Carta (a) Ver (de)
Um ano inteiro entre as florestas do meu País.
Pinhais de aromas verdes, resinados à morte, alguns, como o meu peito em ferida.
Feridas que as lembranças reabrem, quando traem a memória dos tempos em que as nêsperas eram mais doces quando descascadas por ti; dos dias em que o lusco fusco se abatia sobre nós, inesperadamente, depois de o ter(mos) esperado tanto.
Tardes mágicas, desde as manhãs em que te pressentia. E te sabia de cor. Ou quase. Porque nunca soube nada e tudo era uma surpresa constante, de espanto em espanto, mesmo os teus dedos sabedores de mim, com que me afastavas o cabelo dos olhos, onde eu ainda escondo as lágrimas, com que um dia te direi adeus.
A tua musica continua a (en)cantar-me mesmo nos dias em que não há Concertos. Concertada que está a partida (há) tanto anunciada.
Consertados que estão os telhados de cristal, por onde espreitava a tentação de ir mais além. E os teu braços de lenhador a ampararem-me esta queda de árvore que resiste à doença e quer morrer de pé. Por isso me misturo nos Pinhais, para que a morte não me encontre, entre tantas outras já moribundas.
Canto e sorrio, quando te lembras que existo algures, numa realidade paralela e impossível de se cruzar com a tua, onde as serras são da cor do teu olhar e o mar me exige não sei que afagos. Noites há, em que o lusco-fusco permanece dias seguidos, e quase que te sinto através das distância que vai daqui-aí, kilometros de ansiedade e frustração que aparta rotinas, instala solidões e vontades egoístas.
Sim, sei-te a sorrir, dum modo complacente que sempre me irrita, em que me fazes sentir uma menina tonta e romântica, sonhadora e irrealista. Complexa e até complicada para a tua paciência (que é tanta).
Sei-te responsável (tão atraentemente responsável) a trazeres-me de regresso a casa, numa protecção impossível de ignorar (a que chamamos amor) mesmo que seja para satisfazer o teu comodismo de não teres que te preocupar.
A morte, meu querido, continua a ser o momento em que deixarei de (te) sorrir. E de escrever o que não te digo.
Depois, quem sabe, se os anjos tocarão o piano adormecido e tu cantarás todas as canções que sei de cor, quando eu for apenas memória, decalque no teu corpo, onde escrevo poemas a tinta invisível, que tu não lês e o meu sabor é aroma das tuas manhãs, mesmo que já não te lembres quem fui.
(Amor e Musica, Mazgani "Somewhere Beneath This Sky")
Submited by
Prosas :
- Inicie sesión para enviar comentarios
- 1095 reads
other contents of AnaMar
Tema | Título | Respuestas | Lecturas |
Último envío![]() |
Idioma | |
---|---|---|---|---|---|---|
Poesia/General | Alma Nua | 4 | 2.710 | 03/15/2018 - 09:40 | Portuguese | |
Poesia/Amor | F(r)IO de SAL | 6 | 2.505 | 03/15/2018 - 09:39 | Portuguese | |
Poesia/Pasión | NÓS cegos ou o Passeio do Rei | 6 | 2.755 | 05/27/2012 - 13:20 | Portuguese | |
Poesia/Amor | 2012 (CONTÉM LINGUAGEM PARA ADULTOS) | 2 | 2.103 | 05/27/2012 - 13:13 | Portuguese | |
Poesia/Desilusión | PenteAR | 2 | 2.398 | 05/27/2012 - 13:10 | Portuguese | |
![]() |
Videos/Musica | The Smiths - Last Night I Dreamt That Somebody Loved Me | 0 | 3.021 | 12/09/2011 - 16:54 | Portuguese |
![]() |
Videos/Musica | Flunk - Cigarette Burns | 0 | 3.015 | 12/09/2011 - 16:50 | Portuguese |
![]() |
Videos/Poesía | A minha morte | 0 | 3.376 | 07/01/2011 - 23:34 | Portuguese |
Poesia/Amor | TE(i)A (FOR TWO) | 3 | 2.640 | 05/02/2011 - 00:47 | Portuguese | |
![]() |
Videos/Musica | While my guitar gently weeps - Santana | 0 | 3.491 | 05/01/2011 - 19:16 | Portuguese |
![]() |
Videos/Otros | Salvamento cão Cabo Espichel | 0 | 3.895 | 05/01/2011 - 19:11 | Portuguese |
![]() |
Videos/Musica | cocorosie by your side official video | 0 | 3.945 | 05/01/2011 - 19:06 | Portuguese |
![]() |
Videos/Musica | Marissa Nadler "Rosary" | 0 | 4.066 | 04/15/2011 - 00:27 | Portuguese |
Poesia/Pasión | Espelho da (minha) alma | 2 | 2.980 | 04/12/2011 - 12:58 | Portuguese | |
![]() |
Videos/Musica | Mazgani "Somewhere Beneath This Sky" | 0 | 3.882 | 04/12/2011 - 02:29 | Portuguese |
![]() |
Videos/Musica | The Wallflowers - 6th Avenue Heartache | 0 | 4.074 | 04/12/2011 - 02:25 | Portuguese |
Poesia/Dedicada | Lágrimas de luz_______ OU____ o sol, nota de musica de Piano____de Isabel MF | 3 | 2.594 | 03/30/2011 - 13:54 | Portuguese | |
Poesia/Pasión | Lacrimosa | 1 | 2.488 | 03/29/2011 - 15:24 | Portuguese | |
![]() |
Videos/Musica | Wim Mertens Iris | 0 | 3.708 | 03/29/2011 - 01:56 | Portuguese |
![]() |
Videos/Musica | The National - Fake Empire | 0 | 4.049 | 03/29/2011 - 01:53 | Portuguese |
Poesia/Pasión | Preto & Branco | 0 | 2.374 | 03/29/2011 - 00:40 | Portuguese | |
Poesia/Amor | Pedra da Lua | 2 | 2.417 | 03/29/2011 - 00:39 | Portuguese | |
Poesia/Pasión | Clarence Greenwood (ou como o azul pode ser verde se olharmos ao contrário) | 1 | 2.040 | 03/29/2011 - 00:17 | Portuguese | |
Poesia/Meditación | Abêcê............AVC........................ | 2 | 2.267 | 03/29/2011 - 00:05 | Portuguese | |
Ministério da Poesia/Amor | Música no coração | 0 | 2.151 | 03/28/2011 - 23:35 | Portuguese |
Add comment