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TAPETE MÁGICO

             Abri os olhos, com um suspiro forte e intenso. O vento no rosto; enchia as narinas também de vento, e os meus pulmões de uma magia indescritível... uma sensação única, de um misto de prazer e adrenalina. Quis olhar para baixo, a princípio não tive coragem; mas com o passar do tempo, decidi dar uma espiada, mas quase caí daquele veículo, ou melhor dizendo do tapete.
             Lá de cima, dava para ver as inúmeras montanhas de areia, que se formavam. O sol, é lógico estava queimando minha cabeça, de tão escaldante. Então, enrolei uma toalha como turbante. Mais adiante, visualizei a imagem de uma caravana; na verdade uma fila gigantesca de camelos e dromedários, possivelmente montados nos mesmos, estavam os Beduínos - guerreiros das areias - e senhores do deserto do Saara. À cima, só vi, algumas nuvens e umas aves de rapina. Teve uma hora, que eu fiquei assustado, porque o tapete começou a tremer, parecendo uma espécie de turbulência. Então, eu agarrei nas bordas, com toda força; fiquei até temeroso em rasgá-lo, naquele gesto. Comecei a ficar até tonto e cansado com o passar do tempo; pois, no deserto não se vê nada, além, é claro, de areia.
             Mas, quando eu já estava cambaleando a cabeça; já que a mesma ficou pesada. De repente, avistei uma cidade lá embaixo... mas era pura miragem! voei, mais uns duzentos quilômetros, e vi novamente, uma pequena porção de terra; e no centro, um pequenino e modesto lago, rodeado de pedras. Decidi descer! Mas não sabia como. Gritei para o tapete parar; mas depois fiquei com medo de isso acontecer em pleno voo, e eu cair lá de cima. Quando já ia passando do oásis, comecei a rezar e implorar para Deus me ajudar. Aí, o tapete diminuiu a velocidade; e para minha surpresa retornou para o oásis, diminuindo a sua altitude também; de forma que eu poderia até pular dele. Porém, não foi necessário, pois, o tapete parou suavemente, à cerca de uns oito metros da lagoa. Cujas palmeiras eram bem maiores, do que se supunha lá de cima. Elas tinham, com certeza, uns trinta metros de altura. Mas, o maior tesouro, era sim aquela água cristalina da lagoa; donde dava até para ver os peixinhos lá no fundo. Assim, eu não resisti e bebi de forma compulsiva, aquela água doce e saborosa, com uma ponta de gosto de ervas. E por falar nestas; do meu lado esquerdo estava uma planta muito bonita e exótica, com longas pétalas amarelas, mas seu núcleo era rubro - como o sangue vivo. Já do outro lado, estava ali parado, uma ave - simbolo da paz - de cor alva.
              O pombo também bebia água, e se banhava com o bico. Assim, contemplei aquela imagem bucólica por alguns minutos; quando escutei do meu lado esquerdo, a referida planta se mexer. Mas, ao apurar melhor a audição, notei que este barulho era próprio de um guiso. Olhei mais firmemente nas folhas da planta, e notei que entre essas folhas, de forma velada, estava um par de brilho dourado; fiquei estático, para não dizer inerte mesmo. Só vi, quando aquele vulto se tornou lépido, e se lançou à uma velocidade surpreendente na minha direção. Com o reflexo da luz solar, tive a certeza de minha momentânea suspeita; era sim uma serpente traiçoeira dando seu bote, da maneira mais violenta e rápida possível. Mas, num estalo de reflexo, eu desviei daquela cascavel; me esgueirando para trás... caindo num buraco, atrás de outra planta. Quando notei, que ali a situação era bem pior; já que eu acabara de cair sobre o ninho daquele réptil. Perdi a conta, de quantas picadas eu havia tomado. Quando olhei, já meio tonto e grogue; percebi que tinha uma mulher me olhando, e dos lados alguns escravos me carregando, numa espécie de maca ou padiola tribal.
              Acordei, no interior de uma tenda árabe. Estava toda cheia de tecidos e alimentos. Tentei me levantar, mas fui impedido por uma senhora bem velha; que de posse de uma jarra de barro, me deu uma espécie de remédio para beber. Seu gosto era amargo como fel. Olhei para os meus braços, e para minha surpresa e felicidade, estes estavam bem vermelhos, com sinais de picadas, mas estavam bem melhor do que eu supunha! Senti, novamente meu corpo pesado, e desmaiei; derrubando um cântaro.
              Depois de alguns dias, como fui informado pela jovem donzela, que estava ao meu lado, acordei com uma vivacidade incrível e fenomenal. Não tinha mais nenhuma cicatriz na minha pele. Minha cabeça doía, um pouco; mas com certeza, não era nada sério, se levar em conta o incidente que eu tivera. Fiquei admirando a bela jovem odalisca, em seus afazeres na tenda. Notei que ela me olhava também, de forma discreta. Seu lenço no rosto, na altura da boca tapava esta, sem saber, se ela ria ou não. Quando eu já ia interpela-la, adentrou à barraca, um sujeito alto, vestido de preto com uma cimitarra exagerada na cintura. Então com uma voz rouca e grave, comunicou-se comigo, ao mesmo tempo que puxava sua barba para baixo, com as mãos.
- Quem é você forasteiro? O que procura por aqui, e o que você faz no meu oásis? Redarguiu o anfitrião.
- Na verdade, a única coisa que eu procuro, é uma forma de retornar à minha casa! disse eu.
- Como chegou aqui? homem imberbe. Proclamou o Árabe.
- Na verdade, eu não sei! Acho que num tapete mágico.
- Como ousa me dizer, que você roubou o "Sopro do Deserto".
