Uma Véspera de Reis - Cena V
Cena V
Alberto e Emília
Emília (Fingindo surpresa.) - Ui!
Alberto - Não se assuste... não se assuste... Sou eu...
Emília - Quem foi que o autorizou...?
Alberto (Interrompendo-a.) - Quando se ama, meu bem, não se quer saber de autorizações; o coração tudo autoriza e às leis que ele dita, não há desobediência possível.
Emília - Você tem lábias, tem...
Alberto - E lábios... para dizer que te amo, que te adoro, que és o sol de minha vida, a estrela da minha existência! (Ajoelha-se.)
Emília - Ó gentes! Eu não sou santa, seu Alberto. Se alevante. (Alberto ergue-se.) Mas estes estudantes são mesmo muito atrevidos. Ora se papai...
Alberto - Descansa; o José está à porta da rua para prevenir-nos...
Emília - Hei de contar a mamãe o desaforo de José. Você acha muito bonito andar de comunicações com o moleque, não?
Alberto - O que eu acho é que foi com o teu consentimento que..
Emília (Depois de fechar a porta da esquerda.) - Vamos ao que importa: o que me quer?
Alberto - O que te quero? Quero ver-te; falar-te; pintar-te ao vivo este amor; ouvir de ti mais uma vez que me amas.
Emília - Mesmo por você saber que o amo; mesmo por esperá-lo à janela para vê-lo passar e apertar-lhe a mão ou oferecer-lhe uma flor, é que você abusa! Ingrato! Fazer consentir em que tenha entrada aqui, sem papai e mamãe saberem!
Alberto - És injusta, Milu, és muito injusta. (Emília faz-lhe má cara.) Está bem! Já não digo nada! Adeus! não quero comprometê-la...(Dirige-se para a porta do fundo.) Não quero abusar...
Emília - Alberto?
Alberto (Quase a sair.) - Adeus.
Emília (Bate o pé.) - Alberto!
Alberto (Volta à cena.) - Milu?
Emília (Toma-lhe as mãos.) - Você não é homem; você é o diabo!
Alberto - Queres dizer que sou mulher?
Emília - Por que não me pede a papai?
Alberto - Já te disse que isso tem seus quês: teu pai, disseste-me, quer casar-te com o filho de um seu compadre...
Emília - Meu pai não é homem que obrigue a filha a casar-se à força!
Alberto - Ainda há outra coisa: eu tenho um tio...
Emília - Ah! você tem um tio? Ainda não me havia dito...
Alberto - Pois de onde me vem a mesada? De meu tio... É preciso que me entenda com ele... Se faz-me as vezes de pai, não é muito natural que eu, que faço as vezes de filho, case-me sem ao menos dizer: Água vai.
Emília - E se ele puser alguma objeção?...
Alberto - Não põe, não. Meu tio é muito meu amigo. É capaz de trepar ao céu, para ir buscar a lua, se eu lha pedir. O mais que pode haver é alguma demorazinha... Já estou no quinto ano... Logo que me formar...
Emília - Logo que se formar, adeus... Ora, eu bem conheço estes estudantes! Mentem por quantas juntas têm!
Alberto - Então já gostaste de algum, antes de mim?
Emília - Ó gentes! quem foi que disse? ...(À parte.) Só de três... (Alto.) As minhas amigas é que me contam...
Alberto - Histórias! Se elas os merecessem, como me mereces, não havia motivo de queixa... (Toma-lhe as mãos.) Sossega: prometo que hei de ser teu marido, a menos que te esqueças de mim.
Emília - E posso contar com a mesma firmeza de sua parte?
Alberto - Ainda me perguntas?
Emília - Jure...
Alberto (Estende solenemente a mão.) - Juro... (Outro tom.) pelo que queres que eu jure?
Emília - Por tudo quanto há de mais sagrado...
Alberto (Estende solenemente a mão.) - Por tudo quanto há de mais sagrado... Estás satisfeita?
Emília - Estou, sim; é impossível que você quebre um juramento tão bonito!
Alberto - Se já estivesse formado, jurava-te à fé de meu grau!
