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Diablo - Capitulo 3 - Parte 2

O inspector Tucilla segurava um charuto com firmeza por entre os dedos grossos, de olhos fincados no tecto da pequena delegacia de Puerto Seguro, tentando abstratamente conseguir um fio de raciocinio que pudesse ligar os dois acontecimentos dos ultimos dias.
Por mais voltas que desse, por mais dose imaginativa que tentasse colocar no mais dos absurdos enredos que secretamente tecia, não encontrava qualquer pista.
Ele nunca se julgara um Sherlock Holmes, nem tão pouco se considerava um génio de "célulazinhas cinzentas" de Poirot, mas tinha que admitir que estes recentes acontecimentos eram estranhos, mesmo para um País devastaddo pelas guerras de carteis de droga.
Tucilla havia construido a sua reputação nos mais variados palcos de assasinatos e crimes cometidos entre os carteis de droga. Sempre fora um homem de acção e apesar de invariávelmente colecionar inimigos que ainda sonham em o matar, a verdade é que chegara a um momento em que a simples menção do seu nome, exigia respeito, mesmo para os barões do crime.
Incorruptivel, com um sexto sentido apurado e dedo leve no gatilho ajudaram-no a ganhar a reputação e o respeito e acima de tudo a ser temido.
Mas esse era o grande problema do inspector. Raramente meditava muito num caso, optando por ir para o terreno, recolher evidências, massacrar informadores e invarávelmente despejar o conteudo do seu revólver entre aqueles que o tentavam deter.
Na delegacia era visto como um Xerife do México e alguns seus colegas comentavam às escondidas, que se Tucilla não fosse policia seria um Mariachi.
Porém a fama de Tucilla não cativava a Tenente Vega, essa sim, habituada a usar a intuição e os neurónios para evitar ter de se confrontar com os homens dos barões da droga.
Ela gabava-se aliás de ter várias capturas em seu nome, e de ter desmantelado pequenas células de droga, sem ter disparado um unico tiro.
Por incrivel que pareça, isso atraía a admiração de Tucilla e pela primeira vez, face aos ultimos acontecimentos, temia a feroz concorrência da intuição de Vega, contra as suas balas personalizadas.
Quase sem dar por isso, ele levantou-se e entrelaçando as mãos atrás das costas, deu por si a percorrer em circulos curtos e regulares o pequeno gabinete:
-Vejamos, se eu fosse a Tenente Vega, como eu agiria perante os factos?
O charuto reagia furiosamente aos bafos nervosos que ele dava, parecendo uma locomotiva a vapor a cruzar o gabinete. Repentinamente parava como se tivesse uma ideia, para logo de seguida continuar sem se importar com a cinza que caía
Um curto som de dedos a bater na porta, interrompeu outro dos circulos que ele se preparava para desenhar no pequeno chão de cimento:
-Sim?
-Inspector Tucilla, mandou-me chamar?
-Sim Mendez, entre.
-Com certeza inspector.
Xavier Mendez, era o seu maior aliado havia já alguns anos. Uma pessoa de inteira confiança e que já o salvara de muitos apertos. Apesar de ser um cabo acomodado, que desistiu do exército para se juntar á policia, ele era util para Tucilla devido ao seu espirito crítico e por ter o à vontade de sempre dizer o que pensava:
-Mendez, tu tambem estiveste no Orfanato, ouvis-te o que eu ouvi....Que pensas disto Hombre?
-Bom inspector, parece-me que desta vez poderemos retirar da lista de suspeitos o bando de Los Lobos.
-Porque pensas isso? - Indagou o Inspector, sacudindo a cinza do charuto.
-Bom, em primeiro lugar pelo incêndio em si. Se porventura fosse um ajuste de contas, o incêndio não seria localizado. Seria geral em todo o edificio e não se preocupariam com os niños.
-Sim, isso é verdade. Não é o Modus Operandi deles, de facto.
-Por outro lado, tal como o médico falou, a menos que exista um novo tipo de droga, não creio que aqueles buracos no peito fossem obra de balas, ou armas conhecidas.
-Verdade, isso tambem já sabemos.
-Mas o que me inquieta é a parte da janela...
-Da janela?
O inspector estacou abruptamente, encarando desconfiadamente o cabo Mendez:
-Sim.Como não consegui olhar muito tempo para os cadáveres dos ninõs, optei por me afastar e reparei na janela partida. A principio pensei que tal pudesse ser resultado de alguma pedar ou assim. Sei lá, algum objecto atirado diante da luta.
-Pode ter sido, sim...
-Não. Havia algo mais. Se reparou com atenção, os bordos da janela estavam queimados.
-Mendez, toda a divisão estava queimada.
-Correcto. Mas em toda a divisão, as marcas do fogo ou incêndio eram aleatórias. Aquelas descreviam um círculo!
-Um circulo...Como se algo tivesse sido atirado?
-Ou saído!
O inspector mordeu furiosamente o charuto e detendo-se momentaneamente avançou até á secretária, sendtando-se silensiosamente e principiando a redigir a lápis no caderno ainda em branco.
Depois de ter rabiscado algumas linhas, em forma de tópicos, voltou a encarar o cabo:
-E no Bar?
-Terrivel inspector.
-Bastante. Uma loucura, uma carnificina!
-Aquilo não pode ter sido obra de Humano.
-Espero o relatório médico, mas de facto nunca vi nada assim.
-Pensa que pode se repetir?
-Pela Nossa Srª de Guadalupe, não. Seria Tráico a repetição de tal acontecimento.
-No entanto o incêndio já me pareceu obra de gang da droga.
O inspector olhou desalentado para o seu subalterno e concluiu:
-Continuo sem ver a minina pista de ligação aos dois casos.
-Com efeito inspector, não está facil.
De subito o inspector esmagou a ponta do charuto no cinzeiro branco e sorrindo fracamente, convidou:
-Hombre o que temos de fazer é investigar isto separadamente. Vamos para já seguir a sua teoria e analisar essa famosa janela. Quem sabe algo suceda.
-Avisamos a Vega?
-Nãaaa...Ela que use os neurónios e vá la ter.
Com um sorriso de optimismo no rosto moreno, o inspector Tucilla pegou na gabardine e saiu, acompanhado dos eu braço direito.


