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O segundo Milagre - Capítulo III

III

Poucas coisas me dão tanto prazer na vida como ver e acariciar o crescimento e o desenvolvimento de uma flor até ao momento exacto do inevitável corte que a leva ao mais merecedor cliente.
Faço o que gosto. Não cultivo flores como se fossem pintos num aviário numa engorda desenfreada na rota incontornável de uma embalagem para exposição numa arca de frescos num qualquer supermercado ou grelhando apelativo nas continuas incandescentes brasas do João dos Frangos gritando – come-me! Come-me! Uma simples e eficaz linha de produção; cresce; depena; pendura, separa cabeça para um lado e corpo para o outro; leva banhinho, embala-se fresquinho; come-se quentinho. Ou pior ainda, um monstruoso e crescente fois-grás que é o mesmo que dizer, um pato ou um peru presos numa posição monstruosa e inquietante com um funil enfiado pela boca abaixo num empurrar ininterrupto e desmesurado de alimento fazendo crescer fígados até tamanhos inimagináveis e onde um corpo de ave deixa de ter corpo e penas e ser apenas fígado, fígado, fígado!
Meu Deus! Tenho que exclamar. Como é possível tanto animalismo, tanta atrocidade? Não posso dizer que não aprecie um franguinho assado passando pela boca terminando com um não menos delicioso e final chupar de dedos mas, não brinco com isso como fosse um gato que desmancha por prazer as articulações de um rato para depois o comer e mais tarde regurgitá-lo. Não. Como por necessidade e por influência cultural.
Aqui estou eu falando ou pensando como os meus botões como de resto é meu traço comum, não porque não tenha amigos, mas porque me dá prazer o silêncio das horas vagas.
Estou a ler a Gazeta das caldas, a desfolha-la desinteressadamente, primeiro olhando para as notícias gordas que se destinam a fixar a atenção naquilo que alguém julgou ser mais importante por qualquer estranha razão. E será que o é mesmo? Penso que inevitavelmente aquilo que cativa uns não interessa aos outros, mas compreendo que alguém tenha que tomar decisões com base num qualquer critério que desconheço e que deve estar concerteza ligado a números, a vendas ou qualquer outra coisa marxista.
Na primeira páginas e seguindo com naturalidade as suas grandes obras pelas Caldas pode ver-se a foto do Sr. Presidente da Câmara inaugurando o novo Centro Cultural e Congressos (não sou professor mas parece-me que qualquer coisa não soa sintáctica e semanticamente bem neste termo) das Caldas da Rainha na noite do quinze de Maio assistido por milhares de transeuntes e com honras de visita do Sr. Presidente da Républica no dia seguinte. È sempre todos os anos em véspera de feriado da cidade é preciso inaugurar qualquer coisa que engane os estômagos do povinho. Atiram-se rebuçados ao ar e todos acorrem como pombos ao pão duro. Outras tantas coisas mais interessantes e outras de me fazer abanar a cabeça num movimento de indignação de como é possível fazer disto uma noticia e fecho a Gazeta, ponho a mão no Público e desabafo: Tou farto disto!
Vou mas é ler o meu livrinho. Sou contudo interrompido pela paisagem envolvente e por um fenómeno natural nas Caldas da Rainha e provavelmente em todas as zonas onde existam muitos choupos. Dançando e remoinhando pelo ar e pelo chão as mais belas e naturais coreografias eram desenhadas pelos pedacinhos leves de algodão das sementes dos choupos que rodeavam todas as coisas.
O céu estava limpo e azul verão apesar de ainda estarmos na Primavera e aqui e ali uns desbotados pedacinhos de algodão manchavam levemente o quadro animador de uma perfeita pintura de Maio.
