Entrevistada do mês de Agosto de 2011: Odete Ferreira

Entrevistada do mês de Agosto de 2011: Odete Ferreira
Que lugar ocupa a Poesia na tua vida?
 
Curiosamente, a poesia sempre esteve comigo, não em palavras traduzidas em poemas, mas na minha idiossincrasia, no sentido da minha forma de ser e estar na vida, nas coisas que fazia, nas que dizia, no contacto com as pessoas, nas crenças que pautaram o caminho que fui trilhando, sobretudo a nível profissional, já que, como professora e formadora de personalidades, a vida tinha de ter uma visão poética. A poesia, em forma de poemas, começou a ser relevante, apenas há cerca de ano e meio, fruto de estados emocionais intensos, no acompanhamento de crianças e jovens como professora tutora. Foi pelo poder encantatório das palavras que chegava, frequentemente, ao seu âmago, provocando um novo sentido para as suas vidas. Consequentemente, também para mim, se foi tornando uma espécie de exorcismo comunicacional, sentindo a necessidade de, pouco a pouco (ao divulgar os meus escritos) e talvez de uma forma indirecta, fazer emergir uma solidariedade emocional, junto de quem me lia. Ouvir dizer ou fazerem-me chegar ecos da sua identificação ou alívio para o seu interior sofrido, ao lerem poemas divulgados no meu blogue ou redes sociais, foi a força motriz para ousar mostrar o meu desnudamento interior, sem pudor. Logo, escrever (também em prosa) quase diariamente, virou uma adicção como outra qualquer; contudo, muito mais sã porque libertadora de emoções e desafiante em termos de construções mentais. Em suma, a linguística foi sempre uma paixão avassaladora, correndo-se o risco de se tornar narcísica.
 
O que sentes pelo WAF?
 
Descobri-o pela mão de um amigo virtual – agora real – , o Henrique Fernandes, que um dia me escreveu uma mensagem (deve estar a fazer um ano), aconselhando-me a que me inscrevesse no site. Demorei alguns meses a conseguir (altura da remodelação), mas quase logo iniciei as postagens. Senti-me, desde então, em casa. O bom acolhimento foi percepcionado pela informalidade e natural simpatia dos membros. Apresentar-me a concurso para edição, em Janeiro, veio como se fosse o passo que tinha que dar, um desígnio não planeado mas sentido. O WAF está em mim de tal forma, que incentivo os amigos que escrevem ou ligados a outra forma de arte a inscrever-se no site.
 
Como foi a sensação de ver a tua obra editada?
 
Primeiro tenho que fazer um preâmbulo: quando abri o mail ( por sinal tinha ido parar ao spam) a comunicar a decisão de editar, fiquei durante uns minutos a reler, tal era a incredulidade e espanto, além de ter guardado algum segredo sobre a publicação! Seguiu-se a azáfama de conciliar as tarefas profissionais com as desta nova vida. O entusiasmo passou a estar mais em evidência e aquele deslumbramento interior assomava quando falava no projecto, tornando-se quase palpável quando chegaram as provas. A capa, elogiada por todos quantos a conheceram e conhecem agora, aliada ao título que me surgiu de imediato, foram ingredientes acrescidos, levando-me a escrever dois poemas (um acróstico com o título do livro “Em Suspenso” e outro “Ninho de poesia”, ambos postados no site ) , que ilustram muito bem as sensações sentidas. Andava “Em Suspenso”...
Como foi conhecer pessoalmente algumas das pessoas com as quais partilhas esta comunidade?
Apesar da distância ainda ser um óbice para conhecer pessoalmente mais pessoas da comunidade, fiz questão de estar na festa de lançamento da Antologia “WAF 2011” , na Feira do Livro do Porto e no lançamento de algumas obras, a fim de privar com amigos que, sabia de antemão, ser um privilégio conhecer e partilhar ideias. Desde o “senhor editor”, à Adriana, ao Gi, à Patrícia, ao Henrique (...) até a outros membros com os quais não posso falar pessoalmente, sempre me fizeram sentir em família. Não foi preciso percorrer os passos e o tempo a que alude a raposa no “Principezinho” para criar laços de ternura!
 
Fala-nos dos teus projectos futuros...

