Lição de vida- 1º parte

E por ali andava eu. Perdida.
Fixava as estrelas que o céu revelava e cruzava os braços abraçando o meu próprio corpo. Queria ternura. Um abraçado dado com Amor. Precisava de um amigo.
Desde que me tornei drogada, nunca necessitei de tal coisa.
Mas hoje era diferente.
Depois de hoje tudo tinha mudado.
Desde a partida dele, tudo perdeu o interesse e a importância. Só quando estava drogada conseguia chorar.
Consumia, e chorava de dor ao mesmo tempo, que libertava tudo o que tinha em espera no coração
Se não consumia, era pior. Muito pior. O meu corpo sentia a falta daquela substância e o seu manifesto era cruel, impossível de suportar.
Deixei-me sentada ao pé daquela estrada.
Sorri para o céu, haver se me surgia algo que organiza-se a minha vida.
- “Vou acabar como tu. Daqui a nada sou eu que vou para debaixo da terra fazer-te companhia. Não há-de tardar” – falei olhando para as estrelas.
Um carro desportivo e vistoso, por ser luxuoso parou a minha frente.
O condutor, de gorro enfiado na cabeça, óculos escuros apesar de já ser noite cerrada e com o capucho do casaco na cabeça a tentar tapar o gorro abriu a porta pelo lado de dentro.
Primeiro, olhei o carro e o condutor de uma forma desconfiada. Como não o vi bem, nem queria ver, levantei-me e arranjei o decote, salientando o peito.
- “Olá querido” – disse aproximando-me – “Queres dar umas voltas?” – perguntei rindo-me enquanto me empoleirava no vidro aberto. Olhei o condutor – “R-Ricardo?!”
- “Entra já!” – ordenou-me.
- “Não. Não entro! Tu não és meu pai!”
- “Inês, eu disse já!”
Abandonei o vidro e comecei a andar. Ricardo arrancou. Ia a meu lado tentando convencer-me a entrar.
- “Inês, estou-te a dizer para entrares. Não me faças parar! Porque ai vais-te arrepender!”
- “Mas quem é que tu pensas que és? E de quem é esse carro?”
- “Porquê? Também estás a pensar vender este como fizeste com o meu Lamborghni?”
- “Ricardo, desaparece”
- “Entra já!” – gritou descontrolado – “A tua mãe está lá em casa, a chorar. Desesperada sem saber de ti. E tu aqui! Não me chateis! Estou farto das tuas criancices! Entra!”
Parei, olhei em frente e respirei fundo.
Entrei dentro do carro.
- “Mete o cinto” – ordenou-me.
- “Já vai ó general!” – gritei eu de volta.
- “Não tens vergonha de andar assim?”
- “O que é bom é para se ver…” – defendi-me olhando a paisagem no exterior.
- “Não me provoques Inês…” – avisou-me – “Ando contigo pelos cabelos! Tu és um problema! Vai-te tratar!”
- “Cala-te!” – gritei chateada – “Tu não sabes o que isto é. Tu não sabes como me sinto e não te esforças para saber!”
- “Tu vistes bem o que fizeste á nossa vida? Achas que não te percebo bem? Fica a saber que nem estou interessado em perceber! Tens sorte de eu ainda perder o meu tempo com uma miúda como tu!”
- “Como eu o quê?” – perguntei ofendida.
- “Olha para ti! Já reparaste que só nos dás desgraças e mais desgraças?”
- “Odeio-te!” – gritei – “Não sei como pude gostar de ti! Ou mesmo como te dás bem com a minha irmã.”