- Ele, é que veio até mim, senhor!
Naquele momento, entrou um vassalo do Xeque, e disse:
- Senhor estamos sendo atacados! Os Beduínos...
Então começou uma correria... era gente correndo para todos os lados. Aí, a moça me dirigiu a palavra pela primeira vez:
- Vamos fugir!
Diante daquele pedido com tanta propriedade, era imperativo, que eu saísse correndo rumo às planícies de areia, acompanhado de tão bela Dama. Como já era noite, a nossa fuga foi mais fácil. Ao distanciar consideravelmente da tenda, a moça me disse:
- Obrigada por me ajudar, meu pai é um Sultão, e pode ajudar-te e recompensar-te .
- Então vamos... ainda não estamos totalmente a salvos.
                Caminhamos por várias horas... durante a noite; onde o frio era muito intenso, parecia que o vento cortava os ouvidos, com uivos assustadores. Naquela longa caminhada, eu fiquei sabendo que aquela moça, não era uma mulher comum; era sim, uma princesa, filha de um monarca local muito poderoso; o qual estava em guerra contra os egípcios por uma localidade denominada: Kadesh; e que o outo senhor era um Xeque de outro clã árabe, sendo ambos inimigos mortais.
                Paramos um pouco para descansar; onde eu pude conhecer um pouco melhor aquela jovem Otomana. Ficamos horas conversando sobre o mundo, as estrelas (deitados sobre a areia), as tribos árabes, e principalmente a natureza, e o futuro. E aconteceu de maneira bem natural de nós nos beijarmos. Notei que ela ficou meio sem jeito e sem graça; mas com um sorriso discreto de satisfação. Nesta hora Raja - nome dela -, me presenteou com uma espécie de amuleto, que ela havia ganhado, quando criança de sua avó materna. Era uma esmeralda, muito cintilante; envolta em pedaço de couro. Resolvemos prosseguir; quando já perdíamos as esperanças, eis que apareceu diante de nós um camelo. Assim, seguimos para a região do conflito, mencionada à cima. Ao chegarmos, fomos bem recebidos pelo genitor da jovem. Este, a princípio quis também me hostilizar; mas a princesa interveio e os ânimos foram logo serenados.
                Aquela guerra não era minha; mas eu tinha que provar para a Princesa Raja que eu não era nenhum covarde. Assim, saí também para o campo de batalha. Chegando lá observei algumas cenas lamentáveis; mas eu não poderia fazer nada. Quando eu já estava cansado de ver todas aquelas mortes... ajoelhei no chão, entrelaçando as mãos; e supliquei mais uma vez ao Pai-Celeste para que ele nos ajudasse. Foi quando, notei uma forte tempestade de areia indo em direção ao exército inimigo; o qual tinha um contingente bem maior e poderoso. Acredito, que mesmo que momentaneamente, ganhamos a batalha; porque o exército dos egípcios se afastou consideravelmente. Foi o tempo dos soldados árabes, se recomporem para uma nova batalha.
                O que mais me chamou a atenção; foi perceber que, mesmo todo condoído e massacrado, o exército árabe nunca iria desistir de seu intento de lutar pela manutenção da liberdade. Ora! Aquele povo não sabia o que era a escravidão. Eles não temiam ninguém, só o absoluto Deus. Mesmo que todos perecessem naquele campo de batalha; o espírito de liberdade árabe continuaria a esvoaçar pelo ar, e consagrar as gerações futuras sobre o sentimento diferencial da força de vontade e determinação daquele povo nobre.
                Apelei para a princesa vir comigo; mas ela foi intransigente, pois disse que preferiria perecer e morrer, do que abandonar seu povo, sua história, suas origens, e seu espírito de liberdade. Ora, ela dizia que a Alma deles, era também uma emanação do próprio vento...
                Lembro que a beijei profundamente; e ela me disse que suas lágrimas eram em forma de sangue. Foi a última vez, que eu a vi, e senti aquele perfume doce de jasmim... Sei que aquele povo perdeu aquela guerra; mas sei também, que eles lutaram bravamente, e honraram o verdadeiro espírito do deserto de liberdade. Por isso, toda vez que sinto uma brisa suave nas ventas; eu fecho os olhos e lembro de minha amada Raja... nos meus braços; imaginado... como seria bom vê-la comigo, no tapete-mágico, voando pelo céu azul!
                Ao distanciar do grupo e do conflito; eu encontrei, enterrado nas areias do deserto, com apenas uma das pontas à mostra, o meu tapete mágico - veículo inesquecível de minha felicidade! Dessa forma, com muito esforço, eu o desenterrei, subindo de um só pulo sobre ele, e disse:
- Meu bom amigo tapete, me leve para casa, que eu, hoje, aprendi como é bom ter um lar, e defendê-lo com unhas e dentes... os nossos maravilhosos e queridos, entes... respeitar nossa terra, nossa história, nossa gente; agradecendo diariamente a Deus, por tudo pelas maravilhas da vida!
                Voei, voei, voei... shuuuuuuuuuuuissshhhhhhh... escutei mais uma vez o glorioso vento; e abri lentamente os olhos. Então visualizei mais uma vez o meu quarto (com a porta fechada), minha cama; e lá adiante o meu espelho, donde eu estava sentado de pernas cruzadas, sobre o meu tapete mágico!...

Hernandes Leão

Enviado por Hernandes Leão ao site brasileiro: Recanto das Letras, em 17/01/2012
Reeditado em 17/01/2012
Código do texto: T3445078

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terça-feira, janeiro 17, 2012 - 04:31

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