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Tortura

Na orla da minha cama, os cabelos penteio docemente como se pudesse adiar a hora de dormir. Tudo se transforma quando os olhos se fecham e a alma, desperta, explora o subconsciente adormecido.
Estou cansada desta vontade que não só não se suprime, como ainda, me tortura...
Todos somos feitos de apetites, muitos dos quais sufocamos para que não vençam a subtil pureza que pretendemos atingir. Mas na noite, nas horas que escorrem altas, o corpo geme e a alma, atenta, escuta e traduz para os sonhos, mantendo-nos vigilantes.
Envolta na mais profunda escuridão, tinjo de vermelho todos os passos que dou. A saliva cresce na boca, tal fera que circunda, esfomeada, a presa desejada. Um sorriso desenha-se em tons de uma loucura crescente… O preço da minha indiscrição será alto, bolsa abre-se sem regatear o valor.
Ali, no centro da minha cegueira, preso a uma cadeira estás à mercê dos meus caprichos. Indefeso, despido do sarcasmo que te protege, sentidos em alerta procurando um ponto de referência. Diverte-me a inversão de cenário, pelo que, potenciando a tua insegurança, nada falo, apenas deixo que ouças o movimento de uma respiração que nos endurece…
Sento-me no teu colo, observo a gota de suor que te escorre pelo tronco, livre dos teus braços. Mordes os lábios, não sabes o que te espera, quem sou e o que quero…
Delícia! Livre estou para fazer o que quero... O que poderás tu fazer de braços amarrados?
«Sorrio.»
Os teus olhos vendados incentivam a minha audácia e a tua boca, exploro desfazendo qualquer resistência. Gostas do sabor, eu sei! «Só espero que o não reconheças.»
Ah, entusiasmo! Água cresce em mim, a cada peça de roupa removida. Os meus lábios, divertidos, procuram substituir o tecido que antes te cobria… A tua pele arrepia-se pela diferença de temperaturas, pelas dúvidas que te prendem e os desejos que te fazem ferver… Agitas-te, preso sob a minha carne, sob as minhas unhas.
Soltas um gemido, abrando a pressão. Os meus lábios têm o teu membro cativo, gostas… Escuto enquanto te degluto, estremeço ao ouvir a rouquidão da tua voz! Estás excitado, preso entre o medo e o prazer, hesitações que conheço bem.
Sorveria todo o teu fluído, se não desejasse ter-te o quanto antes «deixarei esse desejo para depois».
Hábil, de garras afiadas, escalo as tuas coxas, o teu tronco. Sinto-te tremer! Os teus pulsos latejam de uma dor que não conhece alívio. Hoje, a vontade é minha e eu farei contigo o que entender…
«Sorrio.»
Puxo-te, pelos os cabelos, a cabeça para trás, enquanto desço e envolvo-te nas minhas entranhas. Entrego-me aos doces arrepios, sinto-os por todo o corpo, agito-me frenética, em espasmos endoidecidos.
_Tortura! – Exclamas, enquanto reclamas um papel mais activo.
«Excita-me o teu protesto! Contesto-o balançando o corpo.»
A cadeira que nos sustenta, parece ceder… Também eu a quero quebrada e a besta solta! Que o feitiço se vire contra a feiticeira, enquanto o prisioneiro solto de quaisquer amarras, se entrega em delírio e reclama o poder!
Regozijo-me com tamanho prazer. A tua vontade é a minha, nada nos detém ou nos fere… Joelhos esmurrados, marcas de dentes pelo corpo, testemunhos de um apetite maior!
Os teus dedos, levarei marcados nas minhas ancas como recordação do frenesim que só cessou quando sucumbiste esgotado, adormecido sob as roupas despidas. Pudera eu, igualmente, entregar-me a tão profundo sono… Parto!
Parto, mas não antes de te enlaçar numa promessa: voltarei quando estiver cansada desta vontade que não se suprime e que me tortura... 

 

Publicado no blo "Olhar Joana" e na PEAPAZ

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quinta-feira, julho 7, 2011 - 23:13

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Ema Moura

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