FRAGMENTOS DRAMATICOS - O R I G I N A E S – I

EULALIA

Ou

A V I N G A N Ç A DE A M O R .

(TRAGEDIA)

ACTORES

RAMIRO. rico-homem. — MATILDE, Contractada esposa de Ramiro.—
ARNALDO, amante de Eulalia. — JAIME, velho, pae
de Eulalia. — EULALIA.—ANTHERO, confidente de Ramiro.
— ELVIRA, aia de Mathilde..— Servos de Ramiro.-—Povo.

A Sceria se finge no solar de Ramiro, em uma das provincia do Norte.

ACTO I

SCENA I

Ramiro e Anthero

ANTHERO

Teu lugubre silencio respeitando,
Atégora, senhor, não tenho ousado
Sondar a interna origem da tristeza
Expressa nos teus olhos... Que! Ramiro,
O sangue dos heróes, o descendente
De Moniz, em virtude, em gloria, em armas
Insigne mestre do primeiro Affonso;
Tu, que és acceito ao rei, e á patria acceito,
Que ás hostes do Agareno has sido um raio;
Tu grande, tu feliz, que em ti reunes
Os dons da Natureza, os dons da Sorte;
Que, mimoso de amor, esposa tua
Verás em breve a singular Mathilde,
Da côrte portugueza esmalte, ornato,
Inveja de altas damas, que atavia
A triste viuvez co'a flôr das graças,
Co'a flôr dos annos, e um caracter puro;
Tu por ella entre mil preposto, eleito,
E que a ti sup'rior só vês o throno;
Envolves estes bens, estas idéas
Nas sombras de tenaz melancolia,
Pezada, mysteriosa, incomprehensivel!
Depois de longa ausência, ao berço, aos lares
De teus grandes avós tornado apenas,
Como que vives n'um desterro amargo,
Em vez de te sorrir, de recrear-te
No aprazivel theatro, onde exerceste
Os dôces brincos da mimosa infancia !
Ali! Se um servo fiel, se um servo antigo,
Que, egual na edade a ti, seguiu tégora
Teus passos, teu destino em toda a parte,
Se Anthero, honrado sempre, e sempre digno
Da confidencia tua, inda a merece,
Rompe um duro silencio, e deposita
Dentro em meu coração teus dissabores. l

JAIME

Rogerio foi perjuro ao rei, o á patria;
Não merece piedade, horror merece
Quem ao dever, e ás leis faz alta injuria.
E Eulalia, prole minha, horror não sente
De nefanda traição, de atroz delicto
Que, á falta de cutelo, exige o raio !
E Eulalia chora o pae, lamenta o filho !. . .
Que digo ! . . . Ama-o talvez, e irreverente
Ao dominio paterno, á voz do throno,
Um criminoso ardor, defezo, indigno,
Nos olhos, e nos labios denuncia!. .. 2
1 Nada mais achei pertencente a esta primeira scena. 2 Acho declarado que esta falia pertence ao primeiro acto,
porém não a que scena.
(Notas de Pato Moniz).

MATHILDE

Ramiro me abandona, é certo, Elvira,
Mathilde tem rival; por outros olhos
Enlouquece o traidor, arde o perjuro:
Os votos, que lhe ouvi, que os céos lhe ouviram,
Votos de um casto amor, lhe voam d'alma. l

ARNALDO

Vencido estás, a tua espada é minha:
Aprende a respeitar os desgraçados,
A acatar a virtude, e. .. vive.

RAMIRO

Oh raiva !
Eu vencido por t i ! . . . Mata-me, infame;
Como dadiva tua odeio a vida.

ARNALDO

Essas injurias vãs são meu triumpho...2

RAMIRO

O filho de Rogerio...
Desarmou-me.. . oh labéo ! Venceu-me... oh pejo !
O braço me trahiu, trahiu-me o ferro;
Pela primeira vez cedeu Ramiro
A contrario poder: não mais contemples
Meus titulos, meu grau ; perdi tudo,
Indigno sou de ti; suppõe-me extincto,
Suppõe-me aniquilado: a injuria é morte. 3
1 Egualmeute esta, que pertence ao terceiro acto. 2 Estas fallas tambem acho que pertencem ao quarto acto,
mas não designada a scena. 3 Tambem pertence ao quarto acto, e julgo que é logo na
scena immediata ao desafio.
(Notas de Pato Moniz).

