CONCURSOS:

Edite o seu Livro! A corpos editora edita todos os géneros literários. Clique aqui.
Quer editar o seu livro de Poesia?  Clique aqui.
Procuram-se modelos para as nossas capas! Clique aqui.
Procuram-se atores e atrizes! Clique aqui.

 

O flanelinha e a puta (parte 1) - o flanelinha

Por coincidência encontrei os dois no mesmo dia.
O flanelinha em frente ao Banco do Brasil
Tarde de calor como é costume em Cáceres
O sol abrasador no seu fulgor tradicional
E lá estava ele para cobrir a moto com um papelão.

Ao sacar o dinheiro no caixa eletrônico
Depois de esperar em uma fila enorme
Em um banco que mais parece uma lata de sardinha
Separei os dois reais para entregar-lhe ao sair.
Nem me julguem se isso é certo ou errado
Cada um age de acordo com sua consciência.

Ele sorriu para mim ao ver que lhe daria dinheiro
Os dentes apodrecidos, mas feliz,
As mãos sobre a testa empoeirada e cheia de suor
Tentando se livrar do sol que batia em seus olhos.
- Obrigado moço – disse ele – você é muito gentil
Quase ninguém faz isso.

Olhei para os lados e as pessoas caminhavam freneticamente
Cada uma em seus pensamentos
Com seus problemas particulares
Contas para pagarem, dificuldades para resolverem.
- A vida é assim mesmo – disse-lhe.
Sorriu.

Poderia ter feito como sempre faço:
Subir em minha moto e ir para casa ou trabalho
A vida segue seu curso, afinal.
Mas, do nada me veio a ideia
De chamar aquele homem castigado pela vida
Para tomar um suco de laranja.
Ele sorriu mais uma vez:
- Sério?
- Sim. Com uma condição. Você me conta porque está nesta situação.
Topou e fomos tomar o suco na lanchonete.

Dei-lhe a liberdade de escolher um salgado
Ele comeu dois.
Enquanto comia ele me contou a sua biografia:
Não tivera oportunidades de estudar
Nunca conheceu o pai e a mãe não teve como sustentá-lo.
Viveu parte da infância com a avó,
Mas ela morreu e ele resolveu viver nas ruas.
Usava drogas (só para manter a vício)
- A vida não é fácil, moço!

Não posso expressar a sensação que tive ao vê-lo comer o lanche
E ele sorria ao contar-me a sua história.
- É bem concorrido aqui
Tem bastante gente precisando ganhar uns trocados.
Então, não resisti a pergunta que me incomodava:
- Quanto você consegue tirar com esse trabalho?
Ele fez uma cara séria. Pela primeira vez não sorriu.
Mas, foi por pouco tempo,
Logo abriu um largo sorriso
Mostrando os poucos dentes que ainda lhe restava na boca.
- 50, 80. Depende do dia e da boa vontade das pessoas.
Não sei dizer se isso é muito ou pouco
Não fiz a conta para saber quanto dá no final do mês
Mas, é uma vida miserável depender dos outros.
- Pelo menos não estou roubando.
Verdade. Pensei comigo.

Ele me agradeceu pelo lanche
Falou-me palavras de agradecimentos e sorriu mais uma vez.
Não sei por que, mas senti vontade abraça-lo.
Claro que ele se assustou
E as pessoas ali na lanchonete também:
- Vá com calma – disse ele – não sou gay nem gosto disso.
O que fazer?
Também não sou gay e nem era essa minha intenção.
Vi ele se afastando balbuciando alguma coisa:
- Esses engomadinhos! Tudo boiola!

(Continua...)

Poema: Odair José, Poeta Cacerense

www.odairpoetacacerense.blogspot.com

Submited by

terça-feira, julho 30, 2019 - 00:02

Poesia :

No votes yet

Odairjsilva

imagem de Odairjsilva
Offline
Título: Membro
Última vez online: há 13 horas 49 minutos
Membro desde: 04/07/2009
Conteúdos:
Pontos: 19648

Add comment

Se logue para poder enviar comentários

other contents of Odairjsilva

Tópico Título Respostas Views Last Postícone de ordenação Língua
Poesia/Desilusão Saudade sentida 7 273 07/06/2025 - 13:58 Português
Poesia/Pensamentos Ode à Filosofia 7 403 07/05/2025 - 20:02 Português
Poesia/Meditação Quem ouve as minhas palavras 7 457 07/04/2025 - 19:24 Português
Poesia/Pensamentos Fomos iludidos pelo tempo 7 637 07/04/2025 - 02:05 Português
Poesia/Amor O sentimento que guardo em mim 7 605 07/02/2025 - 22:18 Português
Poesia/Meditação A arte de existir sem medo 7 483 07/01/2025 - 23:13 Português
Poesia/Amor O brilho desse sorriso 7 794 06/30/2025 - 13:29 Português
Poesia/Pensamentos Sonhando com o infinito 7 1.068 06/28/2025 - 14:45 Português
Poesia/Paixão A meiguice do teu olhar 7 740 06/27/2025 - 16:38 Português
Poesia/Pensamentos Não é sobre entender 7 1.205 06/26/2025 - 20:24 Português
Poesia/Amor No teu aconchego 7 853 06/25/2025 - 18:37 Português
Poesia/Amor Não me esqueço do teu olhar 7 787 06/24/2025 - 18:26 Português
Poesia/Meditação Quem nos desafia a crescer 7 605 06/23/2025 - 18:42 Português
Poesia/Paixão O desejo que provocas em mim 7 614 06/22/2025 - 12:46 Português
Poesia/Meditação Onde mora a verdade 7 624 06/21/2025 - 13:57 Português
Poesia/Amor Não há caminho longe de você 7 621 06/20/2025 - 13:48 Português
Poesia/Desilusão É o coração quem paga 7 736 06/19/2025 - 18:27 Português
Poesia/Desilusão Sem o teu sorriso 7 797 06/18/2025 - 23:44 Português
Poesia/Meditação Quando me lembro de mim 7 588 06/18/2025 - 16:45 Português
Poesia/Meditação Quando me isolo 7 987 06/17/2025 - 18:24 Português
Poesia/Pensamentos O sentido corrompido 7 1.216 06/16/2025 - 18:55 Português
Poesia/Alegria Cada livro na estante 7 723 06/15/2025 - 14:46 Português
Poesia/Pensamentos Um tipo de silêncio 7 1.189 06/14/2025 - 14:55 Português
Poesia/Desilusão A ausência revela 7 572 06/13/2025 - 19:49 Português
Poesia/Intervenção Antes do começo 7 2.176 06/12/2025 - 18:41 Português