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Sejamos sempre a ausência de dois corpos

Estendo-te a mão para que subas comigo. Até não haver chão. Até caminharmos sobre o ar. Quero que me sigas para que te sentes a meu lado no topo do mundo, onde o som não se propaga e a chamas se apagam com a doce ausência do existir. Quero que apertes os meus dedos quando estivermos quase no cume. Quero que sintas o meu arrepio subir-te pela espinha, abraçar-te a nuca e beijar-te os olhos com frio. Que vejas o nascer do dia no fim do dia. Que vejas como o terminar é o começar de outro nada que mastigo com a tua boca. Quero que adormeças o pulso por instantes e sintas o momento latejar na ponta da tua língua…senti-la gotejar sonhos e aspirações. Quero que os ponhas todos de lado e que sustenhas a respiração; que deixes que os teus olhos se encham de almas que não a tua. Quero que sejas um mundo no teu corpo único. Que sejas eu na palma da tua mão, percorrendo os teus dedos, apertando as tuas unhas… e finalmente voltando a mim com um choque.

Somos explosões mudas.
Electricidade vazia.

Quero que largues a minha mão quando o silvo soar. Aquele que não se ouve, mas se sente formigar debaixo dos nossos pés e os morde com ternuras. Quero que sejamos tu e eu quando estivermos em brasas mortas. Que te lembres que mesmo quando somos um, somos sempre dois: Tu e eu, sem toques e sem palavras.
Quero que olhes sempre em frente, quando chegarmos. Que grites para dentro e não interrompas as minhas lágrimas. Porque eu vou chorar… lágrimas quentes e gordas de medos e alegrias, amores e desgostos, paixões e desavenças. Vou chorar o ódio que tenho por tudo, quando o meu amor por tudo for demasiado para o aguentar dentro do meu peito. Nesse momento, não tenhas medo: peço-te que olhes em frente, e que te lembres que odeio a ordem das coisas porque não sei como amá-la mais. Que a odeio porque a amo, e mesmo quando a mato, faço-o porque não sei como odiá-la mais.

Um pé à frente do outro, caminhamos sobre o nada. Somos ar. Somos a transparência das emoções quando o sentir é mera banalidade de mendigos. Estamos no topo, somos o topo, somos o fim do mundo que deixamos para trás. O fim do início e o início de outro início que não tem fim.

Somos a continuação de todas as coisas.
O amanhã que tarda.

Enlacemos as nossas mãos e sejamos separados, ainda assim. Sejamos sempre a ausência de dois corpos. Sejamos vento que chora e espanto que cala. O frio que corta e a brisa que embala. A luz que queima e o som que apunhala…
Sejamos sempre, e para sempre, a voz que não se ouve, mas, que para sempre, intervala:

O meu ser e o teu ser.

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sábado, agosto 30, 2008 - 23:56

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Re: Sejamos sempre a ausência de dois corpos

Texto bem escrito, bem enquadrado no tema!

:-)

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