EULALIA

Oppressor da ternura, e da innocencia,
Verdugo do infeliz, que extincto adoro,
Torpe de sangue, da perfidia negro,
De mim queres amor?... Eu só te posso
Amar como no inferno as Furias amam.
Eis o amor de que és digno: um ferro, a morte !... 1

RAMIRO

Oh céos!... Traidora... eu morro! 2

EULALIA

Acaba, infame,
Perfido, acaba: tendes mais um monstro,
Abysmos da medonha eternidade.
Agora que me resta?... O que? Remir-me
D'este carcere mundo, horrores todo. 3

Submited by

Domingo, Noviembre 1, 2009 - 19:09

Poesia Consagrada :

Sin votos aún

Bocage

Imagen de Bocage
Desconectado
Título: Membro
Last seen: Hace 14 años 32 semanas
Integró: 10/12/2008
Posts:
Points: 1162

Add comment

Inicie sesión para enviar comentarios

other contents of Bocage

Tema Título Respuestas Lecturas Último envíoordenar por icono Idioma
Poesia Consagrada/General ENDECHAS II 0 1.243 11/19/2010 - 16:54 Portuguese
Poesia Consagrada/General RETRATOS I 0 1.315 11/19/2010 - 16:54 Portuguese
Poesia Consagrada/General RETRATOS II 0 1.467 11/19/2010 - 16:54 Portuguese
Poesia Consagrada/General QUADRAS I 0 1.339 11/19/2010 - 16:54 Portuguese
Poesia Consagrada/General QUADRAS II 0 893 11/19/2010 - 16:54 Portuguese
Poesia Consagrada/General QUADRAS III 0 1.704 11/19/2010 - 16:54 Portuguese
Poesia Consagrada/General TRABALHOS DA VIDA HUMANA 0 1.611 11/19/2010 - 16:54 Portuguese
Poesia Consagrada/General ALLEGORIAS I 0 1.919 11/19/2010 - 16:54 Portuguese
Poesia Consagrada/General ODES ANACREONTICAS XI 0 982 11/19/2010 - 16:54 Portuguese
Poesia Consagrada/General ODES ANACREONTICAS XII 0 1.558 11/19/2010 - 16:54 Portuguese
Poesia Consagrada/General CANÇONETAS I 0 1.521 11/19/2010 - 16:54 Portuguese
Poesia Consagrada/General CANÇONETAS II 0 1.554 11/19/2010 - 16:54 Portuguese
Poesia Consagrada/General CANÇONETAS III 0 1.154 11/19/2010 - 16:54 Portuguese
Poesia Consagrada/General ODES ANACREONTICAS X 0 1.472 11/19/2010 - 16:54 Portuguese
Poesia Consagrada/General ODES ANACREONTICAS I 0 3.196 11/19/2010 - 16:54 Portuguese
Poesia Consagrada/General ODES ANACREONTICAS II 0 1.667 11/19/2010 - 16:54 Portuguese
Poesia Consagrada/General ODES ANACREONTICAS III 0 1.279 11/19/2010 - 16:54 Portuguese
Poesia Consagrada/General ODES ANACREONTICAS IV 0 1.214 11/19/2010 - 16:54 Portuguese
Poesia Consagrada/General ODES ANACREONTICAS V 0 1.487 11/19/2010 - 16:54 Portuguese
Poesia Consagrada/General ODES ANACREONTICAS VI 0 2.126 11/19/2010 - 16:54 Portuguese
Poesia Consagrada/General ODES ANACREONTICAS VII 0 991 11/19/2010 - 16:54 Portuguese
Poesia Consagrada/General ODES ANACREONTICAS VIII 0 1.606 11/19/2010 - 16:54 Portuguese
Poesia Consagrada/General ODES ANACREONTICAS IX 0 1.753 11/19/2010 - 16:54 Portuguese
Poesia Consagrada/Soneto Soneto Matinal 0 1.670 11/19/2010 - 16:49 Portuguese
Poesia Consagrada/Soneto Soneto da Porra Burra 0 2.317 11/19/2010 - 16:49 Portuguese