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Há um poeta em mim!

Almas

Ainda me perco dentro das almas
Cristo! Que almas confusas criastes
Dentro das almas confusas
Sou alma lenta e cansada

Criastes dentro de mim
Almas confusas e cansadas
E ao colher tuas almas
Sinto-me tão desamparado

Não consigo mais olhar o céu
As almas turvas que criastes
Rouba o encanto de tua obra
Obra em mim já cansada

Cansaço! Quantos desenganos
Desenganos que tu criaste
Pichastes o céu de azul
Mais um engano para suas almas

Moleque Arteiro

O moleque arteiro
Que mora dentro de mim
Rouba minhas lindas flores
Que plantaram para mim

Foge moleque arteiro!
Pule da minha cancela
Leve as flores roubadas
A quem é de direito

Mas ao regressar, moleque
Não me traga mais o perfume
Pois dele não vivo mais
Preserve-me do ciúme

Foge, arteiro ingrato
Moleque que eu quero ter
Sempre roubando as flores
Isolando-me no meu ser

Respiremos

Respiremos! Não há mais beleza nas rosas
Respiremos! O sol não baila mais no ar
Respiremos! A lua ficou triste e vaidosa
Respiremos! O povo desistiu de pensar

Quando as rosas não se maquiavam
E a beleza com a brisa ia dançar
O sol acompanhava os movimentos
A lua o seu véu rasgava no ar

O véu da lua era a essência
Que as rosas queriam sempre roubar
Porque não sabia que tinha essência
Confusas passaram a se maquiar

Respiremos! Esperemos a verdade
Pois ela não demorará a chegar
Na forma de um vendaval insano
Pondo cada coisa em seu lugar

Inverno

Inverno! É a única estação que existe no Brasil
Por isso caros alunos, esqueça o teu professor
Primavera não resiste a coração gelado
Outono apodrece quando não se tem amor

Verão aparece para intensificar o cheiro outonol
Mas como a brisa noturna vai-se embora
Chamar este país de tropical é tolice
Coqueiro de frio se curva e chora

Na praça casais gelados se abraçam
Carecem de mostrar o “grande amor”
Mas o inverno os deixa congelados
Primavera nunca rima com amor

O mar beija a areia do inverno
E sufoca as pétalas de flor
O fruto é engolido pela areia
Esperas que disso brote amor?

Rouxinol

Vem sempre a minha janela
Lembrar-me as cantigas de amor
Trazendo em seu bico linda rosa
Banhadas do orvalho do amor

Baila lindo pássaro entre as flores
Escolhe entre as flores a mais bela
O seu vôo é o encanto da primavera
Suas penas o veludo dos amores

Quando quero amar cobre-me de penas
Perfuma meu lençol com sua flor
O seu som suave muda de ritmo
Os seus olhos viram lágrima em flor

E com a brisa noturna se despede
Prometendo voltar toda manhã
Mas seu canto pelas matas ainda soa
Celebrando a vida de quem ficou

Visões das Cores

Dar-te-ei os meus olhos para não enxergares
Dar-te-ei minhas mãos para não afagares
Dar-te-ei os meus vícios para enfim sepultá-los

Dar-te-ei os meus lírios para não cultivá-los
Dar-te-ei o meu sangue para a terra adubares
Dar-te-ei os meus sonhos para não realizá-los
Dar-te-ei os meus mares para não navegares
Dar-te-ei os meus peixes para não degustares
Dar-te-ei minha lenha para não abrasá-las

Dar-te-ei meus jardins para não passeares
Dar-te-ei os meus lagos para não afogares
Dar-te-ei os meus pães para não abarcá-los

Dar-te-ei o direito das cores visionárias
Dar-te-ei o direito das rosas apalpares
Dar-te-ei o direito das cores enxergares

Ah, como é difícil dar o que não tem a quem tem a visão das cores...

Plágio do Criador

Condeno-Te por plagiar criaturas
Por roubar nossa doçura
Por colocar na andiroba o mel

Condeno-Te por plagiar criaturas
Por fazer-nos andarilhos
Por laçar-nos como réu

Condeno-Te por plagiar criaturas
Por roubar da Jurema
O secreto licor de fel

Condeno-Te por plagiar criaturas
Por calar a Jandaia
De Iracema fiel

Condeno-Te por plagiar criaturas
Por prender na loucura
A Capitu fiel

Perdôo-te por roubar de Gabriela
A mistura cravo e canela
Que Amado jorrou no papel

Invejo-Te! Não tive talento para este plágio...
Rendeiros

Teceu Palas suas rendas
Para Aracne se humilhar
Tecerei a minha pena
Para versos te ofertar

Punirei com um castigo
Como Palas a impingiu
Tecerás o teu sorriso
Como ninguém nunca viu

Terás tua recompensa
Rendarei o teu olhar
Com fios de indulgência
Por verdades ocultar

Rendarei tua mentira
Prenderei em minha teia
E ao notar minha avaria
Verás o que nos norteia

Verás que somos rendeiros
Como Palas desejou
Somos o mundo inteiro
Desejosos de amor

Meu país

Meu país tem a revolta de um Castro Alves
A indecência de um Gregório de Matos
A sutileza para misturas indecência e Poesia

Meu país tem a terra seca de Graciliano Ramos
A corte aristocrática de José de Alencar
A sutileza para combinar a miséria com o luxo

Meu país tem a Bahia de Jorge Amado
O samba carioca de Noel Rosa
A sutileza para juntar samba e tiroteio
Meu país tem Brás Cubas de Machado de Assis
A pele negra navalhada do Lima Barreto
A sutileza para deixar o preconceito gratuito

Meu país tem a poesia de Vinícus de Moraes
O morro nobre de um Bezerra da Silva
A sutileza para varrer os desvalidos

Meu país tem cheiro de velas queimadas
De poesias rasgadas que Drummond escreveu
A sutileza para enterrar os vivos e trazer os mortos

Glórias! Só os mortos a merecem! Enterremos os vivos!