A praça rectangularmente rodeada por edifícios irregulares tanto na época como na arquitectura num misto de belas fachadas decoradas a azulejos com motivos e cores únicos (permanente alvo de roubos) há já muito deixados de fabricar com suas janelinhas ornamentadas a pedra antiquíssima e as águas furtadas espreitando por entre os telhados vermelho esverdeados pela acção das intempéries deixando sonhar o romantismo do séc. XIX e os prédios mais recentes erguidos sob a ruína da uma história cada vez menos importante. Prédios sem o mínimo de consciência, sensibilidade e estética urbanística visando apenas o lucro fácil e célere do falta de gosto de todo um período de boom imobiliário desenfreado e sem escrúpulos. É por demais evidente. Algo está definitiva e quiçá irremediavelmente mal nesta imagem. Acreditem-me. Venham a esta praça e olhem à vossa volta e verão imediatamente o que falo. Imagem triste que apetece implodir.
Imagino-me a jogar numa daquelas máquinas de salas de jogos ou café em que o objectivo é encontrar continuamente as diferenças entre as imagens num ritmo cada vez mais acelerado contudo, neste jogo feito de coisas reais o que era verdadeiramente difícil de descobrir não seriam as diferenças, os pormenores que saltam à vista e antes pelo contrario tentar descortinar algo que permanecesse imutável e belo aos olhos de quem um mínimo respeito pelo que é realmente belo.
Fixo de novo os olhos no chão na ainda recente pedra de calçada da praça mas já enegrecida pela contínua passagem das gentes, uns tantos carros perdidos e outros Srs. importantes demais para que lei seja por eles cumprida usando o recinto de gente ao belo prazer das suas viaturas – mas isso fica para outra história -, calçada essa adornando e escondendo dois pisos de estacionamento no subsolo e sorrio.
De novo como vindo a galope numa brisa suave invisível tornada visível apenas pelos seus intervenientes parece nevar agora com mais intensidade aquela espécie de algodão chegando languidamente quase deambulando sem destino sobre a calçada à portuguesa ao som de uma quase inaudível valsa criando um salão de baile para os pequenos tufos dos choupos se iniciarem nas suas rodopiantes e inimitáveis danças.
Outra vez aqui e ali rodopiam gentilmente criando ínfimos tornados desfeitos num seguinte corridinho e de novo voltando à posição inicial. Tremendo.
É tão simples a minha vida.
Com o jornal e o livro pousados em cima da mesa da esplanada dou por mim a olhar muito além daquilo que realmente vemos numa imagem de encantamento ou distracção pura, tanto me faz, até sou trazido à realidade pelo Nuno, o empregado do 120 que mais não faz que tentar fazer merecer o seu ordenado – simpatia e tentar vender – nada de mais.
-Olá, boa tarde Abílio! Então, a ler o jornal? E permanece depois em pá parado com cara de muitos amigos fitando-me alegremente como esperando qualquer coisa.
Sou-lhe conhecido como devem perceber na familiaridade do discurso. E não fosse o não estar de facto noutro local e não estando na realidade a ler o jornal aquela pergunta não passaria de uma simples pergunta de retórica cuja resposta evidente era tão obvia quanto estar ali de facto a ler o jornal; sim. Estou a ler o jornal e ponto. Também lhe podia responder; não; estou a admira-lo; estou a fingir que sei ler; estou a comer um bitoque; ou simplesmente; não, eu nem sequer estou aqui, não passo de uma ilusão criada por quem precisa de vender qualquer coisita mas, com um simples e compreensivo aceno de cabeça confirmo o que tão sagazmente concluiu. Não se pode dizer que um bar na praça seja comparável com uma casa de pecados de gula como um McDonald cujo objectivo e as regras da boa educação e um bom livro de reclamações tornam quase imperceptíveis mas que toda gente sabe bem qual é e que não se vai ali para comer e fazer sala e antes comer bem e barato preferivelmente no mesmo tempo em que se bebe um shot mas no busílis da questão, no que é realmente essencial, o lucro, todas as mentes são parecidas e pura e simplesmente estar-se sentado num qualquer estabelecimento comercial sem consumir é uma espécie de má educação ou até mesmo o inicio de uma indesejável praga ao estilo de, - Cuidado! Vem aí a contenção! Está tudo fodido!
