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Amor de Rendas.

Ele queria me ver dançar... Saí à procura da roupa perfeita para aquela ocasião, nada que fosse extravagante nem pudico demais. O suor dele me lembrava de vezes não vividas sobre uma cama de cetim branco, seus poucos pêlos faziam-me enlouquecer na lentidão de seus movimentos sempre querendo mais e mais e alterando o pensamento para que ele não desconfiasse do que poderia acontecer. Nada além de uma culpa terrível por ter caído nas graças de algum sentimento abstrato demais para ser compreendido.
Eu imaginava aquele momento, fantasiava com loucuras ditas ao pé do ouvido sem que ninguém mais além de nós pudesse ouvir. Eu era inteiramente dele mesmo sem querer. Procurava abraçar-me a outros seres, mas era sempre o seu gosto que eu procurava em meio a uma multidão de assobios cronologicamente marcados pelo passar das horas, tortuosas horas por vir.
E o que viria? Eu tinha medo do que poderia encontrar, porém quanto mais tentava me desvencilhar daquela ação, mais caía em tentação de perder-me por entre sua língua.
Um punhal mal afiado, seus dedos me cortavam em pele nua. Eu estava sempre nua em pensamento quando junto a ele. E longe? Longe não conseguia manobrar as escolhas, escolhia sempre o caminho que me levasse de encontro com suas vontades.
Eu era cada vez mais dele, sem perceber dei-me e encontrei-me deitada em seus braços. Abraçados passos os que me levavam em sua trajetória, perdição desde o começo: fortuna e glória.
Taciturnas noites de clarão majestoso, somente assim poderia descrever como era estar ao lado de uma criatura tão viva. Apesar dos empecilhos carnais, meu objetivo era sempre conjeturar besteiras olhando nos olhos altivos daquela criatura.
Não sabia que parte de mim entregar, ele não sabia que parte de mim querer.
Meus seios não eram mais grandes, ainda sim cabiam perfeitamente em suas mãos. O tato sentido pelo meu corpo era o inenarrável prazer de suspensão ao mais profundo céu antagonicamente pertencente à Terra.
Ao pôr-me ao seu lado, fazia-me presente em nuvem bordada por agulhas celestiais, sua voz era como aventuras permanentes e ao irmos embora o fato de pegar sempre em minhas mãos me dava a segurança da qual não queria precisar. Se um dia precisasse, sei que lá não mais estaria.
Meu nascente era o acordar com sua melodiosa ligação, contraste perfeito entre o caos e a idéia prematura de algo certo.
Nossa bagunça não sairia de quartos apagados, eu precisava de espelhos... Ao ver nossa imagem refletida perguntava-me o que pensaria ele ao nos ver. Seus olhos brilhavam, ele notava meu olhar...
Quisera fazer-me morta durante um tempo e acabar com essa parasita que me habita e que me faz persistir em tal inexatidão. Mas tal coisa não seria possível, já que tê-lo é o que me ajuda a continuar a viver...

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quarta-feira, setembro 9, 2009 - 23:43

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