Uma como Madalena

Apedrejaste-me Senhor
Quando em mim colocastes o sangue de Madalena
Quando fizeste de meu poema
Um cântico fúnebre de amor

Apedrejaste-me Senhor
Quando esculpistes o meu corpo impuro
Quando molhastes de orvalho humano
Orvalho de homem sem amor

Apedrejaste-me Senhor
Quando me fizeste inocente
Quando me prendeste a corrente
Do dinheiro sedutor

Apedrejaste-me Senhor
Quando me deste uma vulva
Que de rosa casta e pura
Recebe o impuro licor

Apedrejaste-me Senhor
Quando me fizeste puta e mulher
Quando destruiu a fé
Desta filha, mãe e puta
Não sei se existe poesia

Abordou-me na porta da universidade
Desejava uma informação
Disse-me que seu irmão havia sido assassinado
E que o assassino era um policial

Aproximou-se como se fôssemos amigos
Nos conhecêssemos de longas datas
Falou-me que o irmão era inocente
Que caiu junto da namorada no tiroteio

Tinha jeito de gente de minha terra
Um jeito ingênuo ou ignorante como preferem alguns
Disse-me que mandaria o corpo para nossa terra
Em seguida chamou dois companheiros e se foi

Tive tempo de dizer: “meus sentimentos!”
Tive tempo de refletir sobre o acontecimento
Tive tempo para repudiar e de me constranger
Tive tempo para lembrar de um colega: envergonhei-me!

Quando temos colegas que exerce certa profissão
E aprendemos a amá-lo na convivência diária
Nos envergonhamos de associá-lo a certo acontecimento
Foi mais que vergonha: foi uma dor imediata e ilógica

Vacilei! É difícil compartilhar dos dois lados
Vacilei! É difícil compreender mos dois lados
Vacilei! É difícil não saber as verdades dos lados
Vacilei! Acreditei que estava fazendo poesia

Sentimentos adormecidos

Não, não me acordem com poesias
Não despertem sentimentos no poeta
Sentimentos não mais valorizados

Não, não me acordem com poesias
Não despertem no poeta adormecido
Sentimentos já não recomendados

Não, não me acordem com poesias
Não despertem no poeta embriagado
Sentimentos não mais sonhados

Não, não me acordem com poesias
Não despertem no poeta amordaçado
Sentimentos já não balsamados

Não, não me acordem com poesias
Não despertem no poeta flagelado
Sentimentos que já foram sepultados

Não, não me acordem com poesias
Não despertem no poeta empoeirado
Sentimentos que ficaram no passado

Borboleta

Pousa, pousa borboleta!
Não lhe darei nomes científicos
Não porei sobre tuas asas
O peso dos meus desejos

Pousa, pousa borboleta!
Chegue mais perto de mim
Não porei sobre tuas asas
O peso do estilete de cetim

Pousa, pousa borboleta!
Voe sobre a espada de marfim
Não porei sobre tuas asas
O peso de ficar presa a mim

Pousa, pousa borboleta!
Pouse se quiser ser amada
Não porei sobre tuas asas
O peso da alegria farpada

Pousa, pousa borboleta!
Pouse onde és Senhora
Não porei sobre tuas asas
O peso da bênção religiosa

A Brisa Matutina

Os véus da velha casa
Ainda voam ao sol
E a brisa matutina
Diz que ainda sou menino

E os meus véus embalam
O sonho de um selvagem
Que olha da janela na estrada
A procura dos véus do teu amor

Os olhos do selvagem são véus
As pálpebras do selvagem meu anel
E a brisa a canção de um verão
Que rasgou o véu da multidão

Magoando o olhar do meu amor
Que passou na vida sem saber
Que os véus e o buquê de flor
A brisa matutina já levou

Dona Beija

Estes teus olhos que ardem
Não são teus, são de Araxá
Tua vida não tem dono
Pertence a ressaca do mar

Nem os versos dos poetas
Não são teus versos, mulher
É a alma dos teus prantos
Que pertence a quem quiser

Desce a lama e a lama é sol
O teu brilho é a cinza de Araxá
E o teu ódio e teu mistério revelado
É a mágoa do misterioso e triste mar

Beija mais, minha cinza de Araxá
Deixa mais, tua lama me tocar
Queixa mais, neste teu belo altar
Deixa mais, tua lama me afogar

Maísa

Esta vida é o ensaio do drama
Tua vida um lençol de esmeralda
Que brilha nas notas da canção
E me faz perder na longa estrada

A procura de alguma melodia
Que venha clarear os meus dias
Das tristezas que me deixastes
Quando fostes para longe de mim

Esta vida é um parto malfadado
Que saiu da alegria das cigarras
Do cigarro que fumaste em mim

Esta vida é a alma clássica da guerra
É o filho lançado à sujeira da terra
E eu já sei que fui um aborto para ti

Pobre Aninha

Pobre Aninha! Senhora do teu homem!
Ainda busca o amor deste homem
Que um dia a desprezou

Pobre Aninha! Ainda não sente prazer!
Ainda não sabe o porquê ele a desprezou
E vive no seu mundo de mulher

Pobre Aninha! Ainda não sabe sorrir!
Ainda não sabe viver e nem partir
Não sabe e nem aprendeu dizer adeus

Pobre Aninha! Ainda não sabe chorar
Ainda não sabe a tristeza de amar
E vive isolada na sua louca ilusão...

Pobre Antônio

Pobre Antônio! Deixou-se levar pela mágoa
Não quis aceitar que a bela amada
Não pertence mais ao teu coração

Pobre Antônio! Foi pela Beija beijado
E com a marca da rosa ferido e marcado
O punhal que a feriu a ele mesmo matou

Pobre Antônio! Beijou a Beija errada
Bebeu-a pensando em teu passado
Com pureza e singelo olhos de amor

Pobre Antônio! Vai cumprir teu destino!
O sertão que o viu como eterno menino
Bebe o sangue que a Beija encomendou

Cantiga antiga

Ainda vejo com tristes olhos
Amores que nascem nas aldeias
Que crescem entre flores
E entre perfumes febris

Ainda vejo com tristes olhos
Mocinhas que se entregam
Jogadas entre pétalas ao chão
Sem pudor, livres de ilusão

Ainda vejo com tristes olhos
Mocinhos caírem no feitiço
De belas e frágeis aldeãs
Sem pudor, livres de punição

Ainda vejo com tristes olhos
Mocinho e mocinhas sorrirem
Sem saber que amor de aldeia
Não semeia um final feliz...

A Mão e a Luva

Juro-te, meu amor! Juro-te sofregamente
Que se fosse eu dono do meu coração
Não a trocaria como fiz pela outra
Que tem a mesma altivez do meu coração

Juro-te, meu amor! Juro-te este nome te dar
Até os últimos suspiros dos sonolentos dias
Que hei de gemer e chamar-te de meu amor
Mesmo tendo ao lado quem roubou-me de ti

Juro-te, meu amor! Que serão teus os meus dias
Toda minha alegria é saber que fui amado por ti
E aqui onde alegria briga com a infelicidade
Percebo toda a maldade que deixei ao partir

Juro-te, meu amor! São teus os olhos meus
Não pude deixar meu coração contigo outrora
Mas para compensar a frieza que sinto agora
Retiro os meus olhos para iluminar os teus...