Antes de continuar quero pedir desculpa a quem se ofender pela palavrinha grosseira que usei há pouco. Eu nem sequer sou assim mas ao tentar colocar-me no papel dos outros é justo que pense também como eles. Ou talvez não. Volto à praça.
Ainda naquele expressão de múmia ou sujeito parado no tempo através dos poderes do Hiro e bufando dentro de todo o seu ser, ouvi a sua alma e observei na transpiração da retina dos seus penetrantes olhos usando o poder da nossa inesgotável imaginação, o seu monologo interior:
- …dss. Então? Vais querer alguma coisa ou é o costume. Um cafezinho. Ou se calhar até fazes uma coisa maluca e ainda pedes uma aguinha com gás. Vá lá pá, puuu… Então? …dss. É que nem sequer dá para pagar o desgaste do car… da cadeira...dss. É pá tu é és um cota educado e o car… não dás problemas mas, dss esta merda não é a biblioteca municipal. Vai ser o cafezinho não é? Para a próxima tiro-o logo e trago-o aqui…
Vou parar por aqui o argumento de um filme barato português e vou mas satisfazer-lhe o desejo que é no fundo a minha ordem e sua compensação. Assim e de seguida esbocei um ligeiro sorriso sem mostrar os dentes e pedi-lhe:
Quero um cafezinho se fizeres favor. E como confirmando através da sua expressão facial - essa verdadeira máquina detectora de mentiras - a minha expectativa em relação ao meu mas também dele, monólogo interior, lancei-lhe um osso que sem dúvida iria roer no seu inconsciente e levantando o braço na sua direcção como quem quer chamar a atenção para qualquer coisa pedi-lhe o que tanto ele desejava:
Olhe! Traga-me também uma aguinha com gás. Castelo. Se fizeres favor.
Enquanto o pedido não chega lanço de novo o meu olhar para cima da página da Gazeta das Caldas e sem conseguir evitar a minha visão periférica viu aproximar-se vindo da rua da calçada da praça da fruta, um conhecido meu e de toda a gente de resto, o João Victor. E pronto a leitura ia ser irremediavelmente posta de parte outra vez.
Não desviei o olhar da leitura na esperança de me poder talvez tornar invisível, fazer de tal forma parte da mobília que não passasse apenas disso, mobília sem grande interesse. Escusado será dizer que para o João tudo tem qualquer coisa de interessante, de novo. Ele é uma espécie de eterna criança na idade dos porquês e inevitavelmente dirigiu-se a mim.
- Então Abílio? Então como é que é? Tás a ler o jornal?
Acerca da última pergunta não vou tecer mais comentários. E não tendo outra escolha que a boa educação porque esse conceito nunca é demais e tal como as nabiças não fura o estômago virei o meu brilhante, límpido e sincero olhar na direcção do João.
Antes de continuar e para que compreendam melhor e antecipadamente e figura vou contar-lhes a uma anedota que será tão nova para quem nunca a ouviu como uma espécie de enfado para quem já a ouviu; se é o teu caso avança até à próxima paragem. Continuando.
Havia um gajo tão chato, tão chato, que quando alguém o avistava à distância tudo fazia para se tornar invisível e desaparecer do mapa.
Como tudo na vida não o que apenas se deseja e é muito mais do que isso chegando ao cúmulo do transcendente, claro está que certo dia o fulano X lá teve que mamar a bucha, que é como quem diz, comer e calar. E assim foi e assim começa a anedota.
O fulano X avistou o chato e logo tratou de se por a andar fininho pelo passeio focando o seu olhar no chão como se procurasse qualquer coisa que tivesse deixado cair no chão. Era tarde demais. O chato já fixara o alvo conhecido e nada havia a fazer.
- Então? Como é que é? Diz o chato. O fulano x limita-se agora a expressar um tou fodido e engole em seco o seu destino.
- É isso. Responde com cara de quem vai vomitar. E mantendo o mesmo ritmo continuo a seu curso acompanhado pelo indesejável chato que logo de seguida volta ao ataque.