Vou continuar a exercer as funções adstritas à minha carreira de docência, emparelhando a escrita ao mesmo nível, quiçá, entrosando-a com elas. A par, fazer apresentações em escolas, participar em eventos literários motivando para o poder que a palavra tem sobre nós próprios e na mudança da mentalidade cultural portuguesa. A médio prazo, um segundo livro. Poemas há, apenas quero espaçar.

Obras marcantes:


Tenho obras marcantes, conforme a fase etária em que as li. “A Selva” de Ferreira de Castro, aos 13 anos, os ditos clássicos entre os 15 e 20 anos (estrangeiros e portugueses), dos quais li mais do que uma obra, relevando “O Germinal” de Zola; ao longo da minha vida “adulta”, vou lendo algumas coisas do chamado “mainstream”, para me dar conta, sobretudoo, da sua literariedade ou falta dela... Depois há obras que tenho que ler por obrigação e uma rima à espera de vez...
 
Fonte de inspiração:

A vida, traduzida essencialmente nas pessoas; o meu “eu” e o “outro” contido no “eu”; a minha forma de ser, quase sempre insatisfeita, a minha “militância” como me disse há dias uma amiga.
 
Filme Preferido:

Tal como as obras, também tenho vários filmes de que gostei particularmente. Os que contam uma boa história, com personagens de forte densidade psicológica. Um marcante, como expoente do meu romantismo (podem sorrir) “Love story”... Por vezes são mais os actores e actizes que me levam ao filme. “África Minha”, poderia revê-lo mais umas vezes.
 
Canção de Eleição:

As canções de eleição são as dos meus momentos, a par com o ritmo que me é característico: a dança. Contudo, aprendi com o meu filho a gostar de géneros alternativos. A introdução de influências étnicas em ritmos mais actuais, conferem-me atractividade. O medieval, o céltico são evocações de mistério, de espiritualidade. Só para não defraudrar, escuto sem me cansar “Magnificent” dos U2.
 
Uma palavra que me defina:
 
Curiosidade, no melhor sentido do termo. Sem curiosidade não há conhecimento, Sem este não há adjectivos de acção que façam “pular” o mundo…
 
O jantar perfeito:

Aquele que talvez ainda não tenha feito. Naturalmente que teria que ter os ingredientes imagéticos subjacentes: local idílico, pessoa/s do meu completo agrado e pratos que me surpreendessem...
 
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Comentarios

Imagen de Nostalgia

Aparentemente, os seres

Aparentemente, os seres humanos são iguais. Físicamente, vamos notando diferenças. Chegando ao intelecto, as diferenças começam a ser notórias, mas quando ao intelecto se mistura a personalidade de um(a) poeta por excelência, como é o seu caso, então, as diferenças são abismais.
Para se conhecer alguém, no modo tradicional, é preciso conviver com essa pessoa. Mas, quando se lê o que ela(e) escreve então sim, é como se entrássemos no seu recôndito ser.
A sua presença é simpática, é didáctica e quem a lê enriquece por dentro. Ainda não li todos os seus trabalhos mas devagar, devagarinho, chego lá. 
Já entrei no seu blogue e gostei muito.
Parabéns por esta bela entrevista.yes

 

Bjs wink

 

 

Imagen de Odete Ferreira

Agradecida pelo

Agradecida pela leitura e simpático comentário deixado sobre ela, Nostalgia!

Apreciei que tenha gostado do que leu e do que tenho publicado aqui no waf, assim como o que vou deixando no meu blogue.

Muito obrigada, mesmo!

Bjos :)

 

 

Imagen de Henrique

Parabéns

Alguém que de recem se faz pilar desta casa!!!

É Abril, alma que minha alma enobrece!

Adorei a entrevista, no fundo, é o que és, impar neste mundo de letras e vírgulas a quem damos mil e um sentidos, mas só um grita, A AMIZADE!!!

Uma bela WAF, obrigado pela alusão à nossa história, foi um prazer conhecer-te na rede social e depois maior ainda pessoalmente!!!

 

Um grande beijo para ti Odete!!!

 

Desculpa o atraso em que respondo à tua entrevista....

 

:-)

Imagen de Odete Ferreira

Não há atrasos

Não há atrasos quando se está entre amigos, por isso vens muito a tempo...

