A captura e a morte (F. Garcia Lorca)

Às cinco horas da tarde.

Eram cinco da tarde em ponto.

Um menino trouxe o lençol branco

às cinco horas da tarde.

 

Um cesto de cal já prevenida

às cinco horas da tarde.

O mais era morte e apenas morte

às cinco horas da tarde.

 

O vento arrebatou os algodões

às cinco horas da tarde.

E o óxido semeou cristal e níquel

às cinco horas da tarde.

 

Já pelejam a pomba e o leopardo

às cinco horas da tarde.

E uma coxa por um chifre destruída

às cinco horas da tarde.

 

Os sons já começaram do bordão

às cinco horas da tarde.

As campanas de arsênico e a fumaça

às cinco horas da tarde.

 

Pelas esquinas grupos de silêncio

às cinco horas da tarde.

E o touro todo coração ao alto

às cinco horas da tarde.

 

Quando o suor de neve foi chegando

às cinco horas da tarde,

quando de iodo se cobriu a praça

às cinco horas da tarde,

 

a morte botou ovos na ferida

às cinco horas da tarde.

Às cinco horas da tarde.

Às cinco em ponto da tarde.

 

Um ataúde com rodas é a cama

às cinco horas da tarde.

Ossos e flautas soam-lhe ao ouvido

às cinco horas da tarde.

 

Por sua frente o touro já mugia

às cinco horas da tarde.

O quarto se irisava de agonia

às cinco horas da tarde.

 

A gangrena de longe já se acerca

às cinco horas da tarde.

Trompa de lis pelas virilhas verdes

às cinco horas da tarde.

 

As feridas queimavam como sóis

às cinco horas da tarde,

e as pessoas quebravam as janelas

às cinco horas da tarde.

 

Ai que terríveis cinco horas da tarde!

Eram as cinco em todos os relógios!

Eram cinco horas da tarde em sombra!

 

F. Garcia Lorca, poeta espanhol, (1848-1937), poema traduziado por: Oscar Mendes. 

Submited by

Miércoles, Julio 20, 2011 - 11:42

Poesia :

Sin votos aún

AjAraujo

Imagen de AjAraujo
Desconectado
Título: Membro
Last seen: Hace 7 años 1 semana
Integró: 10/29/2009
Posts:
Points: 15584

Add comment

Inicie sesión para enviar comentarios

other contents of AjAraujo

Tema Título Respuestas Lecturas Último envíoordenar por icono Idioma
Poesia/Intervención A uma mendiga ruiva (Charles Baudelaire) 0 12.787 07/03/2014 - 02:55 Portuguese
Poesia/Intervención Coração avariado 1 5.808 06/25/2014 - 03:09 Portuguese
Poesia/Fantasía Flores bonecas 2 3.991 06/24/2014 - 20:14 Portuguese
Poesia/Intervención Caminho de San Tiago 0 5.527 06/24/2014 - 00:31 Portuguese
Poesia/Soneto Há em toda a beleza uma amargura (Walter Benjamin) 1 5.168 06/20/2014 - 21:04 Portuguese
Poesia/Soneto Vibra o passado em tudo o que palpita (Walter Benjamin) 1 5.443 06/19/2014 - 23:27 Portuguese
Poesia/Meditación Sonhe (Clarice Lispector) 1 7.826 06/19/2014 - 23:00 Portuguese
Poesia/Intervención Dá-me a tua mão (Clarice Lispector) 0 6.792 06/19/2014 - 22:44 Portuguese
Poesia/Intervención Precisão (Clarice Lispector) 0 8.048 06/19/2014 - 22:35 Portuguese
Poesia/Meditación Pão dormido, choro contido 1 4.296 06/13/2014 - 04:02 Portuguese
Poesia/Fantasía A dívida 1 4.603 06/12/2014 - 04:52 Portuguese
Poesia/Intervención Eco das Ruas 1 3.411 06/12/2014 - 04:38 Portuguese
Poesia/Aforismo Maneiras de lutar (Rubén Vela) 2 5.551 06/11/2014 - 11:22 Portuguese
Poesia/Aforismo O médico cubano, o charuto e o arroto tupiniquim (cordel) 2 6.965 06/11/2014 - 11:19 Portuguese
Poesia/Intervención Espera... (Florbela Espanca) 0 3.185 03/06/2014 - 11:42 Portuguese
Poesia/Intervención Interrogação (Florbela Espanca) 0 6.016 03/06/2014 - 11:36 Portuguese
Poesia/Intervención Alma a sangrar (Florbela Espanca) 0 4.461 03/06/2014 - 11:32 Portuguese
Poesia/Soneto Vê minha vida à luz da proteção (Walter Benjamin) 0 4.086 03/03/2014 - 13:16 Portuguese
Poesia/Dedicada Arte poética (Juan Gelman) 0 5.193 01/17/2014 - 23:32 Portuguese
Poesia/Dedicada A palavra em armas (Rubén Vela) 0 3.423 01/17/2014 - 23:01 Portuguese
Poesia/Fantasía A ÁRVORE DE NATAL NA CASA DE CRISTO (FIODOR DOSTOIÉVSKI) 0 3.280 12/20/2013 - 12:00 Portuguese
Poesia/Dedicada Aqueles olhos sábios 0 5.594 10/27/2013 - 21:47 Portuguese
Poesia/Pensamientos Asteróides 0 4.519 10/27/2013 - 21:46 Portuguese
Poesia/Pensamientos O que se re-funda não se finda 0 4.985 10/27/2013 - 21:44 Portuguese
Poesia/Intervención Para mim mesmo ergui…(Aleksander Pushkin) 0 4.013 10/16/2013 - 00:14 Portuguese