- É pá! Viste, viste, viste?
- Não. Não vi nada.
- É pá, aquela gaja ali. Viste, viste?
- Não, não reparei. O passo do fulano X apressa-se ligeiramente e o chato continua.
- É pá! Viste, viste, viste?
- Não. E pensa para si: …dss, desempata-me a loja e o outro continua.
- É pá, aquelas pernas. Viste, viste?
Já a começar a bufar como um dragão e acelerando o passo ao ritmo de uma marcha rápida volta a responder:
- É pá não vi nada e tou cheio de pressa, tá bem?
E como não fosse nada com ele o chato disparou mais um tiro num alvo à beira de estar ferozmente furado:
- É pá! Viste, viste, viste?
E neste momento já no limite da sua educação ocorreu ao fulano X qualquer coisa surpreendentemente inteligente:
- Espera lá. Estou sempre a dizer que não vi nada mas, se calhar se lhe disser que Vi talvez este carolo me deixe em paz. E convicto que tinha encontrado uma qualquer poção mágica o seu semblante encheu-se de repente de uma satisfação e sensatez que só visto melhor seria descrito e acto continuo parou a sua marcha, virou-se na sua direcção, confiante e respondeu ao chato orgulhoso da sua esperteza:
- Sim sim, é claro que vi!
E correspondendo à sua perspicácia de psicólogo carocha o chato hesitou antes de dizer qualquer coisa olhando primeiro para o chão e depois para o fulano X, esboçou um sorriso maroto mas sem qualquer maldade e disse-lhe por fim:
- Então se viste, porque é que pisaste a merda?
João Victor era uma personagem parecida e neste dia, aqui na praça foi o meu olhar conhecido que ele avistou. Irremediavelmente não podia fugir ao meu destino e ainda menos armar-me em fulano X e por isso tal como disse há pouco encarei com toda a sinceridade a sua presença e sorrindo contidamente numa imagem de satisfação controlado respondi-lhe:
- Cá estou João. Estou a ler o jornal. Estou-me a actualizar. Neste momento tive vontade de lhe perguntar, então e tu o que é que andas a fazer, ou a desfazer mas, achei melhor não até porque tão certinho como haver marés enquanto houver luas, não tardaria mais que uma fracção de segundos para o João dar o ar da sua graça.
- É pá não tenho paciência para essa merda (o que é que vos tinha dito?).
Agora limitava-me a manter-me de queixo levantado como se perscrutasse qualquer coisa no céu olhando na sua direcção vendo-o ali em pé a fazer o que ele melhor sabia fazia – falar e muitas vezes ingenuamente, aborrecer os outros. Agora era eu o seu interlocutor e mantive-me sereno enquanto ele se alongou:
- De vez em quando vejo as notícias. O telejornal. Mas não ligo muito a isso.
Continuava num ritmo de quem pondera serenamente o seu discurso como tentando encontrar as palavras certas para o seu discurso perfeito. Uma espécie de político de primeira diga-se em abono da verdade.
- Não ligo muito às notícias porque acho que lhes falta qualquer coisa de importante. Acho que os gajos é que escolhem as notícias como lhes interessa mais. Não poderemos saber nunca se são verdadeiramente essas as que nos interessam. Escolhem aquelas que tenham mais audiência e pronto a partir daí faz-se o telejornal. È quase como um jogo onde não interessa principalmente o que se vende mas o que vende. Uma espécie de loja de trezentos comparados com uma loja de qualidade. Quer dizer, o conceito e a funcionalidade estão lá mas, e a qualidade? Tas a ver?
É pá não quer dizer que o trabalho dos gajos não tenha coisas boas e que não sejam profissionais mas arbitrariedade existe depois de nos dizerem - tomem lá estas noticias que nós escolhemos e agora vejam lá quais vos suscitam mais interesse para que possamos definir tempos de antena - tas a ver?
