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Flores de abril
-Flores de Abril! E foi assim que “O caçador de bailarinas” exclamou para um seu amigo, “O corvo” de assas de borboleta.
O dia estava enegrecido, uma névoa poeirenta e densa abicava aquele santuário derradeiro, que horas parecia um bosque, oras parecia uma floresta, oras uma montanha, mas que no fim não passava de um espaço humanamente modificado pelos arranha-céus das sepulturas derradeiras.
- Abril! Flores de abril, meu caro amigo, disse o Caçador.
- Que há de tão mal nelas! São somente flores? Não?? Exclamou o corvo a buscar entendê-lo.
- Não são! Elas são convidativas à morte. Não vês? Observa-te as filhas de Julinha ali no canto!
- Percebo-as! E o que há de tão belo nelas? Ocupam aquele lugar enegrecido ao pé da lápide! Não vês que já se confundem? Elas, a velhice e o fim?
- Não percebo o que vês! E mesmo que o quisesse, mal o perceberia, pois, teus pensamentos são incapazes de fi-lo a mim sendo de ti.
- De fato! Percebemos nós, que as verdades não passam de interpretações.
- Não vês, amigo corvo! Apenas as borboletas de tarjas vermelhas as cultuam. E são elas, as filhas de Julinha, as únicas a contemplarem os túmulos.
- Vejo-as lá, sim! E o que têm isso a ver com as flores de abril?
- Observe-as, as filhas de Julinha! São belas, mas tristes. Como pode haver tanta beleza em tanta tristeza.
- Podem ser os túmulos! Amigo caçador.
- Ou as cores!
- Que cores?
- Não vês?
- Não!
- Por quê?
- Sou daltônico!
Moral da história: A unicidade de cada sentimento jamais pode ser equiparada ou sentida pelo outro.
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