A Básica Filosofia da Vida

O homem só é homem se casa
A mulher só é mulher se obedece
A mãe só é mãe se ama
O filho só é filho se respeita

O filho que não respeita vira bicho
O homem que não casa vira bicha
A mulher que não obedece serve ao bicho
A mãe que não ama é culpada pela bicha

O homem que se casa vira pai
O filho quando é bicha herda do pai
A herança que a obediente conhece
E que a mãe que amou desconhece

Não acuse o poeta de preconceito
Esta é básica filosofia da triste vida
Quem desconhece esta louca filosofia
Faz os pais de família viverem enrustidos

Tecido de Seda

Deitada sobre a esteira rústica
Pernas brancas cobertas apenas
De um leve tecido de seda
Aberta, esperando o toque das mãos

O tecido vermelho brilhando ao sol
Os olhos fervendo disputando o brilho
Com o vermelho tecido de seda
Denuncia o vestígio de uma louca paixão

Pernas brancas, seios brancos brigando
Com o leve tecido que cede indecentemente
Compactuando com os ardores dos desejos
Gemidos ardentes sufocam-se no tecido de seda

É ele que veio declarar guerra ao tecido
Ataca-o com fúria como touro na arena
E ela que era branca agora disputa com a seda
O vermelho enquanto o poeta espia e expia...

A Rua do Ouvidor

Passos longos sobre a calçada
Um personagem qualquer de Machado
Persegue um bonde que leva um amor
Um amor que talvez nunca voltará

Com passos rápidos balança sua bengala
Enquanto a mocidade ri da figura tristonha
Por que persegues se sabe que o destino
É a Rua do Ouvidor?- perguntam os curiosos

A Rua do Ouvidor é o seu destino, bem sei
Mas que armadilhas o escritor está a traçar?
Será que criará uma personagem superior
Que venha o amor dela comigo disputar?

Os personagens na Literatura brigam entre si
Qual! Alguém que venha despertar o interesse
De pesquisadores de Literatura no futuro?
Que seria de Bentinho se não fosse o corno de Capitu?

O Pé de Laranjeira

Morava no fundo do meu quintal
Verde! Mas cheio de espinhos
Não dava frutos, não me sorria
Era senhor de si e eu tão criança

Quando abandonei a velha casa
Notei na despedida, dois frutos
Tão longe de mim, longe de tudo
E hoje tão perto de minha memória

Tentei derrubá-los com uma vara
Mas desisti na esperança do mel
Que eles poriam nos meus lábios
Outros provaram da sua doçura

Quem parte não pode possuir o fruto
E só depois dos anos eu percebo
Aquele fruto era eu simplesmente
Logo, nunca provei nem me deixei provar

Esconderijo

Não me escondas olhos meus
Revele-me para meus olhos ocultos
Aqueles que disputam com os teus
O espelho que me prende e me esconde

Quebre o cristal límpido e retire o outro cristal
Que me liberta embora sujo seja
E antes que o céu relampeje
Não me esconda, olhos meus

O teu esconderijo é o relâmpago dos céus
Queima, deixa em brasas o corpo meu
Em trovões sinto minhas mãos matar-me
E a garganta sufocar os prantos meus

Oculta-me! Faz bem olhos meus
Entrego-me doce como o carneiro
Que come a erva murcha e amarga
Sorrindo ao pastor que lhe ofereceu

As Esquinas

Nascem nas esquinas os pobres anjos
Sonolentos, descrentes do seu destino
Nascem nelas e nelas sorrindo morrem
Sonolentos, creem que são bons meninos

Até a música parece lenta, sonolenta
Pouca luz que embriaga pobres anjos
As cortinas negras escondem sonhos
A fumaça é neblina quente, perfumada

Cansaram de cheirar neblina na calçada
Cheiram agora neblina nas esquinas
E tem gente fabricando lindas cortinas
Tecem as brancas para cobrir as negras

Tecem nada, nada tecem os tecelões
Suas cortinas são sempre as mesmas
Cortinas que escondem quentes neblinas
Que escondem anjos frios e pesadelos
A Ovelhinha

Cansada desce ao pequeno riacho
Dócil, sedenta, mas sorridente
Quem a vê passar bela, formosa
Inveja a beleza da ovelhinha

Ah, como é bom viver no campo
Ter a necessidade desta vidinha
De ver ovelhas e a água escutar
Fazendo coro com os passarinhos

Assim a vida sorri para o lavrador
E este com um sorriso agradece
O privilégio de aprender com a vida
Observando o pequeno serzinho

Há quem diga que sonhei com esta vida
Eu prefiro nisso não acreditar
Tenho medo de repetir outro destino
Mas, seria lindo ver a ovelhinha passar...

O Baile

A música dança com as sinhazinhas
Diante de um candelabro enfeitiçado
A luz queima as brancas faces
Tornando-as rubras de puros pecados

Os mocinhos transformam-se em música
E como o vento sopram o véu da amada
Deixando-as livres, bebendo puros pecados
Das mocinhas puras de ardentes pecados

A vida dança com o vento afetuoso
Como o mocinho dança com véu da amada
A música dança com o vento
Varrendo toda a poeira da longa estrada

Poeira que também dança nos bailas
Ferindo os olhos dos bailarinos
Que esconde os movimentos da música
Ferindo os véus das belas dançarinas

Noturno

Este meu coração noturno
Que quer roubar a luz do teu
Viaja em mundo diurno
Percebe que a escuridão sou eu

E nestes mundos escuros
Procuro a luz encontrar
Agarrando em corações puros
Vejo os meus dias findar

E no fim dos meus dias
Busco a claridade abraçar
Como cego andando por vias
Fingindo no mundo acreditar

No fim abraçarei o escuro
Noutro mundo inventarei
Um coração que seja impuro
E noturno continuarei...

Fechem os Jardins

Fechem as portas do jardim
As borboletas são pestes
Vivem zombando de mim
Porque não sou livre como elas

Pousam sobre as flores
Fingem que não estou ali
E se acaso adormeço
Jogam pétalas sobre mim

Mas quando veem o jardineiro
Bailam ao redor deste a sorrir
E se acaso me aproximo sorrindo
Voam para bem longe de mim

Fechem os jardins!
Mandem-nas para longe
As lindas borboletas
Que não ensinou-me a viver!

