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Uma sede crescente...

Noites quentes, maré de multidões.
Rumo sem bússola de encontro ao destino. O meu signo diz que este mês eu vou ver-te... Para que me encontres vagueio pela rua todas as noites. Nunca entro em lado nenhum, limito-me a passear, mas hoje, tenho uma sede incómoda.
Um lugar pequeno com balões de luz suspensos atraia o meu olhar, a música que parece suspirar atrai os meus ouvidos. Ali estou parada, mordendo os lábios enquanto a sede consome-me a garganta.
Dirijo-me ao balcão, peço um gin tónico forte, a sede é imensa...
Sento-me ainda com os olhos no balcão e no copo que se prepara para mim. Ao desligar o olhar da sede, deixo-o deslizar pelo ambiente. Ao voltar a atenção para o que está à minha frente recebo o copo que pedi... fecho os olhos e sinto o vapor que se forma na garganta. Ao abri-los, estás tu sentado na minha frente, olhando-me como eu te olho.
Os nossos olhares são como ganchos que se encaixam e nós estamos agarrados a uma sincronia sem igual.
Eu bebo, tu bebes.
Eu toco-me, tu tocas-te...
Eu engulo, tu engoles...
Eu levanto-me, tu levantas-te...
Eu caminho, tu caminhas...
Sinto os teus passos, o som ecoa nos meus olhos que brilham.
Abro o carro, tu entras.
Nem uma palavra proferida, um caminho traçado. Simplesmente deixamos-nos ir...
À minha frente as habitações escasseiam e dão lugar à vegetação. À direita um caminho de terra batida, depois à esquerda um arvoredo extenso. Estaciono no centro, desligo o motor.
Eu abro a porta, tu abres a porta.
Eu deslizo, tu deslizas...
Olhos nos olhos, dispensando todas as palavras.
Estamos frente a frente. Tu olhas para a porta do carro e para os assentos de trás, eu encosto-me ao motor do carro e vou subindo.
Observas os meus passos, o som ecoa nos teus olhos que brilham.
Estou deitada no tejadilho sem inveja do céu, quero-o oculto... O meu desejo é concedido à medida que te vejo chegar. O teu rosto cobre todo o campo de visão e o teu corpo cobre o meu...
O teu sorriso arranca o primeiro som da minha garganta em chamas.
O meu gemido atrai o teu.
Os nossos lábios abafam o som que produzimos e os dedos nos cabelos expressam a intensidade do que não dizemos... Os beijos que trocamos fazem arquear os corpos. O meu arqueia e abre-se, o teu cresce e fecha-se...
Sinto cada toque, cada movimento como um sopro de fogo crescente. A garganta explode num redemoinho de gemido, riso e dor. O prazer é tão intenso que doí!
Empurro-te, afasto-te, tu deslizas para o lado.
Olhos nos olhos, sorriso rasgado, garganta em chamas.
Deslizo até ao capô de corpo fechado, perdido de riso...
Tu desces e de pés no chão chamas-me para terra. Sem uma palavra, um deslizar de mãos que puxam o meu corpo para ti.
Eu deixo-me ir...
Já não sinto as costas no carro, estou no ar, estou na terra...
Estou contigo...
Contigo!
Estou em chamas e a minha sede é crescente...

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sexta-feira, abril 15, 2011 - 11:38

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Ema Moura

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