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A lenda de Enoah - Capitulo 15 - Parte 1 -

O véu negro de uma noite de muitas indecisões e incertezas caíra sobre Ischtfall, e apanhara um inquieto Leopoldo II, de olhos bem abertos e com a alma intranquila.
Em breve chegaria o Conselho de Guerra e com a sua dedicada esposa acamada, inerte, adormecida teria pela primeira vez de agir sem a sua valiosa opinião ou parecer.
O padre Gambinus tinha falado verdade, quando o avisou sobre a terrivel influência da filha da montanha no seio do reino e do modo como atrairia a ira dos Deuses. E que fizera ele? Nada, ignorara o oráculo dos Deuses, enviara um guerreiro para destino incerto e preparava-se para enviar outros mais.
Havia sido infantil, em achar que uma pobre de espirito das montanhas pudesse aniquilar o grande Pretorius e desta vez a verdade iria ser revelada.
Não poderia nunca esconder, por mais tempo, a terrivel revelação de que Pretorius era seu irmão.
O Povo de Ischtfall não lhe perdoaria! Mas na verdade, o mais certo era não voltar a haver Ischtfall.
Enoah falhando, despertaria a ira de Pretorius e o reino não possuia estrutura defensiva para um ataque cerrado.
O piar do mocho, sobressaltou-o e ansioso que o dia pudesse nascer, ergueu-se do leito, acendeu uma vela e sentou-se á secretária relendo planos e ideias para o Conselho de Guerra. Leu e releu e voltou a ler, subindo o tom de voz, como se desejasse ser hipnotizado pelo que escrevera.
No manuscrito amarelado, a tinta secava em forma de lagoas dispersas, ou seriam as suas lágrimas de impotência que secretamente lhe jorravam pela face.
Não podia estar neste sofrimento. Irado, escolheu o traje ofical de cerimónia, com as medalhas douradas no peito, embainhou o sabre sagrado de Ischtfall, apagou a vela e dirigiu-se à sala de operações.
Precisava de clarear as ideias e a penumbra do quarto não o ajudava. Ainda ficou tentado a socorrer-se de duas Mocivas e perder-se em devaneios sexuais até á hora da reunião, mas isso seria uma ofensa a ele e em particular à sua esposa.
A sala de Comando, afinal não oferecia um ambiente diferente da infernal quietude do silêncio noturno, mas mesmo assim pediu o chá de ervas dos pantanos, mordiscou duas torts ( torradas de pão de centeio), e ganhando coragem, cerrou os olhos e meditou.
Na sua mente, reviu todos os ultimos acontecimentos, como um flashback cinematográfico e instintivamente sobressaltou-se.
Sim, houvera algo que a mente dele captara que lhe ficou registado como um pormenor estranho. Um indicio de que algo não estaria certo. O que seria?
È incrivel o poder da mente. Um autentico computador, com uma poderosa máquina fotográfica, registando e guardando, arquivando o dia a dia. Ele gostava deste exercicio, de sondar a sua mente, de escutar o seu Eu, e de reflectir. Por vezes os pormenores mais importantes eram mal "arquivados" pelo cérebro.
Este fora o caso e respirando cada vez mais lentamente, concentrando-se o mais que pode começou a visualizar a entrada de Gambinus em seus aposentos...Parou a imagem na sua mente, um "Pause" instantaneo e observou como se fosse uma terceira pessoa, os dois estáticos a olharem-se...O perfume, recordava-se agora, o perfume de Gambinus, o perfume das cerimónias, o perfume que raramente usava, excepto quando quizesse criar boa impressão.
Mas uma reunião com o rei nos seus aposentos, não seria propriamente importante usar.
Ponto estranho e gravado, concentrando-se ainda mais, soltou o " Play" das suas memórias. Gambinus falava e ele escutava, percebia agora qie o escutara sem olhar para ele, sem olhar para Gambinus. Para onde estaria ele a olhar....A gaveta, claro, a pensar no Conselho de Guerra.
