SOUVENIR DE AMOR * (Crônica)


SOUVENIR DE AMOR *

Aquele final de tarde, parecia comum, a patroa colocava algumas roupas na corda e cantava, acompanhando a Gal, com o som no último volume...

_ “Corre vem dizer pro meu benzinho que o amor é azulzinho...”.

Nisso chega a sua auxiliar, agitada e gritando para que a patroa a pudesse escutar...

_Patroazinha do meu coração, pare de cantar e venha cá... Eu tenho uma coisa pra lhe falar...

Disse a auxiliar, num tom perturbador de quem já não estava em si... Mas a patroa surpresa com o tom e a abordagem, insiste...

_Maria você andou tomando ou fazendo alguma coisa? Estou lhe achando tão estranha...

Maria, agora mais animada...

_Que nada! É que me ocorreu umas idéias, olhando este mar tão azul, esta praia tão atraente... Aquele sol a se pôr espalhando suas últimas centelhas do dia lá no horizonte da ilha...

A patroa desconfiada, mas, interessada nas reticentes palavras de Maria, deu espaço para a interlocução...

_Sabe patroazinha, vamos aproveitar esta “media luz”, correr para o barco e tomar banho, de “top less”... É uma sensação maravilhosa! Pura liberdade e emoção ao sol se pôr. Hoje a lua sai cedo, será outro espetáculo, que poderemos desfrutar... Mais tarde, assaremos queijo tomaremos vinho, ao som de uma boa música e retornaremos novinhas em folha!...

A patroa pareceu assentir...

_Parece bom, mas a história do top less me assusta um pouco...

Maria insiste novamente, queria experimentar aquela novidade...

_Que nada! Está na moda, todo mundo faz... E por aqui por perto só tem praias de nudismo... Ninguém nem vai perceber... É só imaginar que não há ninguém olhando e desfrutar da natureza...

A patroa cética vai à réplica, tréplica...
_E os pescadores nas jangadas passando a toda hora?

Insiste Maria, predestinada...

_Bobagem são todos conhecidos e não os deixaremos nos ver... Vamos!

A patroa, loira de cabelos longos encaracolados, usava uma tiara floral amarela... Olhos cor de mel, alta, alegre e bem humorada toda vida, aparentando tudo em cima...

A “caliente” e atiçadora Maria, bem mais nova, não perdia em criatividade e graça ... Uma beleza natural, sem os requintes da modernidade. Cabelos longos e negros... Usava uma presilha de contas coloridas.

Puseram roupas de banho, alguns apetrechos e complementos e lá se foram, com o sol bem baixinho, passeando pela areia branca em direção ao píer, onde o “Estrela da Manhã” estaria ancorado.

Logo estavam navegando pela orla, sempre vendo a praia, banhistas, coqueiros e o casario... Chegaram a uma praia particular, onde algumas pedras formavam piscinas naturais... Água azulada, cristalina deixava ver cardumes coloridos...

Peixinhos de tamanhos variados... Flora marinha com riqueza de detalhes que mais parecia um jardim de Burlemak, com esculturas arquitetônicas de Oscar Niemayer, só que ao nível divino, do Supremo Criador...

As meninas ficaram um bom tempo apreciando as atrações submarinas em volta do barco... Elas riam batendo as pernas naquele mar de mistérios e belezas...

Estavam tomadas pelo momento de encantamento, como crianças... Resolveram parar ali e mergulhar nos braços de Zeus. E que braços!

Conforme haviam decidido retiraram à parte superior dos biquínis... Passaram o filtro solar... Chapéus com abas protetoras, óculos escuros, tudo bem apropriado...

Aumentaram o volume do som, cantavam junto, requebravam no ritmo da dança... Aquela alegria era contagiante e não passou despercebida... Fizeram de conta que estavam sozinhas...

Perderam a noção do tempo e quando perceberam estavam diante de dois belos jovens também em trajes de banho... Olhar fixo nas garotas, em princípio nada falaram... Expectativa... Medo... Surpresa... Segundos eternos, de repente, um cumprimento, um sorriso...

Os rapazes vieram da praia nadando.

Tinham um corpo escultural, como se fora formado nas melhores academias... Estatura mediana, pele morena, olhos negros e insinuantes... O mais jovem com cabelos a altura dos ombros amarrados na nuca, lembrando um ator de novelas da TV Globo...

Eram filhos de pescadores, da aldeia local. Plenamente familiarizados com o mar e com veranistas... Viram as jovens a uma boa distância da praia... Perceberam a maré subindo e a noite caindo... Pensaram em ajudar, caso as moças necessitassem...

Pareciam educados e nem demonstraram perceber a ausência da parte superior das roupas das banhistas que... Àquela altura, se mostraram “naturais”... Mas na primeira oportunidade colocaram as cangas transparentes, dando um toque de sutil erotismo aquelas silhuetas, ao reflexo da cor amarelada do ocaso...

Eles ofereceram hospitalidade, as jovens, recomendando que não voltassem, naquela noite, o tempo havia mudado e seria muito perigoso, retornarem sozinhas... As jovens aceitaram aquele alerta, que soou mais como um grato convite... Deram mais alguns mergulhos e se entrosaram rapidamente, com as brincadeiras e brindes...

Assistiram vídeos, no home teacher do barco, vendo pela janela a luz da lua surgir, emprestando aos casais um clima de romance e sensualidade... “Pintou” um clima...

Surgiu espaço para a ternura de olhares, beijos, abraços e mãos, no ritmo musical, se é que era musical... Mas não dava para perder o compasso porque a natureza... A mãe natureza, já havia assumido o comando, do desejo, da paixão, sem deixar espaço para recriar fantasia, pois esta já havia começado, muito antes das meninas chegarem ao barco...

Não foi possível resistir ao calor da paixão... Amaram-se sobre o embalo das ondas, e não perceberam nem a barra do dia... O astro rei apontara soberano sobre a embarcação, frisando de ouro e prata as ondas em redor. Reproduzindo, cristais furta-cor, pérolas e diamantes, ao tocar o barco, espraiando-se em gotículas no ar... Um espetáculo, que poucos conseguem perceber, mas que não é tão raro assim...

Os encontros continuaram até o final da temporada. Quando se despediram, com um pouco de alegria e pesar... Todos voltariam para suas lidas, com novas bagagens de lembranças, um souvenir abstrato, discreto e residual de uma bela amizade... Alimento de cor e brilho, coisinhas felizes para levar para sempre...

*Núcleo Temático Romântico.
Ibernise M. Morais Silva. Indiara (GO), 30.07.2007
Direitos autorais reservados/Lei n. 9.610 de 19.02.1998.

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Lunes, Abril 14, 2008 - 19:19

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