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A cidade mágica

Naquela cidade, os sonhos vinham pelo mar em forma de ondas e chegavam sempre à tarde, na hora mágica.

Só a lua se deu conta que naquela hora mágica, ela caminhava nua pela praia e ele caminhava atordoado na areia à procura dela.
Eles amaram-se com sofreguidão. Os corpos suados marcados pelo desejo, bem perto do mar.
O mar adentrou os corpos ressaltados perpetuando a sua maresia.
Amaram-se com o corpo lavado, salgado pela embriaguez do mar. E pela noite dentro foram-se amando debaixo de chuva e só o mar abria os braços para envolve-los na esperança de deixar as suas marcas.
As brumas embatiam nos corpos sôfregos que bramavam sussurros e gemidos de prazer.
Molhados pela chuva, salgados pelo mar, dois corpos se amaram, enrolados na areia e banhados pelo luar.

Naquela cidade, os sonhos vinham do mar e os seus sussurros mágicos enfeitiçavam a areia.

Mas é claro que naquela cidade era tudo bom demais para ser verdade.

...a escuridão abraçava com ternura sob o pálido reflexo da lua aqueles amantes furiosos e sedentos do mar que os enfeitiçara. Após a troca de corpo, presenciaram algo que não tinham experimentado antes...o vazio profundo do mesmo mar que os acolhera em vagas intensas. A maré descia lânguida e com ela trazia a realidade que se escondia dentro deles.

Ela olhou-o nos olhos com o seu olhar de felina incitando-o a repetir. Dos seus lábios brotavam ainda pequenas marcas do desejo consumado e não saciado.
A ânsia apoderava-se dela. E se ele não voltar amanhã, pensava.
Não, não pode ser. Tenho de o ter outra vez.
Ó mar salgado, que me vestes nas noites de luar, atira-me as tuas ondas e deixa-me sentir mais e mais uma vez esse teu gosto.

E nas areias batidas pelo mar como se a mão esquerda da Criação ouvisse os seus apelos o mar voltou a moldar o homem que desejava. Ela o acolheu em seus braços, mas antes o mar feiticeiro exigiu um pacto que selava um desígnio sobrenatural.
- Por agora deixo-vos entregues ao teu apelo, sussurrou o mar, na próxima maré eu virei e tu me concederás o meu tributo.

Ela estremeceu de pavor, mas o desejo que sentia por aquele homem sobrepunha-se a todo o receio do que o mar lhe viesse a exigir.
Entregou-se aos braços daquele ser fenomenal, sem recear e sem questionar qual seria o tributo a pagar por mais um desejo concedido.
As bocas ávidas uniram-se numa valsa compulsiva sem fim. O corpo másculo dele fazia pressão sobre o dela, que deitada na areia se deixava embalar pela doce e suave melodia dos sussurros dele.

E num intenso espasmo de libertação os dois corpos fundiram-se como um só, e a magia que emanava de tal união nessa noite frutificou. O mar que assistia sereno á comunhão sorria em ondas de espuma que os banhava em salgados beijos de ternura e expectativa.
Na madrugada o mar sussurrou á mulher saciada e disse-lhe:
-"Tens em ti o fruto do amor concebido por nós e esse fruto será um ser como nunca existiu antes. Um dia quando ele estiver pronto virei reclamá-lo, e tu, Mulher o libertarás dos teus laços. Esse é o teu tributo. A mulher concordou mas tinha outros planos.

A lua, que agora se recolhia, continuava a observá-los num tom pálido semeando pela praia uma luz esvanecida, como se atemorizasse perante a imposição do mar.
Ela, deixou a praia sem se voltar para trás. Não o podia fazer pois no seu olhar adejava um brilho, um misto de prazer e de confiança.
Esperemos para ver se assim será, pensou para com os seus botões.
Ele, agora taciturno, contemplava o seu andar descontraído pela praia. Aquele movimento de ancas que tanto o seduzia e que muito provavelmente lhe poderia tirar mais do que alguma vez lhe tinha dado.
- “Voltas á hora mágica?”- perguntou ele.
Mas ela já não ouviu. Ela só pensava no fruto que carregava dentro de si e como havia de fugir á injunção do mar.
Veremos se me roubarás o meu sonho, dizia para consigo. Veremos….

E tal como fora concebido para uma noite mágica o mar reclamou-o e nas ondas de paixão o Homem voltou a transformar-se em areia. Ela voltou-se por um momento contemplando-o com um remorso de pecado original e as areias que batidas pelo mar serpentearam de volta ao leito nupcial. Na cidade. o despertar súbito iniciava-se dando lugar ao sol que despontava despedindo-se das cascatas de néon e luzes artificiais expondo a urbe á sua cruel luz, e que tudo revelava como uma película diáfana que encobria e iludia quem lá vivia. Ela, caminhava por jardins de cimento e torres de vidro e os seus passos guiaram-na á única casa que resistia ao torpor cinzento que envolvia a cidade para lá dos limites do néon ilusionista. A casa da Colina Branca acolhia-a no seu aconchego.

(continua)

Maria Escritos
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quarta-feira, janeiro 27, 2010 - 20:43

Ministério da Poesia :

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