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Ânsia

Acordei tomada por uma grande ânsia, que me sufocava o peito, fazendo-me perguntar por que eu me sentia tão caótica e perdida. Eu andei devagar, temendo que o chão sob os meus pés se esfacelasse e eu caísse em um abismo desconhecido do qual não mais pudesse sair.
Meu lado racional me indagou: "Faz sentido estar assim, entontecida, á beira da loucura?" 
E eu respondi: "O que, na verdade, faz sentido? Faz sentido que eu tenha nascido e esteja neste mundo?"
Cansado de lutar comigo, meu lado racional falou:"Vai, se quer se entregar ao caos, entregue-se, mas não se queixe quando vierem as consequências."
Minha primeira reação foi ficar quieta, estendida no chão, sentindo minha vida passar como um sopro frágil e tímido ao mesmo tempo em que eu permitia que minha ânsia me agredisse impiedosamente, convidando-me a mergulhar nas trevas definitivas da loucura.
Será que era certo eu me permitir enlouquecer, vendo meus sonhos e pesadelos dançando ao meu redor, cantando com vozes roucas e desafinadas enquanto eu me questionava se seria capaz de voltar a me encontrar.
Porém,havia algo que eu nunca entenderia: o que realmente significava eu conseguir me encontrar. Significaria me moldar totalmente ao mundo das regras inventadas ou romper com tudo que me cercava? 
Encolhi-me, imaginando-me dentro de um ovo, sabendo que, qualquer que fosse a minha escolha a respeito do meu destino, eu teria que agir. Isto me fez questionar se eu conseguiria me mover, sair da casca e conhecer o que eu sempre soube existir além de meu limitado ambiente.
A ânsia piorou, enchendo-me de dor, e isto me causou uma alegria insana, pois eu percebi que, se eu ainda sentia dor e angústia, então, as minhas emoções mais puras e primitivas não estavam mortas como eu supusera, apenas profundamente adormecidas e agora, ressurgiam, atrevidas e palpitantes, percorrendo com ardor minhas veias, artérias e os poros da minha pele. A intensa perturbação me levou ao medo de nunca mais saber quem eu era ou qual era minha posição no mundo. Então, eu me concentrei em mim mesma, esperando que as forças latentes finalmente saíssem de dentro de mim e eu me revelasse como uma borboleta saída do casulo.
E minha ânsia se fortaleceu, agitando-se em mim, obrigando-me a me mover, porque eu entendi que não adiantava mais fingir. Há muito tempo, eu deixara de ser quem o espelho revelava. Minhas emoções, meus sentimentos e minhas necessidades tinham se incendiado, reduzindo-se a cinzas e ressurgido inúmeras vezes, destruindo-me e reconstruindo-me, forçando-me a olhar o mundo fora de mim e à minha própria alma. Ora eu precisava me fechar, ora eu precisava me abrir, arriscar-me e consentir que as coisas me ferissem para que eu compreendesse não apenas a realidade geral, mas também a minha realidade particular, a que eu criara e onde me encerrara para me proteger das inseguranças geradas pela imensidão que me cercava.
Toda a ânsia foi se enraivecendo, dando-me a certeza de que eu realmente não sabia do que eu precisava e cabia a mim descobrir. 
Descobrir o que podia me salvar me amedrontava, pois exigiria que eu iniciasse uma longa caminhada que me levaria a ver o melhor e o pior da minha personalidade e eu não sabia se estava pronta para me ver no espelho que mostraria meu lado mais obscuro. Saber que o meu lado obscuro estava me espreitando me levou a entender o que estava causando a minha ânsia: eu não podia mais fazer de conta que tudo era simples e que eu me contentava com os episódios prosaicos da minha vida.
O meu lado racional se zangou e me disse:"Você tem estado bem até agora! Por que se entrega a essas divagações idiotas que a fazem mergulhar no vazio em busca de respostas que talvez nunca venha a encontrar?"
Brutalmente, tapei os meus ouvidos e gritei:" Estou cansada de fingir que não existe o meu lado mais passional, que é movido por forças inexplicáveis e misteriosas! Você quer que eu sempre me ocupe com coisas prosaicas e fuja do que é mais importante, que é me encontrar com o meu "eu" no seu estágio mais primitivo."
Vencido e desgostoso, meu lado racional berrou:"Vá, então! Vá encontrar o mundo inexplorado dos sentimentos instintivos que fazem parte de todos os tolos seres humanos!"
E eu me permiti visualizar, conhecer-me, esperando que a minha experiência fosse única e me levasse para mais perto de mim mesma. A ânsia foi se revelando, menos hostil e mais disposta a falar: "Por que você não permite que eu a leve ao infinito?"
Respondi:"Tenho medo de me entregar, de me abrir."
E minha ânsia me disse:"Você tem que se entregar. Apenas assim, você terá experiências verdadeiras e gratificantes. Dê-me sua mão. Eu sei que teme se entregar, porque isso significa dar o seu coração, expor-se. Quando nos expomos, ficamos vulneráveis, e podemos ser feridos, mas temos de nos arriscar para saber o que pode nos acontecer, o que somos capazes de enfrentar e as nossas habilidades passíveis de ser desenvolvidas. Viver machuca, porém, traz-nos experiências enriquecedoras e únicas. O autoconhecimento não vem com a reclusão, mas com o convívio com os demais, a observação e a coragem de mergulhar no novo. Não aprendemos sobre o mundo lendo ou ouvindo sobre as coisas, mas participando da vida, minha cara."
Eu ignorava se tinha coragem de me render definitivamente ou se continuaria resistindo e me pus em posição relaxada, não querendo pensar nem decidir, mas apenas sentir a dor intensa que envolvia o fato de estar viva, junto com a certeza de que precisava encarar diversas verdades acerca da vida: eu nunca poderia dizer "a vida é boa" ou "a vida é ruim", porque a vida é um conjunto de coisas boas e ruins, as quais devemos aceitar como interdependentes. Não podemos querer apenas o que é bom, pois o ruim vem junto com ele e ambos se completam, formados por minúsculas partes que se violentam continuamente, reagindo entre si com agressividade por nunca se compreenderem inteiramente. É justamente por essas partes jamais se harmonizarem que a vida é tão complexa. 
Como se lesse os meus pensamentos, a ânsia me indagou:" Então, quer experimentar o que é realmente viver?"
Ainda medrosa, retruquei:" O que ou quem serei após passar por tudo que você me oferece?"
Complacente, ela falou: "Tudo dependerá de como você reagirá ao que lhe for revelado e do qeu você decidir a respeito de si mesma."
Decidida, resolvi: "Vamos, sei que sou mais do que vejo no espelho e do que dizem que sou. O que eu posso ser e jaz em mim terá que ser revelado e eu quero passar pela dor e pela dúvida porque, sem dores, eu não terei a minha resistência provada."
Impaciente, minha ânsia me tomou pela mão. E nós mergulhamos em busca do infinito.

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domingo, outubro 12, 2014 - 20:17

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