Faces Coradas

As faces lindas coradas
Revelam a inocência sincera
São faces puras de outrora
Cobrindo a bela face de agora

Quisera possuir esta face
Que cobre teu sorriso agora
Face de sol de inverno
Brilhando entre brancas nuvens

Tua pele protegida por pétalas
Que de vermelha traz-me um roseiral
És flor branca entre as vermelhas
Disputando um raio de sol

Não precisas disputar o sol
O seu raio foi feito para ti
Tua face pertence ao astro
Flor branca deves sorri...

Amor Antigo

O carro antigo passeia pela rua
A esperança de um tempo regressar
Ainda vejo tua imagem pelo vidro
Teu sorriso lindo evaporar no ar

A Chuvinha miúda ainda cai
Compondo uma tela inesquecível
A linda tristeza do teu olhar
Cobrindo a beleza da partida

E como pássaro lento se despede
Simulando uma beleza no sorriso
Mas a nuvem negra no teu olhar
Troveja escondendo o paraíso

O teu carro não admite passageiro
Foi feito para rasgar o véu do dia
Em cada esquina há alguém a espiar
A morte de um doce sorriso

Dona Lió

Tão lentos teus passos, querida!
Ainda te vejo andar pelas ruas
Franzina de cabeça baixa
Vítima da negligência dos filhos

Tão lentos teus passos, querida!
Que cheguei até a esperar
Que virias ao meu encontro
Correndo para me abraçar

Tão lentos teus passos, querida!
Naqueles tempos e agora
Que de te ver ainda sinto
Mesmo tendo ido embora

Tão lentos teus passos, querida!
Quantas tristezas há em ti
Tão lentos teus passos, querida!
E não consigo alcançar-te daqui

Clodovil

Calou-se toda a palavra
O véu da noite caiu
Silêncio, sorrindo ele dorme
Saudade de ti Clodovil!

O véu enegrece a cidade
Sorrisos incautos no ar
A vida pedindo passagem
A morte exibindo-se no ar

Silêncio, meninos, ele dorme
E dorme tranqüilo e feliz
Voltou ao seu tempo de criança
No colo da “mamãe”, ele partiu

Voa criança encantada
Voa deste para outro país
Deixastes a beleza nos meus olhos
Leve a beleza ao teu novo país...

Lua

A lua escondida no porão
Quantas luas se escondem de mim
Recriam flores, inventam amores
Picham corações em seu porão

Em cada canto da cidade a lua
Inventa forma para mudar de cor
Às vezes rosa, às vezes roxa
Mas sempre imaculada, lua

Sempre pura, pálida e encantada
Sempre triste, mas requisitada
Pelos amores clandestinos
Pelos amores imortais

Lua triste, fina e encantada
Sempre pronta a atender nossos pedidos
Lua triste, simples e solitária
Em seu porão numa tela colorida

Cansei

Cansei de ver os podres
Apodrecendo os sãos
Com sorrisos falsos e atitudes ignorantes
Deus! E isso em Educação!

Quantas reticências indevidas
Quanto silêncio inoportuno
Quantas vidas construídas em reticências
Quantas vidas massacradas em silêncio

Quantos quadros cobertos por desenhos
Quantos trabalhos sem justificativas
Quantos gritos no ouvido dos meus filhos
Deus! E isso em Educação!

E esta liberdade que não vem
Vejo a morte nos olhos dos meus filhos
Coitados! Não sabem o mal que os faz
Deus! E isso em Educação!

O Meu Crime

O meu crime foi dizer-te sim
Sabendo que não me amavas
O punhal que guardaste a mim
Deus! Teu olhar já denunciava

Deus! Teu olhar já denunciava
Aquilo que só percebo agora
Que teu coração é escravo
De amores fúteis, senhora!

De amores fúteis, senhora!
Que ronda o teu coração
Fantasmas, sombra do passado
Leva-te ao caminho da perdição

Leva-te ao caminho da perdição
Caminho que agora eu estou
Trago um punhal nas mãos
De frente de quem me matou

Se Um Dia...

Se um dia...um poeta reclamar de ti
Se um dia...um amor insistir em vir
Adormeça em meus braços, querida
E não ouças as armadilhas da vida

Se um dia...alguém se queixar de mim
Se um dia...alguém zombar de mim
Adormeça, esqueça as mentiras, querida
O mundo nunca gostou de mim

Se um dia...alguém disser que não mereço
Teu amor, teu sorriso e o teu apreço
É mentira, eles zombam de ti

Se um dia...eu disser que nunca te amei
Acredite, pois é assim o amor verdadeiro
Quando parte prefere acreditar em mentiras

Nada vejo agora

Nada vejo em meu mundo de agora
Não quero saber de esmolas
Se me amou há de entender
A escuridão que escolhi

A escuridão é o que me restou
Depois de ti nada mais que ela
E como é tão bom viver nela
Porque ela põe-me perto de ti

É nela que você canta e baila
É nela que você me machuca
É nela que você ri e zomba
É nela que me vingo de ti

Corte a escuridão com tua espada
Venha se resta a coragem
De sufocar quem sempre te amou
Nada, nem a morte no meu mundo de agora!

O Cravo

Sentada na sala, ela toca o cravo
A música que o músico compôs para ti
E o marido enciumado ouve a bela canção
Que o amante compôs para seu amor...

E ela toca a música do amado
Que partiu para não mais voltar
E o marido ouve sabendo da traição
Mas prefere ouvir a canção

E ouvindo sente inveja do amante
Que conseguiu descrever a esposa na canção
E ele concorda que não a ama
Pois só o músico conseguiu pintar sua alma

O velho cravo consola o traído
Que vê beleza na canção do traidor
A esposa foi feliz e isto lhe basta
Homem, elegante aceita traições...

O Tapa

Acreditas na filosofia da vida
Onde o homem deve dá a outra face?
Pois sigas o ensinamento do mestre
E verás como os homens te abraçam

O tapa dentro da filosofia nunca é tapa
Da mesma forma que o beijo nunca é beijo
Se quer saber como os homens te abraçam
Devolva-lhe o tapa que recebestes!

O tapa nunca fere dentro da filosofia do mestre
Pois se não fere levarás o meu primeiro
Não gosto de senti-lo antes que outro o sinta
Não servirei de cobaia ao mundo inteiro

Tapa é tapa! Beijo é beijo! Na minha filosofia!
Embora discorde de mim o mundo inteiro
Se quer receber o meu verdadeiro abraço
Permita-me dá o tapa primeiro, companheiro!

A Testemunha

Águas mansas cobriam meu corpo e o teu
Tu nunca estavas cansada e seguia colado
O teu peito no meu a transpirar loucamente
A paixão indecente que unia nós dois!

A natureza é a testemunha, não adianta negar
Se outro é dono do teu corpo eu fui o primeiro
A provar... teu belo corpo era meu...

