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30

Íntima lástima lima-me,
lábaro ígneo flama-me.
Íngreme lâmina singra-me,
lágrima ínfima sangra-me.

Dor de dente é passatempo –
o maior inimigo da ataraxia
é o mosquito.
Tem também o cachorro do vizinho, claro.

Só não mato esse mosquito bobo
porque eu tô mais bobo do que ele.
Quanto aos cães,
minha opinião concorda com a dos gatos.

Conquanto chovesse,
vi que a noite vinha
e fechei o guarda-chuva
que do céu me abstinha.

Na neblina
o vento
esbofeteia meu rosto
e me ensina:
a vida é um sopro.

Meço-me em cada minímetro,
eu sou a medida
de todas as minhas coisas!

Se o cristo também morreu por mim,
morreu em vão…
Procura-se Ídolo:
vivo ou morto!
Tô fora!!!
Já tô com um pé na cova,
mas sempre com um pé atrás.

Com todo o meu latim
digo que excêntrico, fora dos eixos,
digo que ato ou efeito,
advérbio e conjunção,
digo certamente na verdade,
evidentemente sem dúvida,
é claro naturalmente,
irrevogavelmente de modo fixo,
digo o restante que resta,
demais além disso,
mas porém com tudo isso,
de outro modo no caso contrário.
Infalivelmente sem se enganar,
de que não se pode sair inextricável,
obscuro não esclarecido,
aí nesse lugar então
nesse momento nisso.
Tu não serve, servente!
Some, somente!
Sai fora, saliente!
Que que tem, tenente?
No que tange à tangente,
cadê a cadente?
Quem preza o presente?
Quanto está valendo um valente?
Que hora, Orient?
Que contas, contente?
Que há, acidente?
Leia, lente!
Late, latente!
Que dói, doente?
Paciente, que se passa?
A profetisa sibila
um sinal de silêncio.
Insta o instante –
agora é sempre
por todo o sempre amém –
mas adia mais adiante
e, mediante o que medeia,
deixa durar o durante.
Sucessivamente em seguida,
por ordem logo depois,
a seguir imediatamente,
todos os dias seguintes.
Que o tempo passa não é de hoje,
mas continua sempre presente.
Mas tem passado tão depressa
que quem ri melhor ultimamente?
Demais além disso, depois de tudo,
e antes de mais nada,
nos dias de hoje em dia
modernidade é o que há de mais atual.
Da firmeza à rigidez,
da dureza à inflexibilidade,
da persistência à teimosia,
da escatologia à coprolalia,
do lapso ao colapso,
poema que brita,
poema, que bruto,
poema, que brisa,
poema, que abrupto,
poema que brota,
poema que briga,
canção de derrota,
poema que abriga, poema, que droga,
poema que o diga!
Poesia para não ter que dizer
quando não há o que dizer;
poesia mesmo para desdizer
quando só há dizer.
Mas o que que você quer dizer com tudo isso??
Não diga! Só você mesmo…
Só você e deus…
Não percebe que vocês são apenas
fantasmas que invento
para me divertir?
Agora você já era –
quero ver sair dessa!
Agora Eu Sou, intransitivo,
absoluto e imanente,
simples assim,
referência pura,
fora de quem
nenhuma realidade existe!
Me disseram “se vira”
eis que de repente
virei a ser!
Atenção:
agora toda concentração
para um momento de descontração!

Lentidão sim, mas sem demora;
enlouquecer, mas para fora;
never more, só se for agora.

Vamos parar de zero-lero –
isso já encheu
todos os sacos sacolorum.
Prontos ou não – vombora!
Here we go – to the goal!
Apertem os cintos, amarrem as calças!

Suicida como um samurai
que quase no fim confundisse
hara-quiri com haicai –
PUXO O GATILHO! – ABRACADáVER:
HOC MAGNUS OPUS, HOCUS POCUS, HABEAS CORPUS!
Reinventio operis:ecce intentio operis!
Valhei-me, Minha Nossa Senhora da Eutanásia!
De maravalhas faço mil maravilhas!
Céu e terra come will down,
mas minha palavra now!
Trapos, trepas, tripas, tropas, trupes!
Traps, bad trips,
outros trampos, outros tropos,
outros troços, outros truques:
quero strippers em meu leito,
quero estupros no meu luto!
De recente a criatura se humana.
Eis que a coisa morta e enterrada
germina e recoisa!
Eis que bebo meu próprio defunto,
mastigo meu próprio cadáver,
instauro minha própria eucaristia –
ritual antropófago por vossa excelência,
e todo feliz da morte
renasço da minha própria
Quarta-Feira-de-Cinzas,
língua morta em carne viva!
VIVA EU!
Daqui pra frente
é tudo frangalho daqui pra trás!
Mas desperto na mó ressaca moral:
o que eu tenho sido, já era;
o que sou, não mais serei;
ontem fui o que não sou;
hoje sou o que não sei…
Antiácido efervescente:
que que foi que aconteceu?
E o invento levou…
Não deu tempo nem de anotar
a placa do que me passou pela cabeça…
Cabeça de vento,
vá lutar com moinhos de novo!

