Uma certa e razoável sujidade do amor
No encanto das coisas há implicito uma certa sujidade, uma certa sujidade da vida, uma certa e rázoavel sujidade do amor. O encanto das coisas é elas não estarem submetidas a pactos. Há no trabalho da reprodução da natureza uma sujidade legitima. O encanto das coisas é elas terem um misto de podre e de fresco. O encanto dos homens e das ruas, o encanto dos olhos e o encanto do coração é haver uma certa sujidade dos costumes. A imoralidade das palavras, a navegação dos dias, a ausência do tempo na suja ocupação da inutilidade dos poetas. A inutilidade de tudo é o sentido para não se invadir, para não se violar a tranquilidade dos pássaros e das árvores e das nuvens que passam no céu e que passam na admiração dos peixes e que estão no despertar e no adormecer. O encanto das coisas é elas terem a morte. A morte é a vida a sujar-se e o nosso renascer é um grito sujo, tão sujo como um rufar de tambores, tão sujo como uma paixão selvagem, um modo sujo de andar de crescer. O encanto das coisas não é elas terem fogo ou elas terem água. Não é o encanto das coisas haver solidão nas casas e cinza nos borralhos para santificar a agilidade dos gatos. O encanto das coisas é a contradição entre as mãos e os pensamentos. Na cinza do borralho a agilidade dos pensamentos. O encanto sujo das coisas é elas perderem o sentido de rumo absoluto. O sujo encanto das coisas é haver quem derrube muros, quem derrube leis. O encanto das coisas é a profunda liberdade dos seres, sujar é o modo limpo de perder o medo de se tocar a natureza. lobo 05
Submited by
Poesia :
- Inicie sesión para enviar comentarios
- 2018 reads
Add comment
other contents of lobo
Tema | Título | Respuestas | Lecturas |
Último envío![]() |
Idioma | |
---|---|---|---|---|---|---|
Poesia/Dedicada | O noite vem vestir o povo | 0 | 1.948 | 07/11/2011 - 08:21 | Portuguese | |
Poesia/General | A noite é uma mosca | 0 | 2.267 | 07/10/2011 - 08:50 | Portuguese | |
Poesia/Dedicada | Estás dentro do poço | 1 | 1.788 | 07/09/2011 - 17:18 | Portuguese | |
Poesia/Amor | Anda não fiques ai | 0 | 2.119 | 07/08/2011 - 08:00 | Portuguese | |
Poesia/General | De que amarga água | 1 | 2.236 | 07/07/2011 - 02:55 | Portuguese | |
Poesia/Dedicada | Os bichos e as pessoas | 0 | 2.283 | 07/05/2011 - 10:28 | Portuguese | |
Poesia/Dedicada | Escrevem na pele com tinta limão | 0 | 2.292 | 07/04/2011 - 13:31 | Portuguese | |
Poesia/Pensamientos | Como se faz para levantar o corpo | 0 | 2.087 | 07/03/2011 - 14:18 | Portuguese | |
Poesia/General | A morte da mulher do dono do hotel | 0 | 2.632 | 07/03/2011 - 12:59 | Portuguese | |
Poesia/Pensamientos | Os dias marcados no corpo | 0 | 2.495 | 07/02/2011 - 22:15 | Portuguese | |
Poesia/Amor | Fim | 1 | 1.728 | 07/01/2011 - 22:48 | Portuguese | |
Poesia/Pensamientos | Vamos juntar palavras | 1 | 1.805 | 07/01/2011 - 17:07 | Portuguese | |
Poesia/Amor | O amor se escondeu | 0 | 1.556 | 07/01/2011 - 09:16 | Portuguese | |
Poesia/Dedicada | Volto no mar | 0 | 2.292 | 06/30/2011 - 08:44 | Portuguese | |
Poesia/Pensamientos | A lembrança é uma faca | 2 | 1.093 | 06/29/2011 - 23:58 | Portuguese | |
Poesia/General | Os barcos que se perdem dos rios | 0 | 1.952 | 06/27/2011 - 17:21 | Portuguese | |
Poesia/Aforismo | O fogodas mãos | 0 | 1.880 | 06/26/2011 - 20:35 | Portuguese | |
Poesia/Amor | Vou virar essa carta pra ti | 0 | 1.589 | 06/26/2011 - 13:32 | Portuguese | |
Poesia/Poetrix | A transparencia ou o outro modo de criar um pacto | 0 | 1.501 | 06/26/2011 - 09:09 | Portuguese | |
Poesia/General | Vou-te contar menino | 1 | 1.869 | 06/25/2011 - 17:45 | Portuguese | |
Poesia/Erótico | Como era aquele movimento | 0 | 1.861 | 06/24/2011 - 22:09 | Portuguese | |
Poesia/Pensamientos | Vou sacar um cigarro | 0 | 2.028 | 06/24/2011 - 19:51 | Portuguese | |
Poesia/Fantasía | Quando se prova a folha da coca | 0 | 3.052 | 06/24/2011 - 16:12 | Portuguese | |
Poesia/General | As lagartas andam no deserto | 0 | 1.896 | 06/24/2011 - 14:51 | Portuguese | |
Poesia/Pensamientos | Como me soubesse a triste | 1 | 2.430 | 06/24/2011 - 09:32 | Portuguese |
Comentarios
Re: Uma certa e razoável sujidade do amor
O encanto das coisas é a profunda liberdade dos seres, sujar é o modo limpo de perder o medo de se tocar a natureza.
Sem réstia de dúvida!!!
Re: Uma certa e razoável sujidade do amor
Gostei.
Na verdade "O encanto das coisas é elas terem um misto de podre e de fresco. ...
O encanto das coisas é elas não estarem submetidas a pactos."
Talvez seja esse o encanto da tua escrita.
Abraço