Águas correntes de agora leva nosso corpo para
Fora e revela teus pecados e os meus
Na indecência do nosso olhar

É chegada a hora e a vez de mostrar àquele que fez
Nosso amor se afogar e partir na indecência da louca corrente
Deste rio indecente que insiste em jogar no mar os segredos
Que tentávamos ocultar e você se recusava lembrar...

O Lacinho de Fita

De quem será o teu laço de fita?
Se todos querem, eu quero também
O teu amor, o teu carinho, flor
Que todos querem, eu quero também

O teu lacinho de fita de quem será?
Será que é meu ou a outro caberá
A delicadeza de tocar em teus cabelos
E lentamente o lacinho desatar....

De quem será, menina, de quem será
Teu coração será meu de mais ninguém
E a pureza deste teu olhar, oh, flor
Será que a outro queres dá, oh, flor

Se me deres teu olhar juro não feri-lo
Quando em meus braços estiveres a me amar
Preservarei eternamente o lacinho de fita
Desde que jures somente me amar...

Dona Rita

A asa do pássaro vai levar teus sonhos por aí
E da janela os teus olhos a sorri
Relampejam as verdades do teu coração
Acompanhando o vôo do bem-te-vi!

A vida é um campo e um véu de puras águas
E os teus sonhos a semente de muitas fadas
Que tecem flores para lançar num vendaval
Que cantam os versos dos belos pardais

A fina luz que nos teus olhos pula e dança
Tece montanhas contornadas de esperança
Rasgam as nuvens encantadas pelos véus
Que o pintor lançou na tela com o pincel

Entre cortinas pintadas sobre as nuvens
A tua imagem ressurge de um passado
Para tornar os teus sonhos mais dourados
E resvalar na vida os brancos véus!

A Barba

Não devia ter deixado a barba
Ela me deixa velho
Que bobagem!
O que me deixa velho é a mágoa retraída

Mesmo assim...abarba!
Ela me lembra cílios fechados
Lágrimas pingadas
Na áspera esteira de palha

Sim...vivo à sombra da barba
Ela me lembra mãos calejadas
Cabelos maltratados
Pela poeira das estradas

Não...não culpo a barba
Culpo-me por ter virado espectro
Por me esconder em cesto de palhas
É! Ela me lembra carnaúba molhada

A barba faz o homem severo
Às vezes o transforma em mendigo
Um pobre, um mártir, um ditador
Carente de afeto e amor

Sim...temo a longa barba
Sei que posso ficar preso a ela
Ela me lembra quadros antigos
Senhor! Estou virando senhor

A rosa e o colibri

Uns me chamam beija-flor
Outros me chamam colibri
Vivo de beijar as rosas
De suas pétalas esculpir

Sou colibri ou beija-flor
Sou beija-flor ou colibri
Sou o néctar da flor
Sou o primo de bem-te-vi

Uns me usam em poesias
Outros nas artes plásticas
Sou os sonhos dos artistas
Sou o poema das amadas

Tenho belas penas de seda
Cintilantes tal luz do sol
Sou o pássaro mais brilhante
Sou a lua, os raios do paiol

Sou como a fruta acariciada
Pelas mãos dos agricultores
Sou o melão da terra arada
Sou da terra, sou do amor

Junte-me beleza da rosa
Coloque-nos em seu poema
Projete-nos em aquarelas
Em sulfite, grafite ou renda

Miragem

Pensara Tom Jobim ver a miragem
Surgir das águas de Ipanema
Pensara Aleijadinho ver a imagem
Surgir nos altares de Minas

Pensara Tom Jobim compor canção
À tez branca porque não viu a morena
Pensara Aleijadinho fazer com a mão
A escultura perfeita da deusa Vênus

Pensara Tom Jobim tocar piano
Sem saber donde vinha inspiração
Pensara Aleijadinho tocar o barro
Manipular da imagem o coração

Pensara Tom Jobim ser carioca
Sem saber que a alma era grega
Pensara Aleijadinho ser limitado
A perna limitava a alma meiga

Pensara Tom Jobim tirar o véu
Que cobria o rosto de Ipanema
Pensara Aleijadinho ser o réu
Das imagens restara o dilema

Pensara Tom Jobim a poesia
Lamenta, pois não a conheceu
Pensara Aleijadinho o poema
Lamenta, o barro não envelheceu

Na corda bamba (cantiga de escário)

Aquele meu colega que tem fama de machão
Gosta mesmo é de cenoura detrás do seu calção
É todo ele uma farsa, uma louca enganação
Gosta de pegar na vara, de ver o minhocão

Costuma dizer-se hétero, luxo de bonachão
Mas vê-se que se estremece ao ver o mandiocão
Quem já levou a vara, deixou-se o facão
Quer voltar ao que era, vive esta doce ilusão

Disse-me que era espada, o que já desconfiava
Pois corta dos dois lados, gosta da pedra lascada
Merece o que a vaca recebe do boiadeiro sensato
Ferro no lobo, na boca, no umbigo e no rabo

A perna está sempre aberta esperando algo entrar
Porém só há um colega que ele sonha entregar
Mas desta carne eu não como, procure outro pra dar
Ao ver o tamanho da vara você poderá se assustar

Não use a sua espada, não queira comigo guerriar
Pois a minha espada sobe, a sua vive a oscilar
Beba na fonte de Freud para enfim se encontrar
Enquanto pensares na vara, não poderei te ajudar

Procure quem entenda de vara, ferro ou mandiocão
Pare de andar de quatro, sai desta triste posição
Pois se quiser minha vara darei esta triste informação
Sairás de guerra aleijado; orifício em péssima situação

Nasceu a flor do sorriso

Nasceu a flor do sorriso
De planta desconhecida
Nasceu a flor que Narciso
Recusara em sua vida

Que a água não mostrou
Que os deuses proibiram
O sorriso Narciso ocultou
Virou flor e todos viram

Prendeu Eco na colina

Fez soar a tua voz
Como o tilintar do sino
A flor virou algoz

Nasceu flor sem espinho
Fez Narciso renascer
Com pétalas de linho
Brilha ao amanhecer

Nem a fênix eternizada
Conseguiu convencer
Que a flor imaculada
É a flor que me faz viver

És flor do meu sorriso
És flor do meu quintal
És semente de Narciso
Fina flor num lamaçal

Nordestino

A ti meu senhor eu confesso
Não foi esta vida que eu quis
Fizeram-me anjo sem teto
Cidadão comum deste país

Fizeram-me anjo sem asa
Executor de cal e cimento
Fizeram-me anjo sem casa
Suporto a chuva e o vento