- Sim, sim, estou a perceber. Calei-me. Fez uma pequena pausa em que aproveitar de seguida para lhe acenar a cabeça afirmativamente em sinal de concordância enquanto levava a chávena de café à boca com uma mão e refrescava a outra na condensação que a temperatura formara no exterior da garrafa de água ao mesmo tempo que pensava que o João estava muito filósofo hoje e ele continuou perante o meu silêncio propositado e na talvez surpreendente e inesperada concordância com o que ele debitava.
- Isto tudo serve mais para nos confundir e intimidar do que para nos informar e elucidar. Codrilhar a vida alheia é que está a dar.
Fez uma pausa inspeccionando a praça em redor e como se de repente o assunto que antes discutia fosse varrido da sua mente por uma densa e feroz tempestade de areia voltou á carga.
- E se fossemos até à Rua das Montras ver as gajas?
Ora aí a conversa típica do João. No mesmo momento em que diz isto vi um brilhar grandioso de felicidade – como se o ir ver as gajas fosse uma imagem de alegria caminhando em câmara lenta num campo de papoilas embutidas numa manta verdejante numa tarde fresca de primavera ao som do Quim Barreiros, ao mesmo tempo que reforça de qualquer indelével moda que a teoria de evolução e transmutação das espécies darwiniana apenas se pode aplicar ao factor físico e não totalmente ao psicológico pois, se nos aprendemos a levantar por necessidade e daí a caminhar, assim como todos os seres tem que necessariamente se adaptar ao meio que os rodeia, não deixamos actualmente de ser os mesmos homens das cavernas quando o assunto toca às mulheres – o que eu queria era ser sultão e ter um harém cheio de concubinas. – Manda um. – É pena não ser como antigamente; arrastava-se a gaja pelos cabelos até à caverna e pimba. – Baba o outro. Por aqui parou a evolução.
Vejo pela sua expressão aparvalhada e distante que deve estar agora a deitar-se soba frescura do campo, tal sultão, rodeado de gajas nuas e semi-nuas acariciando o seu corpo arrulhando luxúria e pecado aos seus ouvidos sedentos de prazer como se ele fosse o último homem à face da Terra. Ah. Ah. Ah. De seguida como fulminado por um raio volta à realidade com uma expressão de louco ou de homem bordeleiro depois dos quarenta e:
- É pá desde que chegou o mês de Maio, cum caralho, as gajas parece que andam doidas para se despir.
Franzi um pouco o sobrolho e não fiz nada que o impedisse de continuar o seu raciocínio porque também não me importava de perder uns momentos da minha vida a ouvi-lo. No que me diz respeito a vida é uma coisa tão supérflua que devemos aproveitar tudo o que tem para nos oferecer independentemente de serem benignas ou más não deixaremos de viver por causa disso. É bom haver sol e chuva, frio e calor, amor e discórdia e por aí fora. Por mais distingues, improfícuas e opostas as coisas nos possam parecer existem por alguma razão que nos transcende e para manter o ténue equilíbrio das incógnitas incertezas da humanidade. Por isso estava ali a ouvi-lo com o mesmo prazer com passeio absorto no mais idílico paraíso de pensamentos. João insistia.
- Mostram as pernas, mostram as mamas, é pá andam por aí quase nuas!
Sorria soberbamente.
- É pá mesmo que um gajo fosse cego percebia como elas andam descascadas só pelo cheiro aos perfumas e cremes hidratantes que usam.
Continuava a sorrir aparvalhado e eu entretinha-me agora com a frescura envolvida no copo que tocava com a minha mão aguardando que ele continuasse a sua tosca dissertação semi- sexual.
O João era um rapaz aí pela minha idade (na casa do trinta) daquelas personagens que destoam logo na distância pela sua aparência diferente no andar, no vestir e no olhar, no sorrir e até no falar. São personagens diferentes nesta comédia divina. Os zés da vida.
