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O Bardo

- "Sentiu saudades de mim?
- Do seu dinheiro!
- Ótimo. Detesto prostitutas com sentimentos."

Filme: O Libertino
 

Quem sou eu?

As
amazonas
disputam
 minhas
cromossomas,
no cio das Aldravias.
Fábulas...
Fábulas no divã com o xamã:
Dentes tremem; dos lábios
ressequidos são proferidas
a sagrada glossolalia.
Fui dama de honra
no casamento das palavras.

Cantei cantigas,
enquanto, em ré maior,
para mim, as Valquírias
tocavam suas liras.
Sou o sangue na medula;
a costela e a clavícula.
A verdade dissoluta.
O coagulo e a fratura.
O sêmen dentro da puta.
A rameira e a frígida.

Nove manhãs embrumadas,
enforcado com colar
de runas.
Sou mão que empunha
a pluma, cujo os dedos cadavéricos
foram ungidos por coxas úmidas.
O deus obsoleto;
o gramofone e a manivela.
Os sonetos que faziam
as donzelas abrirem as pernas.

Já descobriram quem sou?

Sou o visco, que por ser
considerado inofensivo
assassinei Baldur.
Excomunguei santos
e canonizei ímpios, um por um.
Cometi erros crassos,
comemorei vitórias de Pirro.
Fui eu quem amaldiçoou
o Adão bíblico,
porque este só fitava
o próprio umbigo.

Era a coceira fantasma
no braço amputado de Tyr,
os caninos afiados e o hálito ácido de Fenrir.
O corvo mordiscando o olho baço
sacrificado por Odin,
no qual, o tapa olho não ocultava
a mácula na testa de Caim.
Filho bastardo da Súcubo.
Discípulo de Merlim.

Ainda estão em dúvida?

Sou o olhar petrificante da Medusa;
A cabeça em decomposição
de Orpheus, que a deriva,
ainda incita poesia viva.
Era os mistérios embaixo
das batinas do clero.
As cartas não seladas de Caminha.
Vidas secas, Vida e morte severina.
Era o Bacchus, dissimulado em Lusíadas,
tinha vinho no meu sangue
e um nó de tripas.
O leopardo sem pintas;
E o corrimento nas calcinhas
sedosas das rainhas.

O sátiro que deixou
verbos entalhados
por entre as nádegas do império.
O padrasto, ranzinza e velho
que tratava à mão de ferro
o folclore moderno.
A perversão em forma de cantiga,
O sadismo fantasiado de beleza,
a língua purulenta, lambendo feridas.

Apresento-me,
como Crowley e o livro da lei.
Como herói assassinado por cosplay.
Mártir perdido e frívolo,
desafiando as leis de Newton;
Com os calcanhares mordidos,
Tal como O Louco do Tarot.
Um misto de Neil Gaiman,
Grant Morrison e Alan Moore.
De espírito entorpecido, pouco
coeso, que recitava à esmo:
Ó, escritor, escreve-te
para ti mesmo!

Sou as taças,
que em brinde batem;
a máxima pronunciada por Oscar Wilde:
"Por você, eu beberia até se fosse vinagre!"
Sou simplesmente o bardo:
bafo de bile, ensandecido, riso parco.
Boêmio em bordéis baratos.
Enciclopédia revisada do pecado.
Sou a biografia não-autorizada do orgasmo:
coito, morte, vida e obra,
escritos em redondilhas tortas.

Bruno Sanctus.

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sexta-feira, agosto 2, 2013 - 23:09

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