Víboras

Pequenas minhocas inofensivas
Que se acoitam no meio dos outros.
Tão moles, tão dolentes
Tão indefesas, tão humildes.
Alimentamo-las com leite e desvelo
Ensinamo-las a caminhar nos dois pés
Deixamo-las crescer e engordar
Ensinamo-las a caçar e a pescar

Agora enroscam-se e apertam
Sufocam-nos
Agora engolem-nos inteiros
Picam e deixam o veneno
Infestam tudo
Esmagam os pardais incautos
Gordas e desmedidas
As víboras não têm coração
Nem moral, nem princípios
As víboras têm natureza
E a natureza da víbora é ser víbora.