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A terra de ninguém

   Reconheço-o.

   Tenho quase um ódio de estimação pela frase "gostos não se discutem".

   A limitação é, com certeza, da minha parte, mas não consigo encaixar este grupo de palavras 

em muitos momentos enriquecedores da minha vida, sempre que encontrei alguém em terra de 

ninguém. 

  Durante a I guerra mundial, os soldados borrifaram-se para as ordens dos generais, e pararam 

de combater. Não foi algo que tivessem organizado. O que aconteceu foi simples: um pequeno 

grupo começou a cantar algo que todos conheciam, aos poucos, mais vozes se foram juntando 

de todos os lados em conflito. Em toda a frente ocidental as armas iam-se progressivamente 

calando.

  Homens que cantam não matam.

  Quando a canção terminou instalou-se, em centenas e centenas de quilómetros de trincheiras,

um profundo silêncio. Milhões de soldados franceses, ingleses e alemães começaram então a

sair dos seus abrigos e a caminhar em direcção ao inimigo. Durante horas entenderam-se por

gestos e risos, fumavam, bebiam e cantavam em conjunto, mostraram fotografias ou cartas da

família, trocavam a fivela do cinto pelo atacador das botas.

  Com grande esforço e promessas de castigo, os oficiais conseguiram pôr ordem naquele caos

e fazer com que cada um fosse para a sua cova.

  Nas altas esferas já havia gente roxa de suster a respiração. 

  A manhã seguinte recomeçou com aquilo que todos sabemos: a matança.

  Era a noite de natal de 1914 e a canção chamava-se "Noite Feliz".

  Alguns dirão que terá sido intervenção dívina; eu, mais simplório, mais terra a terra, gosto de

pensar que haverá poucas coisas mais importantes para discutir do que os gostos de alguém.

 

http://istodeseserhumano.blogspot.com

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sexta-feira, novembro 25, 2011 - 13:13

Prosas :

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José Sousa

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Comentários

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         Olá Sofia, boa

         Olá Sofia, boa tarde.

Sabes, ver-te reflectir é, por si só, um privilégio sem preço. Quando

tenho a sorte de ter um amontoado de palavras a merecer a atenção

de uma das tuas refleções a sensação é excepcional. Obrigado. 

Concordo contigo: que por vezes basta que um cante, que cada vez 

a uniformidade tecnocrática a que chamamos individualismo pós 

moderno torna o canto mais difícil. Mas lembro-me sempre de uma 

frase que gosto muito "pensa como um homem de acção, actua 

como um homem de pensamento". Tenhamos esperança que 

também no meio desta  "matança" haja cantos dissonantes.

Mais uma vez agradeço as tuas palavras. Um fraterno abraço para 

ti e para os teus.

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