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Hoje destruí o que ainda guardava na caixa das memórias. Pensei somente mudá-las de lugar para um outro ainda mais secreto, mas acabei por destruir o seu conteúdo.
Eram na sua maioria imagens sem história, sem passado. Apenas duas dessas imagens me ligavam a uma coexistência harmónica de um tempo passado antigo e de um tempo passado presente.
Tinha-te ali menino e homem. Duas idades tão diferentes, dois relacionamentos tão diferentes, um mesmo sonho e uma cada vez maior desilusão... Contudo, ali te tinha para que os meus olhos vissem o que o coração não esqueceu.
Hoje destruí tudo. Não foi um gesto de ira, nem desesperado. Pensei somente mudá-las para um lugar ainda mais distante, mas acabei por perder tudo.
Primeiro, lamentei! Depois, pensei respirar melhor...
Agora pergunto-me quando estarei realmente livre. É um pensamento insistente, como uma criança impaciente pelo fim de uma grande viagem. Só agora comecei, como se, só agora, aprendesse a andar.
O tempo que decorreu entre um grupo de memórias e o outro não foi o suficiente para que estas se tornassem traiçoeiras, esquecidas das emoções que guardam e nem dos traços memorizados.
A minha cabeça neste momento parece um disco riscado. A música não prossegue assim como o viver. Já a vida é como se sabe, tem pressa e não espera.
É chegada a altura! O pensamento não pode apenas gerar mais e mais pensar. Poder pode, mas continuaria uma não existência, existindo. A acção é precisa e não há como negar.
Ano de iniciativas. Crises dentro da Crise. Conflitos e Resoluções.
Hoje quando perdi o que restava da caixa das memórias, apenas destruí o que o Outro poderia ver, tocar ou profanar. Na verdade, dentro de mim, a árvore das memórias continua a ostentar os mesmos galhos e as histórias apenas eu as vejo.
Está um lindo dia lá fora! - Digo eu olhando para dentro com uma tesoura de podar.
É tempo.
É hora.
Agora!
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