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Vidro moído...

Já não me destilo em sonhos,
as promessas de outros alicerces,
de horizontes mais além,
já não me embelezam de suspiros...
A vida tem revezes que a razão desconhece
e retiro daí uma resposta semi-vaga,
que me alimenta de água com açúcar durante uns tempos...
Havia um cheiro almiscarado na tua pele,
mascarado de medo talvez...
Nos momentos que me sentia perdida
inspirava um pouco de esperança,
mas os pulmões insuflados de sonhos,
estão cansados de desilusões sucessivas...
As promessas foram um cristal frágil
que projectaste no chão e pisaste com a planta dos pés...
Nas conversas lascivas de tantas vezes
foste a impotência de ti próprio
e a desistência de tudo o resto...
Morremos, definhamos à mingua,
com a mesa posta ao nosso lado...
E eu... Olhei pela janela e vi um riacho de escolhas,
de águas ténues mas límpidas,
onde os teus braços já não cabiam...
Foste tu que me viraste as costas,
nunca houveram altruísmos debaixo dessas atitudes frias,
só te iludes a ti ao pensar que sim,
mas foi a covardia e o egoísmo que te embalaram,
mais nada...
O amor não vive em eufemismos de abandonos,
com máscaras de bondade,
morre sufocado, um bocado todos os dias,
apenas isso...
Um dia descobre que morreu tudo
porque não tens mais por onde sangrar...
Temos uma oportunidade de viver cada respirar,
porque o ar também se acaba...
Talvez tenhas feito bem,
eu não sei,
ninguém sabe, provavelmente...
A resposta já nem me interessa,
os motivos não me mastigam,
as perguntas já se vestiram de silêncio...
Eu aprendi a desistir contigo,
a minha promessa também já não faz sentido.
Cansei-me de mastigar vidro moído...

Inês Dunas

Libris Scripta Est

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domingo, julho 24, 2011 - 10:37

Poesia :

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