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O crocodilo que se fez Timor:
(...)
- Numa ilha não muito longe desta, vivia um velho crocodilo, como não conseguia capturar peixes para se alimentar decidiu procurar um porco para saciar a fome, talvez daqueles porcos domésticos que deambulam, aos magotes, pelas ruas de Dili, – sorrimos, pois já tinha-mos visto em Dili um homem a passear um porco de trela… - Procurou, procurou e nada encontrou, caiu vencido pela exaustão, longe da água não teve forças para voltar. Um miúdo que passava por ali viu o pobre crocodilo, velho, cansado, pegou pela cauda e levou-o para a água.
O Luís veio sentar-se ao nosso lado para ouvir melhor a conversa que já lhe tinha despertado a atenção. O Saulo continua:
- O crocodilo ficou-lhe muito grato e disse ao miúdo que quando quisesse viajar para chamar por ele três vezes. Algum tempo depois o miúdo lembrou-se da promessa do crocodilo, foi à beira do mar e chamou-o três vezes. O miúdo sentou-se nas costas do crocodilo e viajaram durante anos. Tornaram-se grandes amigos, mas, o crocodilo continuou a ser um crocodilo e sentiu uma vontade irresistível de comer o miúdo…
- Eu conheço a lenda, senhor, mas de outra forma… interrompeu o Luís.
- E qual é Luís – questionou o Saulo.
- Continue senhor, desculpe, continue, é quase igual…
- Bom, porém, o crocodilo, incomodado com aquilo, foi pedir a opinião a outros animais. Perguntou á baleia, ao tigre, ao búfalo e todos foram unânimes na resposta: “o rapaz foi bom para ti, não o podes comer.”
- Está feito num oito… - interrompo.
- Pois… Não conseguindo vencer a fome, o crocodilo decide visitar o macaco sábio. Depois de o ouvir o macaco sábio respondeu-lhe: “Que ingratidão! Devorar quem te salvou?!” Envergonhado e com remorsos o crocodilo decide recomeçar a vida longe daquele local, onde ninguém o conhecesse, chamou o grande amigo, o miúdo, e diz-lhe: “vem comigo à procura de um disco de ouro que flutua nas ondas perto do sol nascente. Quando o encontrarmos seremos felizes.” Viajaram juntos à procura de tal sítio. Já a uma considerável distância de onde partiram o crocodilo, cansado, precisou de parar um pouco para descansar. Não conseguindo prosseguir transformou-se numa magnifica ilha, que ainda hoje tem a forma de um crocodilo. De um momento para o outro o miúdo, do nada, transforma-se num homem feito e verifica que traz ao peito o disco de ouro que o crocodilo falara. Feliz com o sucedido o rapaz concluiu que ali seria o seu destino e teve muitos descendentes que herdaram as suas qualidades: bondade, amizade e sentido de justiça…
- Os timorenses chamam de “Avô” ao crocodilo e quando atravessam um grande rio gritam: “Crocodilo, sou o teu neto, não me comas!” - acrescenta o Luís.
- Então – continua o Saulo – o rapaz decidiu chamar a essa ilha Timor que significa “Oriente”.
(...)
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