Limpando o interior

Hoje em dia dá-se muita importância a ter-se uma casa arrumada, os móveis brilhantes, o chão impecavelmente varrido, os bens dispostos com elegância e numa organização perfeita. Não é difícil manter o lar nestas condições, se nos dedicarmos a isso. Contudo, com o que vai dentro de nós, nos nossos corações, o processo não é idêntico. Podemos tentar consertar o fado a custo, extrair algo que nos está a magoar ou a pesar desnecessariamente e mesmo assim não sai nada. Continua tudo um caos completo. Na angústia dos milhares de pensamentos que me deixam baralhada, doente, sem saber o que fazer da vida, procuro descortinar um caminho no meio da minha solidão que me guie aonde eu quero estar. São tantas as coisas que me rodeiam e me fazem sofrer, coisas simples desde o barulho do vizinho que me acorda a meio da noite, a um desespero real pulsando dentro de mim, lembrando-me de tudo aquilo que falhou, que ficou incabado ou que nunca cheguei a ter na minha vida. Há tantas coisas que tentam corromper os meus pensamentos, roubar o meu ânimo e afundar-me nas malhas compridas do pessimismo… Houve portas que se fecharam clamorosamente e me encheram de surpresa e choque, que me fizeram ter consciência dos meus limites e impotência para fazer mais e melhor. Mas, em cada queda há a possibilidade de me reerguer, cerrar os punhos e voltar a tentar. Se pensei que não vale a pena porque já fiz o suficiente, provavelmente estou enganada. Procurar por oportunidades é como atirar barro a uma parede, quanto mais se atira, mais hipóteses há de algum ficar colado. De modo análogo, quanto mais se dá mais se poderá vir a receber, sobretudo se a nossa generosidade for absolutamente altruísta. Da minha experiência, as reviravoltas da vida ensinaram-me que raras vezes se tem exactamente o que se espera. Pode ser pior ou até melhor mas nunca é exactamente igual ao que se imagina. E ainda bem que é assim, o mistério é o que nos mantém activos e com energia, tentando estar preparados para todas as eventualidades. Viso apenas a possibilidade de viver, com esperança e liberdade, sem que o ar me asfixie, os corredores se estreitem à minha passagem ou o céu me ameace cair em cima. Entre tantas calamidades no mundo, atrocidades contra a natureza, animais e outros seres humanos, julgo encontrar a solução para tantos problemas nos valores que me foram incutidos na infância. A paz para nunca querer atirar pedras, quando somos sempre susceptíveis de também as merecermos sobre nós. A tolerância para, tal como a obra de John Locke defende, percebermos que questões de foro pessoal como a fé e a religião não devem ser postas em praça pública como alvo de discriminação ou padrão de superioridade. E por último, o amor imenso por este mundo, que caso a vida não me abandone tão cedo, planeio tentar conhecer, acolher e melhorar, com cada batida do meu coração, até que a linha do tempo se quebre e eu flutue para fora dele, em direcção a outro sempre. Compreensão e muito carinho, creio serem essas as duas bases essenciais para cada ser humano conseguir efectuar, a cada dia que passa, a sua limpeza interior.

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Domingo, Mayo 24, 2009 - 00:11

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Paulagouveia

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Re: Limpando o interior

Somente uma alma limpa, sã, poderá usufruir na totalidade desta benção que nos é oferecida. Quando não o é, o tempo é um caos sem sentido, pois a razão estará obstruida de lixo.
AdoreiBjo

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