Minha mão está rachada
Como a terra do sertão
Minha vida, triste toada
Galope do triste alazão

A vida é todo sofrimento
Para quem é migrante
Come pão sem fermento
Sorri, faz-se de gigante

Desbanca o preconceito
Luta para virar doutor
E quando torna ao leito
Duvida do que sonhou

Queria pouco da vida
Agora cobiça o céu
Lembra sua partida
Letras soltas no papel

Ainda me resta saudade

Falemos de coisas passadas
Falemos de coisas vazias
Troquemos ilusões rimadas
Troquemos nossas fantasias

Troquemos amores sonhados
Troquemos amores sombrios
Falemos de sonhos roubados
Falemos das águas dos rios

Falemos de nossas enchentes
Falemos de nossa subversão
Troquemos palavras coerentes
Troquemos nossa ingratidão

Falemos de cidades inundadas
Falemos de amores submersos
Troquemos palavras rimadas
Troquemos beleza dos versos

Troquemos a saudade que resta
Troquemos nossa doce solidão
Falemos de lembrança da festa
Falemos dos vestidos no salão

Falemos do velho Ary Barroso
Falemos da moça e do rapaz
Troquemos Brasil choroso
Troquemos a guerra pela paz

Peguei-me

Peguei-me falando de amor
Cruzando as poesias
Que ninguém assinou

Peguei-me falando de amor
Erguendo uma taça
Que ninguém levantou

Peguei-me falando de amor
Colhendo flores
Que ninguém cultivou

Peguei-me falando de amor
Dobrando os lençóis
Que ninguém embrulhou

Peguei-me falando de amor
Lavando o corpo
Que ninguém tocou

Peguei-me falando de amor
Buscando o rosto
Que me enfeitiçou

Peguei-me sofrendo de amor
Quebrando o espelho
Que me enganou

Epitáfio

Continuo imóvel como sempre fui
Continuo aflito como sempre fui
Continuo triste como sempre fui

Continuo leigo como sempre fui
Continuo pobre como sempre fui
Continuo verme como sempre fui

Continuo mudo como sempre fui
Continuo surdo como sempre fui
Continuo cego como sempre fui

Continuo leve como sempre fui
Continuo bobo como sempre fui
Continuo puro como sempre fui

Continuo amigo como sempre fui
Continuo irmão como sempre fui
Continuo filho como sempre fui

Continuo digno como sempre fui
Continuo honrado como sempre fui
Continuo sonhador como sempre fui

Continuo aqui. Continuo aí. Não fui.

Aqui Jaz a alma que sempre fui...
...E quem poderá negar?

Sou ator

Sou ator! Sou aquele que mendiga o sorriso
Sou ator! Sou aquele que liberta o oprimido
Sou ator! Sou aquele que partiu do paraíso

Sou a praça! Acolho os fracos e excluídos
Sou a praça! Acolho os amores impossíveis
Sou a praça! Acolho a lua e os astros caídos

Sou o palco! Sou pai dos textos proibidos
Sou o palco! Sou cinzas da inquisição
Sou o palco! Sou carícia nos rostos inibidos

Sou cortina! Recuso-me a ficar fechada
Sou cortina! Recuso-me a ficar apática
Sou cortina! Recuso-me a ficar calada

Sou a luz! Ilumino as mentes solitárias
Sou a luz! Ilumino as trevas dos incautos
Sou a luz! Ilumino as guerras libertárias

Sou ator! Recomeço do que foi proibido
Sou ator! Levanto os palcos caídos
Sou ator! Luto para não ser esquecido

Os pombinhos

Vi um casal de pombinhos sobre os trilhos do metrô
Quis saber de sua história, a pombinha me contou
Disse-me que fora vítima de uma louca armação
De uma querida amiga a quem tem gratidão
Disse-me que tal amiga conhecia um pombinho
Que parecia com a pomba, dava um belo casalzinho
A amiga muito esperta convenceu a pombinha
Ir ao encontro marcado conhecer o tal pombinho
Nem a pomba nem o pombo de nada desconfiava
Caíra na armadilha da amiga danada
O amor à primeira vista parecia não existir
Achara a pomba antipática, o pombinho quis resistir
Quis os pombos soltar penas mas a força d do destino resolveu este dilema
Agora os pombinhos vivem num love só
E o final deste novelo só quem conhece é vovó
Porém eu desconfio do final desta história
Os pombinhos apaixonados viverão no pombal
Cercados de filhinhos num magnífico galho de pau
E como sei a Língua dos pombos terminarei esta história
Pois a pombinha sapeca prometeu trazer o pombo à escola.
É...nem só de pombos vive o poeta!

Meus poemas

Não criei poemas para agradá-los
Não espere encontrar modelos consagrados
Não respeito versos, não respeito rimas
A minha escrita é como texto clandestino

Não tendo autor certo, não importa acertar
Joga-os ao vento e espera alguém aceitar
Há sempre quem aceita o que vem do coração
Para os intelectuais minha fingida lamentação

Sigo o que a mente sopra e obriga-me escrever
Se não tem talento artístico, lamento amigo
O jeito de entender o que é arte depende de você
Não jogue esta jaca nos meus ombros

Não queira entender o que é jaca e qual sua função
Quem rejeita o poema jamais entenderá tal significação
O poema é estranho como são os artistas e poetas
Entende-se por jaca aquilo que assim quiseres

Os meus poemas são reflexos desta sociedade
De pessoas sem nexos, onde não há mais sentido criar
Ninguém entende mais os textos trabalhados
Que diferença faz trocar jaca por graviola?

E você que não entende de jaca vai entender de graviola?
Jogue fora os nexos meu rapaz, minha moça ou criança
O mundo está sem nexos, totalmente fora dos eixos
Até o poeta deu agora para falar de jaca e graviola...

Os humildes

A quem busca a humildade
Devo-lhe minha rejeição
Pois o que pensa ser humilde
É tolo, incauto e beberrão

Humildade é para tolo
Que não sabe ler o mundo
Quem cultiva a humildade
Acaba virando vagabundo

Cai na grande esperança arapuca
Dos líderes deste país
Que provoca muvuca
Pra controlar nosso nariz

Faz-se de tolo no congresso
Apropria de vossa humildade
Enquanto vivem em recesso
Perdemos nossa liberdade

Humildade é ser capacho
É lamber o chão e a privada
É ter que fazer despacho
Para nossa própria camada

Humilde não para quem quer
É para quem sabe ser ladrão
Que é popular quando quer
Populista quando ganha eleição

Desmotivo

Eu canto porque o instante existe
Canto porque sou triste e ensano
Canto porque meus instantes são pícaros
E a canção afasta-me da insensatez

Se Cecília era feliz com seus instantes
Busco uma Cecília que me complete
Que rompa o véu que me esconde
E edifique-me em horas incertas

Ainda não sou poeta; fico com o triste
Sou triste; o amor não me fez poeta
Não sei falar de sentimentos amorosos
Logo, não sou um verdadeiro poeta

Desmorono mais que edifício; estou falido
Falido de instantes, de inspirações
O meu mundo está turco e pichado
Não tenho dúvida: não fico, não passo!

