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1º Boncurso de Prosa

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1º Boncurso de Prosa

MINI CONTO

Um Grande Amor.

Se eu já vivi um grande amor? Ora, amor não tem medida; a gente não ama nem mais nem menos: a gente ama e pronto! Parece mandinga! Mas quando a gente ama, a vida é sempre linda.

Quando vi o Ironildo foi um tranco que recebi no peito. Ele chegou da Capital como pandeirista do conjunto que ia tocar no nosso clube, Flor da Sociedade de Cabrobó.

Bater com classe e ritmo um pandeiro como o Ironildo, estou pra ver. Não nasceu ainda crioulo tão elegante e maneiroso como ele. Seus dedos, compridos, de unhas caprichadas, pintadas de esmalte transparente, às vezes sumiam nas pontas das mãos, tão depressa marcavam a batucada, num repenicado apertado, rápido, coisa que só um artista como ele sabe fazer.

Quando me olhou, lá de cima do tablado, e me deu um sorriso cheio de dentes brancos eu senti uma vertigem. Ele olhou justamente quando eu estava dançando um samba de breque com o Russo Picareta – chamavam ele assim porque era louro, não tinha trabalho certo, mas vivia cheio de grana.

Mas no tempo que conheci o Ironildo não tinha nada disso dos homens irem chegando, passando a mão na gente e convidando pra isso e aquilo, não! A gente se apresentava e se tratava com muito respeito. Eu me lembro que quando o samba acabou ele entregou o pandeiro para um sócio do conjunto, tirou um lenço branco, de seda, do bolso, enxugou o rosto, o pescoço e as mãos, penteou o cabelo, arrumou a gravata amarela, ajeitou o colarinho da camisa riscada, abotoou o palitó de linho branco e, com muita classe veio se aproximando de mim.Meu coração pulava no peito! Fiquei tão nervosa que não sabia se saia do salão ou se me sentava pra ver se as pernas paravam de tremer. Eu nunca tinha visto um rapaz tão bonito e tão granfino. Gostar dele, eu não podia estar gostando. Eu nunca havia conversado com ele, não sabia quem ele era, nem de onde era! Mas aquele fogo que me queimava por dentro e me deixava com o rosto ardendo me dizia que eu estava ali, perdida de amor!

Olhei em volta pra ver se avistava o Russo Picareta, mas o danado tinha sumido, como se o capeta tivesse dado cabo dele. O salão estava cheio, todo mundo falava e ria ao mesmo tempo, mas eu me sentia sozinha, sem jeito e com medo. De que? Não sei!

Ironildo foi se achegando, num andar meio gingado e, delicadamente, me perguntou, naquela voz grossa e macia dele:
-
- Qual a sua graça?

Dei uma tossida para limpar a garganta e respondi:

- Rosângela, sua criada.

- Ah, eu logo vi que você tinha muito de flor e de anjo - ele disse sorrindo, com aquele sorriso branco de leite.

Dai saímos dançando. Enquanto o conjunto tocava um samba canção pra acalmar o ambiente, eu sentia o perfume de jasmim nas roupas de Ironildo, eu sentia o rosto dele juntinho do meu, eu sentia a sua respiração, eu sentia o gostoso da sua mão segurando a minha. Pela primeira vez eu não ligava para a música, nem para os passos, nem queria mostrar como eu dançava bem. Eu descobria que estava abraçada com um homem e estava gostando muito de estar abraçada com um homem. Eu queria que aquela dança não terminasse, tão bom que era ter o braço dele em volta da minha cintura, tão bom que era segurar o seu ombro, ver a curva do seu pescoço, sentir o cheiro da sua boca:

- Flor... Flor... Flor e anjo... - Ele me dizia, baixinho, no meu ouvido.

Às vezes ele me afastava e olhava nos meus olhos, com aqueles olhos negros e lindos dele. Olhos que falavam com tanto carinho, com tanto amor.

Não sei quantas músicas dançamos, não sei quantas palavras eu disse, não sei o que fiz para que ele não me deixasse mais, a noite toda; não sei quantas vezes ele me chamou de flor e de anjo. Não sei mesmo se fui flor e se fui anjo, mas eu me sentia assim!

Quando a festa acabou ele saiu para o jardim do clube e me trouxe um jasminzinho branco, pequenino e perfumado, botou o jasmim no meu cabelo e me disse, sorrindo:

- Pronto! Formei um lindo ramalhete!

A caminhonete do conjunto tocava a buzina, chamando por ele. Ironildo beijou meu rosto e... Partiu!

Quando a vida me castiga eu lembro que sou flor e anjo, que sou, aqui dentro, flor e anjo e deixo ela castigar.

Um amor assim pode ser “um grande amor”? Por tão pouco tempo? Sem dramas? Sem mágoas? Um amor que acorda a cada repicar de pandeiro que escuto, a cada terno branco que eu vejo, a cada jasminzinho que cheiro, não é um grande amor? Um amor que me faz sentir flor e anjo mesmo agora, aos sessenta anos, não é grande? Não foi grande? E não será para sempre grande? .

