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Por Ti Seguirei... (9º episódio)

(continuação de http://galgacourelas.blogs.sapo.pt/46631.html)

No alvorecer daquele dia tão aguardado todos mostraram a costumeira destreza no arrumo do arraial e retoma da posição de marcha. Sem grandes demoras com as necessidades do organismo, puseram-se em curso, a passo ligeiro.
Na comitiva de resgate de Tongídio e companheiros, Alépio contava com 3 dezenas dos seus homens, acrescidos de Gurri e dos seus 15 Vacceus, aos quais se juntavam ainda Zímio e Rubínia.
A primavera mostrava já o seu magnífico esplendor. Os dias, sob os auspícios do avanço indomável da criação, ganhavam cor e calor, o que alegrava o turbilhão de vida, nas suas múltiplas formas e na proliferação de novos e carnudos odores. A natureza parecia mais composta, mais cheia, mais plena, com outras vestes vegetais e animais.

Tinha passado mais de meio ano desde que os Romanos haviam desbaratado o exército de Aníbal. Após a batalha principal, perseguiram os fugitivos por 3 ciclos completos da Lua, atacando as bolsas de resistência que entretanto se iam formando em sistemas de defesa muito rudimentares e votados ao fracasso, face ao poderio do predador.
Tongídio foi capturado numa dessas rixas finais. Lutou como um urso que vê as suas crias em perigo. Devido à sua prodigiosa força e furiosa determinação, os legionários fizeram o possível para o capturar vivo. Seria um esplêndido despojo de guerra e proveitoso escravo. Porém, pagaram caro a ousadia: todos os que se aproximavam demasiado e ficavam ao alcance da falcata de Tongídio conheciam o fio de corte da sua arma; sentiam os músculos a separarem-se e os ossos a quebrarem; ficavam toldados e jamais saiam das trevas da morte. No entanto, com o prolongamento do combate (os Romanos pareciam formigas a sair de um buraco do chão), o crescente cansaço e a acumulação de várias feridas, Tongídio começou naturalmente a perder faculdades, sobretudo na guarda. Posicionados no topo de um rochedo, dois legionários lançaram uma rede sobre o valente guerreiro, emaranhando-o em cordas. Assim que o conseguiram atirar por terra, todos os que o cercavam projectaram-se sobre ele, dando largas à sua raiva e dor, pela resistência do caudilho, deixando-o muito mal tratado, moribundo e exangue. Não foi todavia abandonado para repasto de animais necrófagos. Trataram-no e alimentaram-no, na perspectiva do futuro rendimento pecuniário.

