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O fantasma da velha escola - 7

O telejornal local da noite deu a notícia, com o apresentador falando:
-Um telefonema anônimo levou a polícia a encontrar um corpo na velha escola Campo do Saber, fechada há três anos. Segundo os policiais, pode ser o corpo de José Afonso do Nascimento, que estava desaparecido.
Lilith então ligara anonimamente. Ela não os entregara. Ele não sabia o que sentir. Se alívio ou dor. Ou as duas emoções misturadas. O fato do corpo ter sido achado o aliviava porque José Afonso seria enterrado e lhe trazia uma dor imensa porque, pela primeira vez, ele sentia dentro de si que o amigo estava morto.
-Zé Afonso, será que você poderá me perdoar? Eu juro que não queria fugir, mas o medo foi demais!
O celular de Marcão tocou e ele viu que era Alfredinho. Atendeu.
-E agora, Marcão? E agora que acharam o Zé Afonso?
-Foi anônimo. A Lilith não entregou a gente.
-Será que agora ele vai ficar satisfeito, Marcão?
-Espero que sim, Alfredinho, espero que sim.
-"Pode ser que o Zé Afonso descanse em paz agora. Já eu nunca mais terei paz".
-Bem, vamos no ver no velório e no enterro dele.
-É mesmo. Até amanhã.
-Até amanhã.
Junto com o corpo, a polícia achara uma câmera. Os pais de José Afonso foram chamados. A mãe desmaiou ao saber que o filho estava morto e o pai gritou:
-Nãooooooo!!! Não o meu filho!
Segundo ta, ele morrera em consequência de uma fratura no pescoço ao cair da escada e estava morto há mais de um dia.
Precisaram levar a mãe para o hospital, onde lhe ministraram sedativos. O pai, extremamente abalado, acertou com dificuldade os serviços funerários e demais procedimentos. Por que ele fora à velha escola? Pelo fato da câmera estar ao lado do corpo, deduziram qeu ele fora lá atraído pela história de que o lugar seria assombrado por um fantasma.
Não haveria aula no dia seguinte porque seria o funeral de José Afonso. Foi estabelecido que o velório seria numa funerária e o enterro seria à tarde. Alunos, professores e funcionários compareceram para prestar condolências e enviaram coroas de flores.
A mãe de José Afonso estava sentada ao lado do caixão branco lacrado sobre o qual fora colocada uma foto do rapaz. A mulher acariciava o caixão e respondia apaticamente aos que lhe diziam:
-Meus pêsames.
-Agora, ele está junto de Nosso Senhor.
O pai estava de pé, e se podia ver que era enorme sua revolta. Os dois irmãos mais novos de José Afonso , um menino e uma menina, estavam desorientados, parecendo dois sonâmbulos.
Marcão foi com seus pais e os irmãos e precisou se encher de coragem para chegar perto do objeto branco fechado em cujo interior estava o corpo de José Afonso. Aproximou-se e tocou o caixão, perguntadno-se se aquilo tudo estava realmente acontecendo. As pessoas não sabiam e nunca poderiam saber da dor que o consumia. Na foto, José Afonso ria despreocupadamente. Agora, José Afonso não mais riria, contaria piadas,  sairia com a câmera para filmar ou andaria de bicicleta, porque se tornara um pedaço de matéria morta.
Alfredinho veio com a mãe e foram prestar condolências à família de José Afonso. Marcão e Alfredinho se olharam por um breve instante, unidos no silêncio e na culpa. Marcão sussurrou:
-Zé Afonso, eu queria que você pudesse me ouvir. Se soubesse como estou cheio de remorso...
Lilith se aproximou silenciosamente, seguida dos pais, que foram falar com os pais de José Afonso. Ao ver Marcão e Alfredinho, foi para junto deste último e falou:
-Preciso dizer uma coisa.
-Que coisa, Lilith?
Ela vestia uma blusa e calça pretas e usava óculos escuros.
-Tem que ser em particular.
-Está bem.
Os dois se afastaram e Lilith disse em tom neutro:
-O Zé Afonso não quer você e o Marcão aqui.
-Como é?
-Ele quer que vocês saiam. Falou que não quer dois traidores covardes no enterro dele.
-O que ele espera, Lilith? Que a gente saia assim, sem mais nem menos? Eu posso chegar e dizer à minha mãe:"Mãe, vamos embora porque o defunto cismou que eu tenho que sair daqui"?
-Eu não sei o que ele espera. Melhor contar ao Marcão. O Zé Afonso disse que não quer as lágrimas dele!
-Você disse algo a ele?
-Falei que, se vocês eram colegas de turma, não podiam deixar de comparecer. Alfredinho, eu não tenho poder para decidir nada. Qu8e posso fazer se ele está com ódio?
-Será que a raiva dele nunca passará?
-Isso dependerá unicamente dele, Alfredinho.
Alfredinho e a mãe ficaram mais um pouco antes de irem embora. Lilith se afastou, indo a um lugar onde se podia beber água.
Quando os pais adotivos de Lilith decidiram que era hora de ir embora, viram que ela não estava em nenhum lugar visível e se preocuparam.
-Aonde a Lilith terá ido? o pai se perguntou.
Procuramam-na entre as pessoas e, tentando não se desesperar, decidiram:
-Quem sabe ela não foi à salinha tomar água ou descansar?
-Vamos ver se ela está lá.
Ao se aproximarem da salinha, escutaram Lilith dizer:
-Desista disso, por favor.
Entraram e a viram sentada, respirando pesado e mais pálida do que o normal. Ela os olhou assustada. O pai perguntou:
-Lilith, querida, com quem você conversava?
-Com ninguém, pai.
-Querida, por que você está tão nervosa?a mãe se assustou com sua palidez.
-N-nada, eu estou bem.
- Vamos para casa.
Lilith foi embora com os pais. Marcão e sua família foram ao enterro, onde José Afonso foi enterrado ao lado do avô paterno. Marcão ficou observando enquanto a terra cobria o caixão branco. Tudo terminado, puseram flores no túmulo e foram se retirando aos poucos. Marcão ainda voltou a cabeça na direção do túmulo ao ir embora.Seu pai pôs a mão no seu ombro.
-Sei que sentirá falta do seu amigo, filho.
Marcão entrou no carro, pensando no quanto todas as frases ditas para consolar alguém que perdera um ente querido pareciam tão vazias e repetitivas. Será que os pais de José Afonso realmente se importavam com tanta gente dizendo "meus pêsames" quando estavam enterrando o filho? Cada um que fora ao sepultamento voltaria para casa pensando nas suas vidas e obrigações , enquanto os pais  e irmãos de José Afonso teriam que voltar sabendo que nunca mais o veriam, ao mesmo tempo que a lembrança dele ocuparia todos os recantos da casa. E ele, o que estava sentindo? Pesar, remorso? Talvez mas, junto com tudo isto, havia algo indefinido, como uma sombra que se insinuava e o afastava da luz. Por que aquilo? Será que o espírito de José Afonso não se acalmara?
"Bem, ele foi enterrado, não foi? E ninguém mais sabe de nada. Eu tenho que seguir em frente, eu estou vivo! Sinto muito que você tenha morrido, Zé Afonso, mas eu tenho que viver. Não posso passar minha vida inteira me lamentando por sua morte".

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quinta-feira, agosto 13, 2015 - 20:37

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