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Um Grande Amor.

Se eu já vivi um grande amor? Ora, amor não tem medida; a gente não ama nem mais nem menos: a gente ama e pronto! Parece mandinga! Mas quando a gente ama, a vida é sempre linda.

Quando vi o Ironildo foi um tranco que recebi no peito. Ele chegou da Capital como pandeirista do conjunto que ia tocar no nosso clube, Flor da Sociedade de Cabrobó.

Bater com classe e ritmo um pandeiro como o Ironildo, estou pra ver. Não nasceu ainda crioulo tão elegante e maneiroso como ele. Seus dedos, compridos, de unhas caprichadas, pintadas de esmalte transparente, às vezes sumiam nas pontas das mãos, tão depressa marcavam a batucada, num repenicado apertado, rápido, coisa que só um artista como ele sabe fazer.

Quando me olhou, lá de cima do tablado, e me deu um sorriso cheio de dentes brancos eu senti uma vertigem. Ele olhou justamente quando eu estava dançando um samba de breque com o Russo Picareta – chamavam ele assim porque era louro, não tinha trabalho certo, mas vivia cheio de grana.

Mas no tempo que conheci o Ironildo não tinha nada disso dos homens irem chegando, passando a mão na gente e convidando pra isso e aquilo, não! A gente se apresentava e se tratava com muito respeito. Eu me lembro que quando o samba acabou ele entregou o pandeiro para um sócio do conjunto, tirou um lenço branco, de seda, do bolso, enxugou o rosto, o pescoço e as mãos, penteou o cabelo, arrumou a gravata amarela, ajeitou o colarinho da camisa riscada, abotoou o palitó de linho branco e, com muita classe veio se aproximando de mim.Meu coração pulava no peito! Fiquei tão nervosa que não sabia se saia do salão ou se me sentava pra ver se as pernas paravam de tremer. Eu nunca tinha visto um rapaz tão bonito e tão granfino. Gostar dele, eu não podia estar gostando. Eu nunca havia conversado com ele, não sabia quem ele era, nem de onde era! Mas aquele fogo que me queimava por dentro e me deixava com o rosto ardendo me dizia que eu estava ali, perdida de amor!

Olhei em volta pra ver se avistava o Russo Picareta, mas o danado tinha sumido, como se o capeta tivesse dado cabo dele. O salão estava cheio, todo mundo falava e ria ao mesmo tempo, mas eu me sentia sozinha, sem jeito e com medo. De que? Não sei!

Ironildo foi se achegando, num andar meio gingado e, delicadamente, me perguntou, naquela voz grossa e macia dele:
-
- Qual a sua graça?

Dei uma tossida para limpar a garganta e respondi:

- Rosângela, sua criada.

- Ah, eu logo vi que você tinha muito de flor e de anjo - ele disse sorrindo, com aquele sorriso branco de leite.

Dai saímos dançando. Enquanto o conjunto tocava um samba canção pra acalmar o ambiente, eu sentia o perfume de jasmim nas roupas de Ironildo, eu sentia o rosto dele juntinho do meu, eu sentia a sua respiração, eu sentia o gostoso da sua mão segurando a minha. Pela primeira vez eu não ligava para a música, nem para os passos, nem queria mostrar como eu dançava bem. Eu descobria que estava abraçada com um homem e estava gostando muito de estar abraçada com um homem. Eu queria que aquela dança não terminasse, tão bom que era ter o braço dele em volta da minha cintura, tão bom que era segurar o seu ombro, ver a curva do seu pescoço, sentir o cheiro da sua boca:

- Flor... Flor... Flor e anjo... - Ele me dizia, baixinho, no meu ouvido.

Às vezes ele me afastava e olhava nos meus olhos, com aqueles olhos negros e lindos dele. Olhos que falavam com tanto carinho, com tanto amor.

Não sei quantas músicas dançamos, não sei quantas palavras eu disse, não sei o que fiz para que ele não me deixasse mais, a noite toda; não sei quantas vezes ele me chamou de flor e de anjo. Não sei mesmo se fui flor e se fui anjo, mas eu me sentia assim!

Quando a festa acabou ele saiu para o jardim do clube e me trouxe um jasminzinho branco, pequenino e perfumado, botou o jasmim no meu cabelo e me disse, sorrindo:

- Pronto! Formei um lindo ramalhete!

A caminhonete do conjunto tocava a buzina, chamando por ele. Ironildo beijou meu rosto e... Partiu!

Quando a vida me castiga eu lembro que sou flor e anjo, que sou, aqui dentro, flor e anjo e deixo ela castigar.

Um amor assim pode ser “um grande amor”? Por tão pouco tempo? Sem dramas? Sem mágoas? Um amor que acorda a cada repicar de pandeiro que escuto, a cada terno branco que eu vejo, a cada jasminzinho que cheiro, não é um grande amor? Um amor que me faz sentir flor e anjo mesmo agora, aos sessenta anos, não é grande? Não foi grande? E não será para sempre grande? .

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