CONCURSOS:

Edite o seu Livro! A corpos editora edita todos os géneros literários. Clique aqui.
Quer editar o seu livro de Poesia?  Clique aqui.
Procuram-se modelos para as nossas capas! Clique aqui.
Procuram-se atores e atrizes! Clique aqui.

 

Um cachinho daqui, outro de lá

Muitas das estórias que eu ouvi quando criança, foram contadas pelo meu avô. Muitas delas acabaram esquecidas. Por isso estou escrevendo tudo o que me lembro da minha infância, porque se eu não puder contar aos meus netos, eles lerão o que deixei para eles.
Uma das coisas que meu avô sempre fazia ao cair da tarde, era ir lá em casa tomar chimarrão com a mãe. Muitas vezes a erva-mate acabava e a mãe pedia que eu fosse ao armazém comprar. Aproveitava e já pedia mais uma porção de coisas e me dizia: tu não vais esquecer? Ao que eu retrucava: claro que não. E lá ia eu memorizando tudo o que ela havia pedido. Chegando ao armazém, sempre precisava esperar para ser atendida e continuava repetindo mentalmente os pedidos feitos pela mãe. Quando chegava a minha vez, eu trocava tudo. Pedia coisas que a mãe nem tinha me falado. Voltava para casa com uma sacola cheia de outras coisas e a mãe perguntava: Cadê a erva para teu avô fazer o chimarrão? E eu dizia: que erva? A senhora não pediu erva nenhuma. E lá ia eu novamente devolver o que tinha levado e fazer o pedido certo. O dono do mercado então me dizia: tem certeza que é isso que tua mãe pediu?
Tínhamos uma vizinha que estava sempre contando para a mãe as coisas que fazíamos. No nosso quintal, havia muitas árvores frutíferas e uma parreira que dava uvas muito doces e saborosas. Meu irmão costumava subir no muro que dividia a nossa casa com a tal vizinha. E lá ele ficava horas comendo uvas. Era um cachinho daqui, outro de lá (da vizinha). Quando ela aparecia na porta, ele corria e se escondia. E lá vinha a vizinha reclamar que o Davi ficava comendo as uvas da parreira dela. A minha mãe dizia: não é possível esse menino fazer isso. Com tanta uva aqui em casa e ele vai comer as suas uvas? E lá vinha a varinha de marmelo cantar nas pernas do arteiro. Quando o Davi via que a situação ia ficar crítica, ele desaparecia a tarde inteira. Ia lá para a casa da tia Izabel, ajudá-la com as compras do armazém. Quando voltava para casa, a mãe já havia se acalmado. Então ele dizia que estava na casa da tia (que confirmava a versão dele) e não em cima do muro, comendo as uvas.
É certo que meu irmão era muito inteligente, só que não gostava muito de escrever. Um dia a professora de português resolveu pedir aos alunos que fizessem um diário, contando tudo o que faziam durante o dia. O Davi, muito entusiasmado, começou o diário dele assim: hoje de manhã, levantei, escovei os dentes, tomei café e fui para a escola. No outro dia, ele repetia a mesma coisa. A professora então disse a ele que queria saber mais coisas, não só o que ele repetia todos os dias. Foi aí que ele se lembrou do meu diário. Um pequeno caderno com cadeado que eu havia ganhado da minha madrinha. Lá eu ia anotando tudo o que fazia. Ele então me fez mil propostas para que eu desse a chave do meu diário, para ele copiar alguma coisa. É claro que não dei e não lembro como a estória acabou.
Então a Páscoa chegou. Cada um de nós ganhou um ninho cheio de ovos e chocolates. Nessa época, éramos apenas três irmãos. Quando peguei a minha cestinha, sentei a um canto e comi tudo o que havia nela. Eu e meu irmão mais velho fizemos isso. O Davi, muito astuto, guardou a cestinha dele, para comer depois que não tivéssemos mais nada. Então, ele vinha para perto de nós com a cestinha dele cheia de chocolates e começava a comer. Como já havíamos comido o que havia nas nossas cestas, resolvemos pedir a ele que dividisse a cesta dele conosco. E ele dizia: quem mandou vocês comerem tudo de uma vez? Perguntaram se eu queria um pouco?
Acho que ele deve ter se lembrado, que eu não quis dar a chave do cadeado do meu diário. Se eu não dei a chave, ele não tinha obrigação de me dar um chocolate. Acho que era mais ou menos assim que as coisas funcionavam.

Débora Benvenuti

http://colchaderetalhos13.blogspot.com.br

Submited by

sábado, agosto 16, 2014 - 18:05

Prosas :

No votes yet

deborabenvenuti

imagem de deborabenvenuti
Offline
Título: Moderador Poesia
Última vez online: há 4 anos 43 semanas
Membro desde: 05/10/2010
Conteúdos:
Pontos: 2576

Add comment

Se logue para poder enviar comentários

other contents of deborabenvenuti

Tópico Título Respostas Views Last Postícone de ordenação Língua
Poesia/Fantasia A viagem 4 1.829 06/28/2014 - 16:23 Português
Poesia/Fantasia O Sentido das palavras 0 1.476 06/28/2014 - 16:16 Português
Poesia/Dedicado Os Farrapos 0 10.696 06/26/2014 - 23:38 Português
Poesia/Fantasia A Revoada dos Sonhos 0 1.667 06/26/2014 - 22:16 Português
Poesia/Geral O verbo Amar 1 1.070 06/26/2014 - 15:44 Português
Poesia/Amor Portal dos Sonhos 0 1.139 06/26/2014 - 01:13 Português
Prosas/Tristeza O Pensamento e a Imaginação 0 2.887 06/25/2014 - 04:16 Português
Poesia/Dedicado Avó Felicidade 2 2.532 06/25/2014 - 03:02 Português
Poesia/Amor Não se vá 6 1.671 06/25/2014 - 03:00 Português
Poesia/Amor Estocolmo,12 grados 0 2.014 06/24/2014 - 19:31 Português
Poesia/Desilusão Anoitecer gelado 0 1.644 06/24/2014 - 00:02 Português
Poesia/Dedicado Sonhos de Menino 0 2.184 06/23/2014 - 23:52 Português
Poesia/Amor O Amanhã chega depois 0 1.666 06/23/2014 - 23:40 Português
Poesia/Desilusão Amor Virtual 2 1.489 06/23/2014 - 23:26 Português
Poesia/Amor Os Lírios do Campo 0 1.063 06/23/2014 - 01:33 Português
Poesia/Desilusão Nunca mais 0 1.032 06/23/2014 - 01:12 Português
Poesia/Amor As lágrimas do mar 2 5.091 06/23/2014 - 00:25 Português
Poesia/Amor Você e Eu 2 3.956 06/23/2014 - 00:22 Português
Poesia/Amor Estranho Sentimento 2 1.430 06/21/2014 - 16:58 Português
Poesia/Erótico Te quero assim 0 2.657 06/21/2014 - 14:50 Português
Poesia/Tristeza Sentimentos 0 1.259 06/20/2014 - 16:12 Português
Poesia/Tristeza Quem sabe um dia 0 1.436 06/20/2014 - 15:59 Português
Poesia/Tristeza Noite desfigurada 0 1.292 06/19/2014 - 22:56 Português
Poesia/Tristeza Espelho da Alma 0 1.412 06/19/2014 - 22:08 Português
Poesia/Tristeza Mais uma vez é outono 4 3.068 06/19/2014 - 18:17 Português