De rosto fechado e ar de intensa preocupação a Tenente Vega, analisava detalhadamente as fotos e os diferentes relatórios que lhe chegavam ás mãos dos vários departamentos envolvidos na análise dos dois acontecimentos da madrugada passada.
Nada lhe parecia fazer sentido diante do quadro que observava e a falta de um argumento lógico para qualquer um dos acontecimentos transtornava-a.
Sempre se considerara uma pessoa metódica e bastante pragmática e o não conseguir a mais pequena pista sobre o motivo do crime transtornava-a.
Apesar da vontade férrea em arquivar rapidamente o processo e evitar perder mais tempo, com possibilidades de sucesso irrisórias, Vega recusava-se a deixar cair um caso só porque não detinha qualquer "luz" sobre o processo em si. Para além disso, sabia que Tucilla ia fazer os possiveis e os impossiveis para lhe dificultar a vida e ela sabia que só o facto de ser mulher já era entrave suficiente para ser respeitada. Não, não podia dar o caso como morto e ser surpreendida por alguma descoberta de Tucilla e assim cair nas piadas de toda a esquadra.
Tinha sido muito dificil conseguir chegar a Tenente e sabia que só pelo facto de ser mulher, tinha de trabalhar o dobro, empenhar-se o dobro e evitar qualquer facilitismo ou erro de cálculo.
No seu pescoço fino, as veias latejavam-lhe numa resposta ao stress que a dominava até que de subito pousou as fotos no tampo da mesa e esfregando pacientemente as têmporas na testa enrugada de preocupação, pensou:
-Vamos miuda, és melhor que eles! Quanto tempo achas que Tucilla vai gastar a pensar no caso? Na certa está em qualquer balcão de uma cervejaria ansioso por dar dois tiros em alguem. Tu tens neurónios e é só uma questão de tempo, até descobrires algo. Afinal o instinto nunca te decepcionou.
Esboçando um timido sorriso, levantou os braços num dissimulado espreguiçar e levantou-se pesadamente da cadeira. Prontamente fez estalar os nós dos dedos e sacudindo acabeça, como para dissuadir algum ataque de sono, dirigiu-se ao corredor, direitinha á máquina de café e não se fez de rogada, optando por encher a chávena verde, com o logotipo da delegacia de Los Caídos.
Erguendo plácidamente um braço, encostou-se á parede branca diante da pequena janela da delegacia e enquanto olhava os ramos da árvore que pareciam lhe acenar, reveu mentalmente o processo:
" Ponto 1: Crime no Orfanato.
Factos:
A-Crianças e responsável do orfanato foram carbonizados.
B-Os corpos encontravam-se com queimaduras graves e os coraçõs supostamente explodiram.
C-Ausência de invólucros de balas ou de qualquer arma.
D-Focos de incendio generalizados, sem causarem incêndio geral.
E-Só ocorreram nos dormitórios e na sala do reitor responsável.
F-Apesar de umas marcas evidentes de pegadas, as mesmas apresentavam nos rebordos marcas de queimaduras.
G- Se ouve gritos, os retantes ocupantes do orfanato não ouviram, devido ao barulho de tempestade.
H- Portas fechadas e excepto uma janela superior, não havia outro modo de algeum entrar.
Crime era de facto, apesar de ainda existirem duvidas sobre a possibilidade de um episódio de combustão interna, tal era irrisório, para ela uma lenda de medicina e mesmo que por algum acaso tivesse sucedido
Vega acenou a cabeça, bebendo um gole generoso de café e mentalmente tentou responder às questões:
A-Mais que um facto era uma certeza.
B- Ausência de qualquer explicação médica para o facto.
C- Se não houve uma arma, como tal foi possivel?
D-Ainda mais estranho, poir dirse-ia que os focos de incêndio foram projectados para as próprias vitimas. Lança Chamas? Improvável!
E-Porquê as crianças?
F-Esperava o relatório dos especialistas, mas aquelas pegadas eram sem sombra de duvida uma pista.
G-Se não houve gritos, então tudo foi rápido. Como?
H-Era um facto que a janela estava partida....
Num lampejo de furia controlada,Vega deixou a janela, precipitando-se para o interior e sentando-se apressadamente á secretária, procurou a foto da janela.
A foto era bem nitida e apresentava uma forma circular de moderada dimensão...
-Como se alguem tivesse entrado ou saido por ali. Mas como?
Abrindo a gaveta auxiliar da secretária, atirou as fotos para o seu interior fechando-a á chave e certificando-se que tinha a arma bem segura no Colder, sorriu timidamente e dirigu-se apressadamente para o exterior:
-Porque eu não reparei na janela?
 

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quinta-feira, fevereiro 24, 2011 - 11:42

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