Também sou como a poetisa Cecília
Sei que canto, mas não sei o que canto
Para ela a canção tem asas ritmadas
Para mim, falta-me asas para ritmá-la

Ainda não estou mudo e não ficarei
Recuso-me a aceitar que perdi as asas
Recuso-me a ouvir minhas certezas
Recuso-me a ser pássaro inválido

Dom Casmurro

Há um Bentinho em mim
Que afasta de tua realidade
Que me faz entregar a ti
E depois repudiá-la

Há um Bentinho em mim
Quer me faz sentir repudiado
Que me faz entender a ti
E depois me sentir culpado

Há várias Capitus em ti
Que me embala
Em sonhos alucinados
E me mostra a realidade
Há um Bentinho em nós
Que nos faz reconhecer
Os sentimentos escondidos
O lustre do anoitecer

Há uma Capitu em nós
Que zomba do sentimento
Afasta-nos; corrompe-nos
Fecha o romance sem lamento

O rosto

O rosto que me persegue
Não é o mesmo rosto
Que vejo em minha cama
Não é da mulher que amo

O rosto que persegue
Não vive em meu lençol
Não toca em minha face
Não beija o coração

O rosto que me persegue
Não vive em meu espelho
Não tem a minha barba
Não aceita meu conselho

O rosto que me persegue
Não sabe nada de mim
Não tem o cravo rosado
Não entende nada de mim

O rosto que me persegue
É o rosto que não busquei
É a rosa dúbia e listrada
As listras que eu desejei

Cantiga de amigo

Sigo a procissão amiga minha
Pedindo proteção para meu amigo
Que mesmo longe o trago comigo

Aos Santos peço clemência
Rezarei por meu belo amigo
Que mesmo longe o trago comigo

Pedindo proteção para meu amigo
Lembro do semblante querido
Que mesmo longe o trago comigo

Rezarei por meu belo amigo
E lembrarei sempre do sorriso
Que mesmo longe o trago comigo

O cinema e o mundo

No princípio criou o homem a câmera
E viu que isto era bom
Percebeu que com ela poderia vislumbrar o mundo
E mostrar o mundo ao mundo

Percebeu que ela representava o olhar de Deus
Sobre o mundo
E que embora este mundo fosse imenso
Diante dela se tornaria minúsculo

E o mundo aceitou a câmera
E a câmera compreendeu o mundo
E este mundo emprestou suas mazelas
E a câmera transformou as mazelas do mundo

Mas o mundo não é só magia
A magia não é essência do mundo
E no mundo que não existe essência
Perambula quem tem olhar fecundo

Liberdade interior

Sinto falta da liberdade do olhar
Sinto falta do olhar de homem
Do olhar de Homem do meu pai

Sinto falta da liberdade no olhar
Da liberdade de Fátima cantarolando
Enquanto molhava as plantas na varanda

Sinto falta da liberdade sem olhar
O passado ainda vive na lembrança
Liberdade! Ah, meus tempos de criança!

Liberdade das águas de São Francisco
Do iote, de minha mãe a labutar
Da velha negra ensinado-me a ser Homem

Sinto falta da canoa rasgando o rio
Dos pés na areia, do silêncio do lugar
Ah, interior! Liberdade é poder estar lá!

As universidades

Construções! Nada mais.
Ainda me pergunto para que serve estas construções
Certamente para criarem tolos
Para fazer-nos profissionais do diploma rasgado

Ata-nos a idéia de que somos pesquisadores
Que não estamos mais no ensino decadente
E o que vemos? Uma continuação da escola pública
Somos pupilos de professores inábeis e manipuláveis

O que me corrói é ver jovens aceitando o sistema
As construções abrigam pupilos da ignorância
Que privilegia a nota ao conhecimento
Vivemos numa escola de parvos, seres imbecilizados

Sobra-me o descaso e a tristeza da convivência
Aceito-os como amigos e tem o meu carinho
Mas não os aceito como profissionais
Apavora-me a idéia de travar diálogos

Apavora-me a idéia de ficar inábil e parvo
De não ver na minha vida nada ser acrescentado
De perder o meu tempo na construção esquecendo
Esquecendo o que aprendi na solidão das leituras

Construções! Nada mais.
Construções de mestres cansados e parvos
De parvos e cansados mestres
Construções de pupilos imbecilizados e apáticos

Nada sobrará

Nada sobrará da tua vida
Os homens que passaram em sua cama
Não souberam te dar prazer
E você tola se entregou a todos

Nada sobrará da tua vida
Você jamais encontrará o que procura
O seu homem é como todos
E todos são como o seu homem

Nada sobrará da tua vida
Você ainda é casta embora desconheça
Você é como todas
E todas são como você

Nada sobrará da tua vida
Você é um pedaço do nada
Você é o próprio nada
E o nada é próprio de você

Nada sobrará da tua vida
Você desconhece as barreiras
Você é a própria barreira
Mas a barreira não é própria de você

Nada sobrará da tua vida
Você ultrapassa os limites
Você é o próprio limite
E o meu limite é você

O meu diário

Não possuo diário
Não escrevo o que sinto
Prefiro abrir ao povo
O mal que você me fez

Prefiro vomitar as mágoas
Prefiro cortar com espadas
O laço que me fez escravo
Do sarcástico diário seu

Não sou de usar canetas
Mas sei ferir com a palavra
Prefiro esconder a espada
Feri-la com os versos meus

Não sou de guardar tirania
Persigo-te noite e dia
Escureço tua visão
Para não olhares a outro

Não permitirei que rias de mim
Que releia o seu diário
Que me pintes assim:
Um amor do passado que teve fim

Não possuo diário
Mas já li o que você me escreveu
Falando do nosso passado
Como se eu fosse um brinquedo seu

Valei-me

Valei-me virgem santíssima
Mãe do imaculado Jesus
Que viste seu filho dar a vida
Pregado em tão dura cruz

Rogai diante ao seu filho
Para não me deixares aqui
Sem rumo, sem motivo de vida
Sem ter alegria e amor