São límpidos, instintivos e ingenuamente (ou talvez não tanto quanto se julga) importunos na maioria das vezes. Os verdadeiros. Aqueles que vieram ao mundo como se apresentam, sem falsas modestas, sem preconceitos ou presunções porque o que mais não falta por aí são os outros, aqueles que se armam em parvos sendo por isso muito mais estúpidos que o que querem disfarçar. Pretendem alimentar nos demais sentimentos de compaixão para depois agirem como bandidos encapuzando a mentira do seu ser como ladrões charlatães e ilusionistas surripiando muito mais que um coelho à cartola, roubando muito mais que alma aos que se deixam deslumbrar pelos raios brilhantes e dourados nas mais simétricas, rematadas e armadas ciladas das suas teias aranhescas.
O João pertencia ao primeiro tipo de diferentes. Os puros atarantados. Essa verdade estava claramente manifesta no seu olhar radioso e no seu sorriso aberto e contagiante.
Eu já conheço o João há alguns anos. Ele é aquela figura típica de todas as cidades ou aldeias. O vagabundo, o maluquinho, o que vive a animação na sua autêntica essência, no seu estado mais genuíno e descapitalizado. Nunca seria capaz de o tratar de um modo diferente de uma outra qualquer pessoa apesar de ele ser de facto um pouco desigual nem tão pouco ser mal-educado ou desrespeitar a dissemelhança que a natureza lhe tinha reservado. Nunca desviei o meu olhar da sua atenção após o inicio de uma conversa, tal como também não mudaria de passeio para evitar a sua presença. Ele era assim afortunado e bastava-lhe. Quem na vida poderá alguma vez encontrará tão verdadeira felicidade em tudo o que nos rodeia?
- Vamos lá ou não? Perguntava numa impaciência irrequieta de criança que vai para férias de viagem no dia seguinte e não consegue pregar o olhar devido a essa feliz demanda anunciada. Todo ele era um frenesim de ansiedade e sua alma suspirava pelo seu harém como algo de irremediável. Para não o prender muito, não porque observara beleza das mulheres não seja de facto das coisas mais profícuas que um homem pode almejar, mas porque nunca o faria como um cão com cio em noite de luar, respondi-lhe.
-Tens razão. Realmente as mulheres andam mais frescas. É do calor. Até ia contigo mas tenho que ir para casa entretanto. Tenho que tratar dumas plantas que me adoeceram.
O João continuaria na defesa da sua decisão através de todos os argumentos que julgava imprescindíveis àquilo que se propunha mas, agora era tempo de ele me ouvir e isso ele também sabia fazer.
- Gostava de ser simples como tu. De ter essa tua primordial energia. Dessa tua tão positiva forma de ver o mundo e o marasmo das coisas que nele coabitam. De ter essa tua mil vezes superior indiferença de vendedor de fé que anda de porta em porta impondo a sua crença à dos outros – nesse autêntico exercício de livre - arbítrio de faz-o-que-eu-faço-que-isso-é-que-é-certo – insistindo sempre com o mesmo ferver e dedicação na próxima porta como se isso fosse a coisa mais natural no mundo nessa ilusão parva e anedótica de que todos gostam de nós porque sempre nos convidam para voltarmos sempre a próxima. Quem dera ser como tu.
- Pois é.
Foi o que me respondeu. Retribui-lhe um sorriso e enquanto ele continuou a tagarelar eu fiquei ali a vê-lo galhofeiro e satisfeito, inconsciente de ter consciência de eu ser o inquilino educado importunado que abre a porta para logo desejar não o ter feito porque lá está tudo o que nada lhe interessa esperando apenas o momento certo e delicado que ao cavalheiro se exige para fechar o raio da entrada a ele que era o Jeová ou a outro indesejado congénere.
Não mais de dez minutos teriam transcorrido enquanto eu o fui ouvindo quando o este pareceu ter levado um choque eléctrico espasmódico que lhe provocou um enorme formigueiro anunciando que estava qualquer coisa na hora e da mesma forma súbita com que chegara à pouco mais de meia – hora preparou-se para partir e mantendo a mesma serena e genuína infantilidade fixou-me nos olhos e disse-me apenas e só:
- Então até logo Abílio.
