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Rosa do Mundo (Ossip Mandelstam)

Não, eu não sou de ninguém contemporâneo,
para uma honra tal não estou pronto.
É que nojo me provoca um tal homônimo,
dizer que não fui eu, foi o outro.

Duas sonolentas maçãs o século-rei ostenta
e magnífica boca de barro,
mas, moribundo, à mão enlanguescente
do filho a envelhecer se agarra.

A compasso do século ergui também as pálpebras
doentias – duas maçãs grandes.
Contavam-me histórias de humanos pleitos inflamados
os rios largos e retumbantes.

Há cem anos branquejava com suas travesseiras
uma cama leve e desdobrável,
e estirou-se estranho o corpo de barro, a primeira
embriaguez do século findava.

Bem no meio da marcha tão rangente do mundo,
como é levíssima esta cama!
E pois não podemos forjar um outro do fumo,
com este século convivamos.

Num quarto quente, ou numa caverna, nas tendas
morre o século – e por último
sobre hóstia córnea duas maçãs sonolentas
resplandecem num fogo de pluma.

Ossip Mandelstam, poeta russo (1891-1938).

(in "Rosa do Mundo - 2001 Poemas para o Futuro";
tradução: Nina Guerra e Filipe Guerra).


 

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domingo, agosto 28, 2011 - 20:34

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