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Noite no campo de ti.

Deitar-me-ei em teu solo por apenas mais um dia, pois me cravam as rosetas de tua pele seca, desidratada e febril. Não posso adormecer em teus sonhos e sentir-me refeita ao amanhecer, pois teus espinhos ficam-me incessantemente e mesmo quando não estão, as pústulas que ficaram das perfurações anteriores vertem o sal de minha alma criando crostas azedas em minha costas nuas. Sou um ser em chagas, cuja saliva esgota-se a cada arranhão de teu solo. Não consigo mais sobreviver nesta sépsis de pelos nús que revoltos grudam-se às lembranças do que um dia foi um chão de alabastro alvo e liso.
Hoje sou o resultado da lepra que carrego, juntando os pedaços que doei pelo caminho, mas como carne espúria, foram queimados na fogueira das vaidades. Então cauterizo-me com as incandescentes brasas dos desejos que queimam minhas mãos burras, que querem agarrá-las sem proteção. Essa sou eu, um coração envolto em uma epiderme em chagas, queimando em ardente febre que consome as horas e os desalinhos de um ser que não se pertence, sem chão para deitar-se, nem catre para esgotar-se até a hora da morte. Por isso permaneço sobre este capim selvagem em que me deito e finco-me com as rosetas de teu chão. Mas mesmo assim, é melhor que estar morta e apenas, apenas a lembrança longínqua de pele exposta ao confortável sol primaveril na enseada do teu mar, onde deitávamos e éramos perfeitos e intocáveis, me conforta, a lembrança de nossos frutos que nasceram fortes a guisa do chão árido de nossas almas, me fazem ainda querer respirar.

Por isso ainda acredito em mais um dia e, mesmo agônica, deito-me à espera de um mágico remédio que cure minhas chagas ao amanhecer.

Há de se saber o destino da vida? Muito menos o caminho da morte. Estamos à deriva deste vendaval que varre os campos sem piedade.

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sexta-feira, junho 11, 2010 - 23:56

Poesia :

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analyra

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Comentários

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Re: Noite no campo de ti.

Tão triste que chega a doer-nos,
tão belo que me deixa sem palavras.
Gosto muito também de te ler neste registo.
Um beijo, Ana e... força!!!
Vóny Ferreira

imagem de LilaMarques

Re: Noite no campo de ti.

"Por isso ainda acredito em mais um dia e, mesmo agônica, deito-me à espera de um mágico remédio que cure minhas chagas ao amanhecer."

Em teu texto, uma imensa dor e uma sempre esperança, força que nos permite continuar!

Um beijo, amiga, no aguardo deste mágico remédio!
Lila.

imagem de Mefistus

Re: Noite no campo de ti.

Um capitulo sugestivo, numa prosa intimista e alucinante na forma e na acção.

Sempre fantástico te ler!

Essa sou eu, um coração envolto em uma epiderme em chagas, queimando em ardente febre que consome as horas e os desalinhos de um ser que não se pertence, sem chão para deitar-se

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