a nossa origem, o amor e vida, o inicio.
 

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domingo, maio 1, 2011 - 14:30

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Ema Moura

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Uma prosa em tom maior.Muito

Uma prosa em tom maior.Muito bom!

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