Obrigada pela tua simpatia e apreciação que fazes do conteúdo da entrevista.

Para mim, há um grande apontador na vida a: o que nos faz ver o que está para lá do aspecto físico das pessoas.

Quase gostaria de ter um certo poder de adivinhação...

Recíproco o prazer de te conhecer pessoalmente e poder estar contigo na apresentação do teu livro.

Sucessos :)

Bjo

Imagen de Teresa Almeida

Entrevistada do mês de Agosto de 2011: Odete Ferreira

Não me surpreende a qualidade nem o conteúdo da entrevistada Odete Ferreira.

Conhecia-a virtualmente no facebook e fui-lhe adivinhando a maneira de ser, a forma de estar e de olhar a vida, o sentido altruísta, a comunicação fácil e natural e, muito especialmente, a sua encantadora  forma de fazer poesia. Evidencia  uma grande sensibilidade à vida e aos  problemas que a rodeiam. As pessoas são a sua força motriz.

Quando a encontrei no lançamento do livro "Em Suspenso", tive a noção que a conhecia desde sempre, tal é a forma autêntica como comunica!

Pessoas como a Odete influenciam e abrem-nos caminhos. Nas entrelinhas dos seus inteligentes comentários eu leio um carinho e uma força enormes. 

Parabéns Odete pos seres quem és!

Imagen de Odete Ferreira

Entrevista

Pois bem, também não me surpreendem as tuas palavras,  amiga Teresa... O que tu não disseste é que foi uma das tuas filhas que trabalhou comigo, o elo de ligação, tal mãe, tal filha :)

Quanto ao resto só posso dizer que continuo a sentir-me humilde no que escrevo. Sei que escrevo o que quero , como quero, sem preocupações de maior: os meus momentos apenas ou os meus entrosados em outros de outrém, sejam pessoas ou situações. Em todos, há uma certeza: tocou fundo e esse toque ou se tem ou não se tem.

Ah, cara amiga, influenciar para um caminho de bem-estar, aceito que seja inerente à minha personalidade...

Obrigada por me teres em tão boa conta!

Bjuzz :)

Imagen de Rui Afonso dos Santos

Só hoje tive tempo de ler com

Só hoje tive tempo de ler com calma a entrevista e comentá-la minha querida amiga Odete.

Dizer o quê? Que so lamento que a entrevista não tenha descoberto mais da sua interessante personalidade, que não tenha procurado o ser que escreve e que se esconde entre soluços de palavras e batidas de coração. Uma entrevista que termina da mehor forma, com a melhor expressão da melhor pessoa que conheci nos ultimos tempos... o jantar perfeito é aquele que ainda não teve....... não podemos dar nada como o melhor da nossa vida sem que a vida tenha cessado. O que hoje é enorme, amanhã é normal.

Desejo-lhe tudo o que é bom, todo o sucesso do mundo, a sua simplicidade e humildade merecem esse prémio.

beijos de um admirador do que escreve mas sobretudo do que representa.

Imagen de Odete Ferreira

Obrigada...

Obrigada pelas suas amáveis palavras, Rui.

Faz parte do meu "mapa genético" a capacidade de saber o lugar que ocupo e de partilhar o que vou aprendendo.

À minha volta tem de haver crescimento e só dando um pouco de nós é que as sementes germinam!

Sei o meu gande valor como profissional, mas na escrita valho conforme o olho clínico de quem me lê e aí só há que ser humilde...

Também desejo que os seus sonhos se concretizem. Merece-o ainda mais, porque tem uma vida à sua frente. Agarre-a!

Bjo

 

Imagen de Ka Santos

Parabens Odete

Queria parabenizar você pela interessante entrevista. Muito inteligente, interessante e leve. Podemos sentir daqui tua impressionante maneira de ver a vida, a poesia e teu talento... Sucesso para ti, beijos imensos!!

Bom demais ler você!!! smiley

Imagen de Odete Ferreira

Entrevista

Muito obrigada pela tua leitua e apreciação respectiva, que me agrada bastante, não por ser elogiosa, mas porque verifico que, por palavras, consegui dar-me a conhecer . Mérito também seu!!!

Grata, Ka Santos

Bjos amiga :)