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Aquella Orgia

Aquella Orgia

Nós eramos uns dez ou onze convidados,
- Todos buscando o gozo e achando o abatimento,
E todos afinal vencidos e quebrados
No combate da Vida inutil e incruento.

Tocava o termo a ceia - e ia surgindo o alvor
Da madrugada vaga, etherea e crystallina,
A alguns trazendo a vida, e enchendo outros de horor,
Branca como uma flor de prata florentina.

Todos riam sem causa. - A estolida batalha
Da Materia e da Luz travara-se afinal,
E eram já côr de vinho os risos e a toalha,
- E arrojavam-se ao ar os copos de crystal.

Crusavam-se no ar ditos como facadas;
Escandalos de amor, historias sensuaes...
- Rolavam nos divans caindo, ás gargalhadas,
Sujos como truões, torpes como animaes.

Um agitando o ar com risos desmanchados,
Recitava canções, farças, Hamlet e Ophelia;
- Outro perdido o olhar, e os braços encruzados,
De bruços, n'um divan, roia uma camelia!

Outros fingindo a dôr, fallavam dos ausentes,
Das amantes, dos paes, com gritos d'afflicção,
- Um brandia um punhal, com ditos incoherentes;
- Outro sobre um sophá ladrava como um cão.

Era um delirio atroz de risos pelos ares!
- Ah! mas eu, que só quero a paz dos vegetaes,
Feliz! então feliz! matava os meus pesares
N'aquelle ocio imbecil da pedra e dos metaes!

Havia extinto em mim as ultimas scentelhas; -
Julgava achar-me só n'aquelle phrenesim,
Não sentia pungir as minhas magoas velhas,
Feliz! muito feliz! - ah! descansava emfim!

Repousava a final da pallida batalha,
Espalhava-se em mim o grande esquecimento;
Cuidava achar-me emfim cingido da mortalha,
Ou minhas cinzas já dispersas pelo vento.

Quando um d'elles então--n'uma ironia rude,
E erguendo-se de pé, na vasta confusão,
Com um rir bestial ergueu uma saude
- Áquella que tornou-me em cinza o coração!...

..........................................

- Ah! seu nome cruel, de subito lembrado,
De novo reabriu todas as minhas magoas!
E desfeito, de pé, senti-me transmudado,
Como um morto trazido á praia pelas aguas!

E como o morto errante ás luas silenciosas,
Ao vento, aos temporaes, ás algas das marés,
Trazendo inda a visão das noutes tempestuosas,
- Todos calou o horror da minha pallidez.

E em lagrimas bradei, então: - Ó Infelizes!
Imbecis! histriões! heroes do Soffrimento!
Como haveis de fechar as vossas cicatrizes,
- Se nem aqui deixaes matar o pensamento?!

António Gomes Leal

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quarta-feira, abril 1, 2009 - 02:59

Poesia Consagrada :

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