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Derivas

...Quantos delírios no dorso da realidade…

Contar as gotas de chuva grisalha com um ábaco rouco de mecanismo remoto e sem controlo, enquanto a rosa-dos-ventos roda no furacão de pensamentos colhidos ainda em verde, de imaturos e não de esperança. O Norte bloqueou e não há estrela que o desperte de teimoso receio que a ampulheta recomece empedernida contagem do passar das horas lesmas.

Como seria bom que o astrolábio apontasse o regresso a casa. Enevoava as janelas da aborrecida convivência, plantava silvado espesso na porta do contacto e perdia a chave da comunicação em hera frondosa…. Derreter os sais de prata das fotografias que me questionam, desmanchar os objectos que me falam dos segredos, espremer as dimensões dos espaços que me trazem os tempos… que grande alívio seria…

Quimeras vãs. Retrai a mão da ilusão com que emaranhas o já revolto cabelo! De que te serve eliminar estas impertinentes presenças, sufocantes dos sentidos, se já existe tudo extrapolado dentro da tua consciência? Doido…

E se vestisses a camisola da alma pelo inverso? Talvez ganhasses a prenda da superstição? Imbecil…

Entre aguaceiros, arremessas as pérolas a palácios e tens a percepção do burro sobre os suínos. Entreténs-te em afagar carraças com cães parasitários nas orelhas; Divertes-te em aconchegar no colo pulgas infestadas por gatos famintos.

E os prédios são tão altos que sugam de imediato a humidade das nuvens. Tudo em baixo morre ressequido. A sede! A sede pelos sons do coliseu romano é tão desesperada que se morre sem se entrar em combate. O gládio sangra de ferida oxidada: o corpo espetou-lhe forte golpe… E se a cólera se inquilina na casa, logo a paz fica inquinada e procura nova morada, em penitência de exílio.

Tens remos mas não tens barca; és conVINCENTE, mas sem aGILidade para te fazeres ao mar dos céus e dos infernos, pelos teatros de gente que nada representa. Tens um cartão a desempenhar, pintado por tintas de ferro e ocre, manchado de irreverência e insensatez. Intrepidez a mais, pedrês cacarejado inoportuno pelos becos dos dosséis de camas de pesadelo. Os sonhos, esses, quedam-se junto ao bacio, na solitária da mesinha de cabeceira… que bafio sobre a poeira e enxofre da Primavera que não entra em luz, decididamente, sobre os bosques mais recalcados do ser.

E a cada osso quebrado, um santuário de gesso; a cada esfacelar de carne, uma gaze suave; a cada dente abandonado, uma ponte de passagem. Remendos e ataduras tudo vão segurando. Azeite e sebo vão untando os rolamentos da fortuna e abastecendo as candeias do caminho.

Os sons seguem escuros e as luzes retumbam em silêncio. O palato cansou-se de saborear os espirituosos odores do vinho casto.

A cada flash da lanterna mágica mudam-se as cenas, sem aviso preventivo. No teu cartão canelado e esmurrado vezes sem conta, tu sintonizas nova rádio a cada mudança de época do destino. Mas, não sucumbes. Sobrevives no teu mundo, na singela existência de ter tudo no quase nada… Tens-te a ti! Pelo menos para contares as gotas de chuva grisalha com um ábaco rouco…

Cada gota de chuva uma pessoa. Podem ser frias e amargas, mas também alegres e inspiradoras… nas contas finais, confrontaremos os saldos…

Andarilhus “(ºvº)”
XXX : V : MMVII

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terça-feira, março 11, 2008 - 11:20

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Andarilhus

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Re: Derivas

Texto bem escrito, boa interpretação das coisas!

:-)

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