Como acordando de um sono leve desejei-lhe uma boa tarde e até logo e assim se foi o João.
Ainda o observei perdendo o seu vulto inconfundível na distância em direcção da Rua Heróis da Grande Guerra num mestiço animalesco mutante de Papa e Amália Rodrigues acenando a todos os transeuntes num misto de olá a todos e obrigado, obrigado, obrigado…
É daqueles encontros que nos deixa inevitavelmente bem-dispostos e que no final nos legam um estranho vazio como se tudo o que dissera até ali só fizesse sentido na sua presença. De qualquer maneira para a próxima vez que o encontrasse abordar-me-ia com o mesmo fôlego e alento e da mesma forma efusiva e fervorosa com sempre o vai fazer. A vida é uma festa. Foi o que senti. Um grande vazio apossou-se de mim de seguida. De repente estava outra vez sozinho.
Eram três e qualquer coisa e o sol queimava esplendoroso a solidez da praça mas, a brisa do final da tarde augurava a hora em que mais cedo que os bares do local o 120 perde esse calor natural devido à sua posição de costas para oeste na praça. Desloquei um pouco a cadeira de baixo dos grandes coberturas de protecção para este até o calor me atingir, fechei os olhos, inspirei fundo e absorvi a energia desse astro místico de findáveis fascínios.
Os maiores destaques dos jornais eram tão novidade como um polícia adorar donuts tanto na América como no resto mundo e na voz dos que são entendidos nas suas matérias, o cenário assombroso de um futuro inevitavelmente na mão dos interesses capitalistas seria eterno. Há por aí quem pense até que o tão profetizado fim dos tempos, uma 4.ª guerra mundial, a mais devastadora epidemia, todos eles se renderem aos encantos marxistas. Figuras como Putin, Bush e até mesmo Deus dependem de um certo equilíbrio internacional para que não venha alguém boicotar ou implementar quaisquer restrições económicas. Isso seria tão devastador para as suas bolsas que mais vale viver em guerra-fria do que agir na realidade.
Ora se revolta o povinho contra o desmesurado e assustador descontrolo em relação à subida monstruosa dos preços dos combustíveis para depois nos mandarem umas migalhinhas; a nós os pombinhos coitadinhos que desaprenderam a procura-la; sob forma de descida dos preços para pouco depois vir a OPEP – esses cabrões intocáveis, cartelistas do petróleo, tão criminosos ou mais que os barões da droga, se é que não todos o mesmo; um cartel global fundado nos piores de todos os sentimentos, a viciação e o medo – equacionar uma redução na produção para poderem continuar a manipular e controlar o povo como bem entendem. Algum acontecimento superior queira que um dia ainda fiquem com esse vosso ouro sombrio a putrificar mais ainda dentro dos vossos tanques e refinarias.
Depois vem lá outro do BCE dizer que é preciso manter ou continuar a subir as taxas de juro para combater a inflação, essa velha senhora que ninguém conhece mas que influi toda a nossa vida. É preciso contenção atira o presidente do banco de Portugal; os portugueses não podem gastar o que não tem; pois e tu vivias de quê, oh grande cínico? Quem é que pagava esse teu ordenadinho da treta?
É esta a nossa triste e amargurada realidade, um cair profundo no mais assustador medo medieval que é essa gritante voz do poder. Toca-nos a todos e como sou dependente desse vício chamado combustível se calhar também vou ter que subir um pouco o preço das flores. Raios! Que bola de neve tão fantasmagoricamente sombria esta a que colamos sem que tivéssemos tidos ou ouvidos. Somos menos que o passarito feliz que encanta a sua companheira com as mais belas melodias numa luminosa Primavera no centro da mira de um bem camuflado caçador. Pum. Pum. Já tombou o dependente.