Agora na sua mente, a posse de Gambinus a falar e..."Pause"...Gambinus usava os traços teatrais. As expressões dos braços, o movimentar-se seguro de que falava...Pelos Deuses soava a discurso trabalhado...soltou novamente o " play"...a revelação, a saida até aos aposentos da rainha....Tudo bastante turvo agora, não dava para perceber ou reter.
De subito fez novo " Pause" mental. Estava a falar com uma das Aias...como se chamava?...Beatrice, sim era ela...Reviu as expressões dela e muito lentamente voltou a rever.
Curioso, ela olhava fixamente para si, nem uma vez desviou o olhar para Gambinus, e ele estava ao seu lado. E no entanto não era normal os dois àquela hora irem aos aposentos da rainha. Porque ela não olhara?
Contemplava agora a saida do padre, em socorro de auxilio médico, recordava como olhara angustiado vendo-o a sair e ...pause...Gambinus passou por ela de novo e ela olhou para o chão. Receou o olhar dele. Mas porque Beatrice, uma aia da rainha recearia Gambinus?
Retomou a respiração, servindo-se de mais chá, ergueu-se e caminhou pensativo em volta da grande mesa, conjeturando estes ultimos acontecimentos e o que desvendara.
Leopoldo II podia não ser inteligente, mas nunca duvidava dos seus " feelings" e começou a ficar realmente preocupado. Se o que analisara e deduzira estivesse certo, então estava perante uma intriga no Reino. Uma das maiores intrigas. Mas por outro lado, recordava-se da sua esposa lhe ter afiançado que Enoah, passara a noite com Beatrice...Pelos Deuses, tudo parece interligado!
Com um aceno de preocupação com a cabeça, pegou na pena de ganso, molhando levemente a ponta no tinteiro e escreveu..." Perfume,olhar,noite". Pousou a pena, bebeu mais um gole de chá e voltou a meditar. Não encontrara ainda o facto que o motivara a rever os ultimos acontecimentos. Fôra algo anormal na altura, mas que ele não deuatenção e enquanto lutava para adormecer, a ideia de que algo lhe escapava sobressaltava-o.
Revia agora o ar de aflição da Aia, enquanto ele chorava agarrado ao pulso adormecido da rainha. Isso...era um ar de aflição que Beatrice mostrava, não um ar de dor,medo ou tristeza....
evia a entrada do médico com o padre, e de subito...bingo!...O médico ao dialogar com o padre parece ter sido constrangido a confirmar o que este dizia...Uma alusão do padre, que ele confirmou de pronto e como que forçando-se a acreditar , confirmou de novo. Na mesma frase o reforço.
Ora Rommel era conhecido por divagar e defender a medicina acima de tudo e desta feita aceitou um facto dos sentidos, sem qualquer base cientifica. Fora isto que caira mal ao Rei.
Abriu os olhos, esfregou as mãos e piscando o olho à chávena de chá, de plantas alucinogénicas dos Pantanos, espreguiçou-se e ordenou que Beatrice se dirigi-se á sua presença!
Quando Beatrice " a branca" chegou, o rei reparou que não ostentava o minimo de surpresa pela convocatória. Muito menos pelo facto de não ser nada habitual o rei receber uma Aia em privado, mas cada vez menos o rei deixava de se importar com a ética.
Beatrice caminhava segura de si e entrou confiante, evitando contudo olhar diretamente nos olhos do rei. Este, temendo que ouvidos estivessem agora apurados, começou de uma forma que surpreeendeu a visitante:
-Beatrice, chamei-vos na qualidade de Aia da minha Rainha Latvéria, para que que me informeis de factos que podem ser benéficos para a sua recuperação!
-Pois bem, Majestade, direi tudo que souber- Beatrice acompanhou o tom monocórdico com a devida vénia real.
-Optimo. Pois creio que o dia de hoje foram só más noticias.
-Na verdade, meu senhor?
-Receio que tenha perdido as esperanças.
-Falais da rainha Latvéria , senhor?
O rei não conseguia ficar indiferente á agilidade mental de Beatrice. Mantinha-se segura de si e tremedamente defensiva. Era necessário quebrar toda aquela defesa, mas ele tinha a estocada certa.