Com o Sol na fase inicial de descida para Poente, o grupo viu, ao longe, primeiro uma e depois mais, colunas de fumo. Quando se aproximaram um pouco mais, confirmaram a existência de uma grande fortificação.
- “Alto! A partir de agora temos de manter o alerta em extremo. Os Romanos podem ter patrulhas exteriores ou postos de observação em pontos altos. Vamos repousar atrás daquele promontório. Depois iremos ver as cercanias e assegurarmo-nos que estamos e nos manteremos fora das notícias do inimigo”, disse Alépio.
As suas instruções foram seguidas, sem demora.
Entre o local em que se encontravam e o campo romano distava cerca de mil passos. O terreno de permeio tinha algumas mudanças suaves de relevo e áreas bastante arborizadas, o que facilitaria o avanço furtivo.
Sob um poderoso pinheiro discutiram as operações a realizar: Alépio iria, com alguns dos seus guerreiros, sondar a área à esquerda na direcção do assentamento romano e Gurri, da mesma forma, com os seus investiria pela direita. Combinaram evitar usar para já a força, a menos que surgisse algum motivo maior que tal o exigisse. Tratariam apenas de bater o terreno até ao inimigo, para o conhecer bem. O grosso do grupo aguardaria naquele sítio pelo regresso dos companheiros. Sairiam quando o Sol já quase tocasse o horizonte e regressariam pelo início da noite.
Foi dado o sinal. Em silêncio, partiram seis guerreiros, divididos em dois grupos. Deambularam em direcção da castra inimiga. Á aproximação correspondia também um desvanecer da luz do dia. Já com a noite por véu, os valentes de Gurri arriscaram-se a chegar mais perto. De tal forma que conseguiam enxergar nitidamente a paliçada, as torres de vigia e as sombras das sentinelas, recortadas pela iluminação das fogueiras do interior do campo defensivo.
A chegada de uma patrulha romana criou alguma tenção entre os que espiavam, mas também permitiu, com a abertura das portas, observar parte do interior da fortificação. Parecia confirmar-se a presença de uma legião completa. O objectivo não seria fácil de alcançar…
Todos os enviados regressaram sem sobressaltos ao ponto de encontro.
Os que aguardavam tinham preparado alguma coisa para aconchegar o estômago e, enquanto comiam, passaram a relatar tudo o que tinham presenciado e descoberto.
- “Quanto à zona coberta pelos Vacceus, não nos surgiu qualquer dificuldade. Encontramos uma vegetação frondosa, que nos permitiu chegar praticamente às portas do inimigo. Há apenas um espaço aberto de cerca de 30 paços até à cerca. A fortaleza é robusta e ostenta torres com muitas atalaias. Possui também um fosso a toda a volta. Não foi possível verificar qual a sua profundidade. Por dentro também parece bem organizada e julgo ser guarida de uma Legião inteirinha…”
Alépio assentiu com um gesto da cabeça: - “Sim, também me parece. Tanto mais que estamos na rota Pirenaica, bem próximos dos portões da montanha. Este é um ponto estratégico para os Romanos, sem dúvida.
Também por isso, deparamo-nos a Poente com um povoado. Não é comum um posto militar ter uma civitas civil tão junto: Nem quinhentos passos distam um do outro! Talvez seja por força do comércio e da protecção dos comerciantes. Por esta rota circulam produtos de todo o mundo”.
- “Se se trata de comércio, então é comigo. O negócio corre-me nas veias!”, disse Rubínia, com os olhos a brilhar.
Alépio sorriu e continuou: - “Pelo que conseguimos apurar, o povoado parece ser de passagem livre. Inclusivamente, é frequentado pelos próprios itálicos.
Não entramos, porque a hora tão tardia poderia levantar suspeitas. Porém, amanhã, se verificarmos que é de salvo-conduto, iremos a Sekia – assim ouvimos a ser designada – e aí começaremos a gizar o plano de assalto à Castra.”
- “Proponho juntarmos alguns dos nosso trapos e quinquilharias em braçados de mercadoria. Escondemos neles as nossas armas, e passarmos assim disfarçados de pequena caravana mercantil vacceia”, sugeriu Rubínia. – “Eu e Gurri seremos um casal de comerciantes, seguidos pela guarda de segurança e servos que tratam dos bens. O que opinais sobre tudo isto?”
Enquanto Gurri franzia as sobrancelhas, Alépio enalteceu a formidável ideia da mulher, sem que deixasse escapar um sorriso maroto.
Como ficou acordado, trataram dos preparativos cuidadosamente. Cada um contribui com uma pequena bugiganga ou mesmo jóia. Juntaram o máximo de peças de vestuário possível, amontoadas apelativamente. Carregaram tudo em cavalos e partiram em comitiva: pretensos senhores e guerreiros montados, e supostos servos apeados, conduzindo os animais da carga.
Não foram todos. Seriam demasiados e despertariam curiosidade em demasia. Uma vintena de pessoas seria o suficiente, para a simulação e para uma qualquer, rápida, eventual fuga.
Rubínia, vestida desta feita com indumentária mais propícia ao género feminino, despertou a admiração de todos e suscitou mesmo alguns piropos brincalhões, que a fizeram corar e rir. Zimio, sempre muito grave e exacerbado no zelo pela sua senhora, rosnou qualquer coisa e projectou um olhar fero à sua volta. A risada foi geral, desanuviando assim a pressão da partida para a nova aventura.
Sekia era uma civitas posicionada numa suave e ampla colina. Tinha um ligeiro sistema defensivo e facilitava, de facto, passagem franqueada a quem quisesse ultrapassar os seus portões.
Pelo caminho que conduzia à entrada do povoado, marejava gente que oferecia todo o género de produtos e serviços. Abundavam os altares de circunstância, as promessas de cura de todas as maleitas e as ladainhas mágicas que trariam os favores dos deuses. Adultos afeitos a vender crianças para a condição de servos. Pedintes e mais pedintes, que mostravam miséria, corpos amputados e chagas sujas e purulentas, carregadas de moscas. Havia-os também com a lábia sabiamente apurada para decorar bem o conto do vigário, com promessas de fortuna, jóias e ouro falsos e com todos os esquemas possíveis e imaginários para ludibriar os mais argutos. Já para não falar dos angariadores de prostíbulos…
Estes eram os proscritos daquela pequena cidade. Viviam no centro do negócio, mas à margem do comércio. O comércio, esse, era para os mercadores autorizados e viajantes (que mostrassem seriedade; caso contrário, eram atirados para junto dos do caminho), dentro de portas.
Após toda aquela confusão e alarido, frenesi gestual, poeira e odores agonizantes, da subida, o grupo entrou por fim em Sekia.

(continua…)

Andarilhus
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terça-feira, agosto 3, 2010 - 16:10

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