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O Assunto

Naquela altura a história correu por todos os lugares e vilarejos e não havia ninguém que não soubesse o que se tinha passado e quem, por curiosidade ou simplesmente maledicência, se encarregasse de passar a história a quem ainda não a sabia. As filhas do Ti João da Foice tinham-se ido de vez e ninguém sabia nada delas a não ser que tinham saído com a roupa do corpo e o dinheiro certo para a caminete que ia para Lisboa. O pai andava irado, a mãe chorosa e o cão andava a cobrir a cadela do vizinho. Esta história, contada à sombra dos sobreiros enquanto as gentes merendavam no descanso do almoço, durou um mês inteiro porque mais nada de interessante aconteceu.
Passaram-se anos e anos, o Ti João da Foice teve uma trombose e a mulher andava a enganá-lo com um caixeiro viajante que só ia ao lugar uma vez por mês e das cachopas, nem sinal.
Passaram-se anos e anos, o Ti João da Foice morreu e a mulher fez as malas para ir viver com o caixeiro mas acabou a fazer limpeza num bar de aparência duvidosa à beira da estrada. Dizia-se que era a mais velha  por lá mas que tinha sucesso pela boa limpeza que fazia....as gentes duvidavam....
Um dia, lá para o fim do verão, apareceu uma mulher no casebre do Ti João, magra. magra, magra que mais parecia um cão faminto. Suja e desgrenhada, um farrapo...como a casa estava abandonada, as pessoas lá do lugar não se importaram de lá deixar a coitadita, que era o assunto de conversa e motivo de observação como se fosse uma aberração num circo. Passado um mês, e para que o assunto não morresse, apareceu outra mulher, alta, loira, com uma marca roxa num olho e uma mão ao peito. O assunto passou a ser sussurrado entre as pessoas da lida e nas conversas lá na tasca...
Quase no Natal, apareceu outra mulher, isto para benefício das gentes lá do lugar porque uma boa história nunca pode morrer e precisa sempre de mais elementos para se tornar numa verdadeira epopeia; esta vinha sem mácula visível mas com aspecto cadavérico...
Passou-se o Natal, veio outro ano, passou o Carnaval e só na Páscoa é que a história de desenvolveu. Então não era que as mulheres magras e doentes eram as filhas do Ti João da Foice? E o que é que teria passado pela cabeça das moças para terem abalado assim sem vai nem ai? E não tinham um pai bom e uma mãe dedicada, afinal, pai que é pai é o chefe da casa e tem de impor o respeito e matar as sementes de ideias parvas que passam pela cabeça das raparigas. E a mãe, não lhes ensinou a fazer a lida da casa? Não as ensinou a costurar e a cozinhar para quando elas se casassem saberem fazer as coisas e não serem motivo de conversa por esses sítios afora?
Que ideia parva que deu às moças que tinham de ir por aí fora realizar os sonhos? Foi a rádio, foi o que foi. Aquelas rádio-novelas que passam de manhã, enchem a cabeça das gaiatas de parvoeiras. Onde é que já se viu, amor para aqui, amor para ali....não queiram saber pegar numa foice ou numa enxada se querem ver onde é que o amor pára.
E por aí adiante....

De dentro do casebre as moças olhavam a rua, cozinhavam, cultivavam a terra e ouviam a rádio.
Rosa, a mais velha, quis ser freira mas no caminho do convento, foi roubada, violada e espancada porque não tinha nada com ela. Passou anos num hospital a recuperar das feridas e depois, passou os restantes anos a limpar a ala psiquiátrica para pagar a conta do hospital. O mais perto de Deus que esteve foi quando se ajoelhava no chão de pedra para o esfregar.

Maria, a do meio, queria ser empregada na casa de uma senhora de bem, porque ser-se empregada na casa dos ricos eram um prestígio. Recomendada pelo senhor que lhe deu boleia até à porta da Dona Maria Ana, ficou lá até a patroa se ter apercebido que o marido limpava as mãos na saia da dita cuja. Meteu-a na rua sem referências e sem o salário. Teve de andar a pedir nas ruas até ter dinheiro para voltar para casa.

Joaquina, a mais nova...essa, teve sorte. Casou-se com o homem que lhe comprou o bilhete para Lisboa, tinha uma casa na qual era rainha e senhora com o único senão de o Rei ter mais umas quantas rainhas espalhadas por aí e gostar de beber vinho demais e depois mostrar o quanto a amava de uma maneira expressiva que não deixava margem para dúvidas. Da última vez, por sorte, só o braço tinha ficado partido.

Voltaram as três para o casebre que as tinha visto nascer. O sítio onde o pai lhes batia e a mãe as tratava como criadas....mas a história ficou até hoje e não há ninguém que não saiba que três mulheres juntas sem nunca terem casado são as Mal-amadas....

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domingo, julho 22, 2012 - 16:09

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Lost Lenore

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Comentários

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São muitos os trambolhões que

São muitos os trambolhões que a vida
tem para ofereSer...

Saudações!

Abilio

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Olá

Olá Abílio, bom dia.

Realmente a vida dá muitas voltas...

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