-Não só. Receio ter tido más novidades e precisava de desabafar.
-Sou toda ouvidos, senhor!
-Compreendei que podia recorrer a uma das Mocivas. Mas não procuro calmia de corpo e sim de alma.
Beatrice mostrava-se perfeitamente confusa na conversa, e se de inicio temia ser usada para sexo, agora relaxava.
-Tendes em mim, uma Serva dedicada!
-Espero que sim, Beatrice. Posso vos confessar um desgosto?
-Com certeza, minha majestade!
Num gesto vagaroso e numa atitude teatral, um pouco forçada, Leopoldo II atacou:
-Acabo de ser notificado que Enoah faleceu!
-Que dizeis?...
Beatrice perdeu toda a sua concentração e sentiu o seu corpo quebrar, e por dentro, um estilhaçar de alma, que lhe retirou as forças, fazendo-a tombar sobre os seus próprios joelhos.
-Não sabemos ao certo, mas aguardamos o regresso do seu corpo. Para as cerimónias, se me entendeis!
Lágrimas vivas rolavam na face de Beatrice e só a muito custo conseguia manter a postura.
Toda a firmeza e consistencia desapareceram de seu corpo, e Beatrice " a branca" estava ainda mais branca, de uma palidez cadavérica.
-Por outro lado, temos a rainha adormecida no leito, e perdoe a minha falta de tacto, mas preciso de me assegurar.Sabeis se a Rainha bebeu ou comeu algo de anormal, nestas ultimas horas?
-Anormal, meu senhor?- Os olhos amendoados da Aia, buscávam ávidamente a presença de alguem na sala.
-Sim. Como direi...algo que não seja habitual?
O coração da jovem Aia, principiou a bater forte, uma batida ritmada e explosiva. Este era o momento porque secretamente esperava. O rei surpreendera-a, mostrando-se mais perspicaz do que julgara e a revelação da morte de Enoah, como que retirara qualquer vontade de vida. Mas sabedora de que alguem poderia estar a ouvir, pensou rápidamente. Antes morta de desgosto, que condenada por trair Gambinus, Já perdera Enoah, não poderia igualmente perder o outro seu amor:
-Que me recorde, não. Eu a vesti com a camisa de dormir, e recordo-me de ela ter bebido a sua agua antes de se deitar.
Negava com a boca, mas acenava afirmativamente com a cabeça, piscando o olho ao rei.
Pela primeira vez nessa noite o rei sorriu e percebeu que ela receava estar a ser escutada.
-Muito bem. Era só uma ideia que tinha tido. Peço-vos um ultimo favor.
-Às suas ordens majestade!
-Vigiai a minha esposa, eu estarei ocupado com um Conselho de Guerra.
-Com certeza Majestade. Eu e o médico velaremos pela Rainha. Se o bom de Gambinus pedisse aos Deuses...
E era a confirmação. Finalmente o rei obtivera a confirmação que Gambinus estaria por trás de todo este maquiavélico plano.
Mas Gambinus iria ter a sua parte e assim que as pesadas portas se fecharam nas costas de Beatrice o rei sorriu e em segredo, rezou para que Enoah cumprisse a sua parte.
O plano continuava de pé!

-------------Fim parte 1

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terça-feira, junho 1, 2010 - 09:31

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Re: A lenda de Enoah - Capitulo 15 - Parte 1 -

Gambinus: bem feito...! :-)

Clarisse

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Re: A lenda de Enoah - Capitulo 15 - Parte 1 -

É esta perspicácia q faz de Leopolodo o rei perfeito para Ithsfall, apesar dos seus defeitos e fraquezas carnais!
A lenda continua a deslizar surpreendente, abolindo a palavra "previsível" de cada capitulo!
La longe continuam Enoah e Percival a lutar pela concretização do plano de Leopoldo, Gambinus nem suspeita q o rei ja sabe onde pisa!
Não me canso de acompanhar esta historia e confesso q terei saudades qd terminar!
Beijinho em ti! Dos grandes!
Inês

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