Submited by
Poesia Consagrada :
- Inicie sesión para enviar comentarios
- 622 reads
other contents of ArturdeAzevedo
Tema | Título | Respuestas | Lecturas |
Último envío![]() |
Idioma | |
---|---|---|---|---|---|---|
Poesia Consagrada/Teatro | A Filha de Maria Angu– Ato Terceiro - Cena I | 0 | 1.258 | 11/19/2010 - 16:53 | Portuguese | |
Poesia Consagrada/Teatro | A Filha de Maria Angu– Ato segundo - Cena II | 0 | 1.072 | 11/19/2010 - 16:52 | Portuguese | |
Poesia Consagrada/Teatro | A Filha de Maria Angu– Ato segundo - Cena III | 0 | 767 | 11/19/2010 - 16:52 | Portuguese | |
Poesia Consagrada/Teatro | A Filha de Maria Angu– Ato segundo - Cena IV | 0 | 633 | 11/19/2010 - 16:52 | Portuguese | |
Poesia Consagrada/Teatro | A Filha de Maria Angu– Ato primeiro - Cena IV | 0 | 706 | 11/19/2010 - 16:52 | Portuguese | |
Poesia Consagrada/Teatro | A Filha de Maria Angu– Ato primeiro - Cena V | 0 | 847 | 11/19/2010 - 16:52 | Portuguese | |
Poesia Consagrada/Teatro | A Filha de Maria Angu– Ato primeiro - Cena VI | 0 | 1.084 | 11/19/2010 - 16:52 | Portuguese | |
Poesia Consagrada/Teatro | A Filha de Maria Angu– Ato primeiro - Cena VII | 0 | 1.005 | 11/19/2010 - 16:52 | Portuguese | |
Poesia Consagrada/Teatro | A Filha de Maria Angu– Ato primeiro - Cena VIII | 0 | 809 | 11/19/2010 - 16:52 | Portuguese | |
Poesia Consagrada/Teatro | A Filha de Maria Angu– Ato primeiro - Cena IX | 0 | 771 | 11/19/2010 - 16:52 | Portuguese | |
Poesia Consagrada/Teatro | A Filha de Maria Angu– Ato primeiro - Cena X | 0 | 1.041 | 11/19/2010 - 16:52 | Portuguese | |
Poesia Consagrada/Teatro | A Filha de Maria Angu– Ato primeiro - Cena XI | 0 | 878 | 11/19/2010 - 16:52 | Portuguese | |
Poesia Consagrada/Teatro | A Filha de Maria Angu– Ato primeiro - Cena XII | 0 | 791 | 11/19/2010 - 16:52 | Portuguese | |
Poesia Consagrada/Teatro | A Filha de Maria Angu– Ato primeiro - Cena XIII | 0 | 820 | 11/19/2010 - 16:52 | Portuguese | |
Poesia Consagrada/Teatro | A Filha de Maria Angu– Ato primeiro - Cena XIV | 0 | 785 | 11/19/2010 - 16:52 | Portuguese | |
Poesia Consagrada/Teatro | A Filha de Maria Angu– Ato primeiro - Cena XV | 0 | 737 | 11/19/2010 - 16:52 | Portuguese | |
Poesia Consagrada/Teatro | A Filha de Maria Angu– Ato primeiro - Cena XVI | 0 | 678 | 11/19/2010 - 16:52 | Portuguese | |
Poesia Consagrada/Teatro | A Filha de Maria Angu– Ato segundo - Cena I | 0 | 641 | 11/19/2010 - 16:52 | Portuguese | |
Poesia Consagrada/Soneto | Arrufos | 0 | 1.942 | 11/19/2010 - 16:52 | Portuguese | |
Poesia Consagrada/Soneto | Impressões de Teatro | 0 | 1.998 | 11/19/2010 - 16:52 | Portuguese | |
Poesia Consagrada/Soneto | Uma Observação | 0 | 2.184 | 11/19/2010 - 16:52 | Portuguese | |
Poesia Consagrada/Teatro | A Filha de Maria Angu - Introdução | 0 | 884 | 11/19/2010 - 16:52 | Portuguese | |
Poesia Consagrada/Teatro | A Filha de Maria Angu– Ato primeiro - Cena I | 0 | 831 | 11/19/2010 - 16:52 | Portuguese | |
Poesia Consagrada/Teatro | A Filha de Maria Angu– Ato primeiro - Cena II | 0 | 1.276 | 11/19/2010 - 16:52 | Portuguese | |
Poesia Consagrada/Teatro | A Filha de Maria Angu– Ato primeiro - Cena III | 0 | 751 | 11/19/2010 - 16:52 | Portuguese |
Add comment