Pantomima

Vem, por favor, e fica ao meu lado.
A pantomima completemos.
O drama há muito foi elaborado.

Já decoramos, de cada um, as falas.
Os gestos e expressões ensaiamos.
Os adereços cobrem nossos corpos.
Nossas posições já estão marcadas.
O cenário restou perfeito.
O teatro encontra-se repleto.

Vem, deveras, e comigo digladia.
Quem melhor interpretará seu alter ego?
Qual de nós vilão ou herói será?
Ou seremos nós os dois?
Quem primorosamente irá,
com seus diálogos, conquistar a platéia
e despertar suas amortecidas emoções?

Agora, nesta arena,
daremos asas ao que negamos,
ao que esquecemos ou repudiamos.
Nesta peça gritaremos nossos anseios,
choraremos por tudo o que perdemos ou ganhamos.
Daremos vazão ao nosso comum ódio ou afeto.

Os espectadores ouvirão com cuidado.
Chorarão ou rirão conforme nossos anelos.
Bradarão em aplausos ou silenciados serão
pelo mais cruel desprezo.
Comentarão que, pela paga,
o espetáculo foi grandioso ou pequeno.
Mas não perceberão, jamais,
que nos atos encenados
desvelamos nosso íntimo segredo.

Portanto, vem!
Tenta, no tablado, ganhar teu reconhecimento,
pois, perante o mundo e o tempo,
morrerei dissimulando que a ti conheço.

(11/11/2010)