Oh, mãe que sofreste o escárnio
Que muitos sopraram ao seu filho
Não permitas que outros me façam
A cilada que fizeste ao cordeiro

Imaculada e sempre piedosa
Livra-me do escárnio do mundo
Lembre-se do seu filho adorado
Em seu pesadelo profundo

Lembre-se também do vento
Que soprou naquela colina
Afastai da minha vida
Toda maldade do mundo

A ti minha Virgem Maria
Mãe dócil e protetora
Peço-lhe que rogue ao seu filho
O meu direito sobre minha vida

Decadência da Cadência

Proíbo-te de fazer poesias
De andar pelo cais
De soltar os veleiros ancorados

Proíbo-te de fazer poesias
De viver nos ateliês
De roubar amores pintados

Proíbo-te de fazer poesias
De roubar as asas dos pássaros
De infiltrar no arco-íris cores imaginárias
Proíbo-te de fazer poesias
De abrir o meu peito cansado
De revelar a dor ocultada

Proíbo-te de fazer poesias
De ser melhor que minha raça
De dar cadência à arte

Proíbo-te de fazer poesias
De ser mulher Meireles
De ser poetisa Machado

Proíbo-te! Proíbo-te!
De tirar a decadência da poesia
De salvar a cadência das palavras

As Teclas

Nada além das teclas do computador
Olho-as e não vejo o grito da poesia
Percebo que ela se recusa a nascer
Diante dos olhos paralisados do poeta

Tecla após tecla intensifica a recusa
Gemo, imploro, choro, desespero-me
Por um grito, um gemido do nascer
De uma nova rima, que me faça renascer

Teclas duras, mudas, muda o destino
Faz-nos desejar a poesia insana
Violentar as teclas do computador
Fazer abortar a poesia indecente

Fracasso-me nas trêmulas teclas
Dedos grudados implorando o céu
E nem a lua me é emprestada
Tic-tac-tac-tac aul aul tac-tic-tic-tic

A Foto

O céu amarelado na fotografia
Fica mais feio que tuas rugas
Que parecem ondas no papel
Cortando nuvens como raios

Teus olhos não soltam raios
São passivos, brancos, parados
Tão parados quanto o teu céu
Que enfeia a foto na parede

Ao teu lado um homem triste
Tão triste como o teu céu
Preso a ti por decisão tua
Escravo de ti por fraqueza

A olhar outro homem triste
Menos triste que o teu céu
Solto de ti por decisão tua
Escravo de ti por covardia

Velho Chico

Ele escorre pelas peles morenas
E nas montanhas molha o pé da pequena
Da rapariga que todos querem amar

Ele dança com todas as meninas
Sabe cantar com pássaros e fazer rimas
E debochar de quem o quer matar

Baila com peixes e dança ao sol
Prende-se as redes sem evitar o anzol
E molha a terra infértil ao sorrir

De Velho Chico ele é chamado
E é o mais gentil e belo namorado
Sabe morrer por amor aos teus...

Guias de Luz

O meu semblante suave denuncia
Que Guias de Luz estão junto a mim
Toda aquela agonia hoje cheira jasmim

Os meus Guias de Luz suavizam a face
Faz um lago doce correr dentro de mim
E um lindo peixinho dourado me sorri

Neste meu lago sereno brotam flores
Copos-de-leite em forma de cristal
Abrigando meu suave rosto imortal

Minha angústia virou pequenas pedras
No fundo do lago abrigam verdes algas
Que brilham nos meus olhos de esmeraldas

Serenamente, mergulho no meu lago
E nos meus olhos vejo os olhos de Deus
Que me abriga puramente nos braços Teus

RG

Olho para a mesinha e vejo o RG
Tantos dados que me puseram
Tantos sentimentos me impuseram
E eu sou só um polegar apagado

Embaixo o nome dado por minha irmã
E eu o confirmo com minha assinatura
Mesmo sem saber se sou este ou aquele
É, o polegar vale mais que a assinatura

Viro o outro lado e vejo o malfadado 24
Somo os números e acho o número seis
Vênus na cabeça: deusa do amor e vingança
Bênção pai, bênção mãe, sou canceriano

Abaixo um Tal de Carlos Antônio G. Sequeira
Gente importante, delegado, mas não por isso
É importante porque valida minha identidade
Esta identidade que tanto evito e desconheço

A Boa Escrava

Reconhecer-te como boa escrava
É prender-te dentro de mim
Fazendo-me de mau senhor
Roubando a liberdade de ti

Se aos teus olhos pareço escravo
Como reconhecer-me como teu senhor?
Se aos olhos de tantos pareço escravo
Daquela que não me escravizou

Do meu Quilombo ouves meu grito
Deste Quilombo que ainda é teu
Quando gozares da liberdade permitida
Quando tocares nos lábios meus

Minhas mãos brancas já pretas são
Desde o dia em que me tocaste
E por recusares os meus afagos
Escravo estou em plena liberdade

Espero o Mar

Espero as ondas do mar
É ele que me faz sonhar
Achar que você vem, amor
Segurar em minhas mãos

Espero, não cansarei de esperar
Que ele venha um dia me dar
Aquela que um dia amei
E partiu em tuas ondas

Eu ando solitário na areia
E ainda guardo na veia
Os mistérios de um coração
Que partiu sem sorrir

Ainda guardo o sorriso não dado
E os abraços negados ficaram
Perdidos para sempre no mar
Triste mar...triste mar...triste amor...

Cavalo de Raça

Sim, sou cavalo de raça
Não aceito esta farsa
Cavaleiro sem graça
Não monta em mim

Sim, meu cabresto é de ouro
Minhas patas um tesouro
Que em ti vai pisar
E na terra esmagar

Não desconheço o meu dono
Sou fruto do abandono
Minha espora fatal
Vai teu peito furar

Sim, lavo a terra com sangue
E escrevo na areia meu nome
Dourado, sagrado, imortal
Não queira comigo brincar

Juliana Fumando

Um banquinho no meio da roseira
Ao lado de uma pitangueira
Ou quem sabe de um pé de acerola
Sempre confundi as duas frutas

O que eu nunca confundi foi Juliana
Sentada, olhar intrigante fumando
Eu sempre correndo risco de ser morto
Pela fumaça branca do cigarro

Mas se nem as roseiras reclamavam
E a pitangueira imitava o seu gesto
Sorrindo entre as rosas do jardim
Que minha reclamação virou poema

Que inveja dos grandes pintores
Esta cena daria uma linda tela
Há quem diga que a tela é eterna
E a poesia? A poesia sou eu e Juliana

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sexta-feira, janeiro 8, 2010 - 21:53

Ministério da Poesia :

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