A religião é mãe da intolerância
e avó da guerra –
e toda religião nasce com um poema.
Só a boa poesia e o bom uísque
melhoram com o trespassar do tempo –
quanto mais velho,
mais fresco é o seu sabor.
Mas serão os poetas grandões
que não se mostram inteiros de uma vez
ou a história é que lhes aumenta o que não tinham?
Poesia, Poesia!
Que queres ainda nesse mundo tão prosaico? Bestsellebrizar-se?
Ser eterno é lamber o sapo
das futuras gerações!
Por que não compactuar simplesmente
com a crítica literária
e descansar na paz de uma tese de mestrado?
Ou tentar fugir do significado
que nem o diabo foge da cruz –
escondendo-se atrás dele?
Que o leitor ideal te fuzile,
meu canto; que o leitor real
te esquarteje, te rasgue,
te risque, disseque,
ou então lave em água
a no máximo 60ºC
evitando amaciante em excesso
e produtos clorados
e te passe a ferro
à temperatura máxima de 150ºC…
Se liga, tô nem ligando!
Problema é teu, meu!
Se vira que tu não é quadrado!
Xá ROLá!!!
Mas quem te porá ponto final
a essa altura do campeonato?
Não mais, Musa, não mais que a lira!
Já tô c’o saco cheio dessa porra!
Mas quem não se enche de si mesmo
não atinge o topo.
Essa auto-insuficiência
é a origem de toda deficiência.
Abre os olhos, meu!
Vamos abrir as portas da percepção!
Eis que Narciso abre o olho
e enxerga que você e eu
somos a mesma pessoa.
Com as pulgas de mil camelos!
Somos todos do tamanho dos nossos pesadelos!
Espelho, espelho meu,
conhece alguém que te ama mais do que eu?
Pois decerteza que nanja, manja?
Sou louco pelo eletro-choque do teu olhar.
Longe de mim ficar longe de você!
O fole do fôlego nos afague nosso fogo,
de cabo a nababo,
do entusiasmo à apoteose,
na salud e nas indolências,
até que a morte nos renasça!
Onde a palavra mágica
para decifrar tuas cifras,
cifrinhas e cifrões,
demodular teu modo de ser,
deslindar tua beleza?
Para desfolclorizar teus tímpanos?
Desquitemo-nos e fiquemos quites.
E fiquemos.
Tá rolando um clímax!
Sou meu próprio outro,
uma ponte entre o que fui
e o que não serei.
Temos pontos e vírgulas em comum –
nossos pontos mais cruciais.
O outro é o que trazemos dentro de nós.
Deus está mais próximo
do que nossa jugular.
Nós – quem nos desata?
Ora, parola!
Avemaria, palavra!
Dá-lhe poesia pura e sem gelo:
não meras imagens poéticas,
sombras de assombrações…
Haja entusiasmo pleno e etimológico –
Saravá, seu Zé Pilantra!
Minha-nossa-senhora-desaparecida!
ADN, Adonai – Saravá, meu pai!
Nós – quem no-los desata?
Ora, parábolas…
Santificado seja o Nosso nome!
Nós cegos não têm nada que ver com a gente.
Eis que todo delírio se ajoelha –
e ajoelhou, tem que chupar!
Eis que toda verdade se põe de quatro,
aberta à penetração do entendimento!
Revogam-se as indisposições em contrário.
Eis que não menos que de repente
entende-se que entender
é violentar a realidade,
ser violentado por ela.
Eis que do fundo mais profundo
do último abismo da dor,
arreganha os dentes o sorriso
da penúltima verdade –
escancarada que nem uma puta!
Eis que convoco sol e chuva,
lua cheia, raio e trovão,
todos as deusas e deuses para este bacanal –
e os infinitos deuses se mostram
em tudo em que se escondem
e demonstram o velho monstro –
NÃO EXISTE NADA QUE NÃO EXISTA!
Eis que recriamos deuses
à nossa Imaginação e Verossimilhança!
Eis que dançamos no altar de Afrodite,
a Deusa Natural, que até os bichos cultuam!
Eis que contemplamos Selene,
por pura entrega à sua prata,
eis que ressuscitamos
os deuses da sanguificina
num estupro ritual,
altar da beleza,
calvário da beleza,
uma claque de risadas
sobre uma tela de explícito,
orgia plena –
amor no plural faz amores.
O massa do massacre
não é que nem a massa falida crê –
é o seu lado divino que assusta.
Sim! Eis que em meio à mais perfeita ordem,
por entre freiras grelhadas,
virgens esquartejadas,
santas assadas no espeto,
ainda é possível assassinar alguns sonhos
e escancarar os olhos.
Espreguiçando suas pétalas,
boceja a planta sarcófaga –
traiçoeira, assassina
a mosca que veio beijá-la.
Sim! Eis que o soneto se sai
melhor que a encomenda –
e sem mais nem meio mais,
do cerne da Ilha dos Prazeres
a Máquina do Universo
se desnuda bem diante
do nosso piscar de olhos!
Sim! Eis que Eros e Thânatos
dançam sim coladinhos
e tudo estremece sim
nesse espasmo sim eu quero
sim eu digo ssssssssssss!!
Haverá de ser a cura
ou é só o paroxismo? –
Abismo chamando abismo…

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domingo, dezembro 20, 2009 - 04:27

Ministério da Poesia :

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MauroBartolomeu

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