ÁRVORE SEM VIDA

O fim do mundo
fica onde o meu rio desaba
onde o caminho árido
em corvos e raizes se acaba

Os raios descem do céu
como anjos caídos
e a árvore da vida
segue-me por caminhos perdidos

Vou semeando esperança
pela areia seca que calco
faço da morte dos outros
o meu grande palco

Borboleta sem côr
acaricia o meu dedo
e ao longe os lobos procuram migalhas
lutando como bestas sem medo

O beijo que não esqueço
ficou guardado no reflexo
do meu retrato de sangue
pintado em movimentos sem nexo

Procuro uma explicação
num livro de palavras sábias
nas sombras que fogem
no grito feroz do lobisomem

E a fé cinzenta que alegra
esta igreja despida de consciência
é rosto de criança
espoliada da inocência.

Fechaste a porta
que reforcei com cadeado
e o espaço outrora aberto
é hoje um mundo fechado

E a estátua inérte em sua grandeza
feita de pedidos desesperados
proibida de entrar em minha casa
onde os sonhos são beirais descansados

Corre o rio para a nascente
em paisagem decadente
e os corvos levantam-se em segredo
pintando o céu de negro