Um café

Sozinha, embrenhada na leitura tal como todos os dias por aquela hora, apreciava a calma do rio quando o sentiu aproximar... Falava ao telemóvel! Pela conversa deu para perceber que era assunto de trabalho.

Tem uma voz agradável, pensou. E, quase automaticamente, olhou na sua direção. Não estava nada mal, não senhor…

Ele escolheu o banco mais próximo para se sentar e, aparentemente indiferente, continuou a conversa enquanto olhava para ela, sabia que ela se tinha apercebido da sua presença até porque já olhara para ele. Acabou a chamada e fez outra sempre a ver o que ela fazia... o que a traria ali? Estaria apenas de passagem? Trabalharia por perto? Via-se que não estava concentrada na leitura. Não estava a ler um livro, tinha diversas folhas meio soltas nas mãos, outras numa pequena pasta, talvez estivesse a estudar…

Acendeu um cigarro e ficou a olhar para ela. Os bancos posicionados em L facilitavam a tarefa de a ver sem chamar a atenção. Ao fim de alguns minutos que mais pareceram horas ela começou a guardar os papéis. Vai-se embora, pensou…

Talvez...
Talvez se devesse dirigir a ela… quem sabe se não responderia, mas dizer o quê? Já não são propriamente adolescentes e pode parecer impróprio… se tentar falar de trabalho? Se responder poderia então encaminhar a conversa para um nível mais pessoal…

“Desculpe” ela parou e olhou para ele. É um bom sinal! Mostra-se recetiva. “A senhora por acaso não se importa de ficar com o meu contacto para se por acaso conhecer alguém que precise de fazer obras em casa?” Então e não é que resultou? Não se mostrou renitente e respondeu que sim, que ficava! Nunca pensou que fosse assim tão simples! E sempre conseguira uma maneira de lhe dar o número de telemóvel!

Tem consigo os cartões da empresa. Tem sempre, claro, não poderia contactar um cliente e não ter um cartão para lhe dar. Mas esse é o número de serviço e o ideal seria dar-lhe o pessoal. “Tem com que tomar nota?” Não lhe iria perguntar de tinha onde escrever, aliás reparara que para além das folhas também tinha com ela um caderno. Que sim que tinha, respondeu. Deu-lhe o número que ela anotou nas costas do caderno.

O melhor era deixar o tratamento por “senhora” de parte. Mora aqui na zona? Perguntou. Não, não morava. Trabalhava ali. Não tem importância. Afinal, explicou ele, trabalhava em muitos lados e já tinha tido clientes em toda a zona da grande Lisboa. Perguntou onde é que morava, com receio que ela não respondesse, mas a verdade é que ela não parecia inibida por ele se lhe ter dirigido. Respondeu, “conheço a zona, o mês passado estive a pintar um apartamento n av. tal”…

Ela nem queria acreditar. Era nessa avenida que ela morava e pela descrição foi mesmo muito perto da sua casa… não pode evitar de sorrir, não lhe disse que era aí mesmo que morava, claro!

Ele sentiu o sorriso e avançou, perguntou de conhecia aquele clube, na povoação próxima, onde costumavam fazer umas festas engraçadas aos sábados… costumava lá ir. Conhece? Não, ela não conhecia, mas já tinha ouvido falar. Fez tenção de avançar e ele, que ainda continuava sentado no banco, perguntou de repente: “Não me quer dar o seu número de telemóvel? Podíamos ir tomar um café”…

AA 07-06-2012

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Domingo, Junio 24, 2012 - 16:48

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Aanil

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E, quem sabe, assim se começa

E, quem sabe,
assim se começa um relacionamento?!...
Bom ou mau?!...
É sempre um livro fechado.

Saudações!

Abilio

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Mas é bom que os livros

Mas é bom que os livros estejam fechados... Só assim se poderão apreciar as coisas boas ou más que vão surgindo.

Obrigada

Aanil

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