Está a começar a fazer-se tarde (já são quase 16horas) e ainda devia ir à LIDL ou ao Modelo fazer umas comprinhas para aproveitar os descontos no cartão e ganhar uns valezinhos de desconto para os combustíveis. Se não for assim então é que não sei onde vamos parar. Já farta esta incerteza capitalista que só serve para criar hipertensos. Hoje sobem os preços em tudo, depois crasha tudo por falta de facturação e volta-se a recuar e a conter essa desenfreada ganância pelo lucro. É sempre a mesma coisa. Por isso o importante é ir poupando mas, daqui a até lá ainda é pouquinho longe e como estou a pé se calhar é melhor lá ir amanha.
Felizmente ainda existem por aí algumas gentes conscientes que sabem as necessidades que povo passa.
Não vale a pena ficar para aqui a balbuciar o que deviam ou devia fazer em relação a tudo a que me circunda até porque me considero uma pessoa serena e longe está qualquer oculto e dissimulado anseio de revolução. Vivo neste mundo tal como este é. Posso mudar quem sou mas, pouco mais que isso e no que diz respeito ao subir ou não o preço das flores que vendo penso que não me mandaria para dentro de um poço mesmo que toda a humanidade o fizesse se não fosse o meu desejo, por isso não, eu não vou elevar a importância de coisa nenhuma; se não ganhar tanto, atinjo um pouquinho menos e isso será mais que o razoável para um atinadinho como eu.
Vou aproveitar um pouco mais esta atmosfera de tertúlia que pouco a pouco se vai instalando na praça sob este magnífico fim de tarde primaveril acalentado pelos primeiros andorinhões que cortam o céu azul como aviões a jacto fugindo das rajadas de mísseis inimigos numa constante busca de alimento e passo mais uma vez os olhos pelo jornal O Público.
Mais um sismo na Ásia. Trinta a quarenta mil mortos. A corrida às presidenciais nos E.U.A, McCain para aqui, Obama (quem sabe o primeiro negro emigrante a ser presidente dos E.U.A.) para ali, como se o resultado disso viesse a influenciar (€) todo o resto mundo. Kusturica em Cannes com o documentário “ Maradona by Kusturica, - agora só falta o Ronaldo meter-se na droga para que lhe façam um filme a sério. A selecção portuguesa a caminho do Euro 2008 na Áustria e na Suíça e etc., etc., etc. Não falta nada neste jornal.
Suspiro languidamente ao mesmo tempo que calma, pausada e cuidadosamente fecho o jornal como quem fecha um livro para de seguida o dobrar novamente em tamanho A4 por ser mais fácil de transportar debaixo do braço. Acto contínuo levanto-me da cadeira e dirijo-me para a porta do 120 a fim de pagar a minha continha. Está tudo calmo e a monotonia do dia é quebrada pelo ambiente de discoteca criado pelos clipes musicais que passavam no canal mcm quando pedi a minha conta ao empregado que descansado lia o jornal sentado numa mesa alta como se fosse um cliente regular.
- É a continha se faz favor? Disse sorrindo amistosamente.
- Um euro e cinquenta e cinco. Devolveu-me o descansado.
Contei os trocados, entreguei-lhos, despedi-me como lá voltasse amanhã.
- Obrigado. Até amanha.
- Até amanha e obrigado. Respondeu-me em forma adeus ou vai-te embora e volta quando quiseres que eu tenho mais do que fazer.
Talvez seja só a minha imaginação a acontecer livremente como correm os rios para o seu destino e talvez o seu adeus fosse simplesmente sincero. Sim talvez fosse só isso. Nós é que infelizmente temos essa natural e inata tendência para desconfiar e conjecturar contra as atitudes dos outros com ou sem razão. De qualquer forma também não importa. Fast-forward.
Saio do café e olho primeiro para sul e depois para norte num momento de imparcial e indiferente indecisão. Por que lado vou para casa? Como se isso tivesse alguma importância desde que lá fosse parar. E assim sem o menor conflito ou dilema interior viro a norte começo a andar em direcção da loja das Noivas que fica na esquina da rua que vai para o bairro azul e que fica a caminho da rua das montras e ainda antes de ter percorrido mais que uns poucos metros e saber nenhuma aparente causa sobrenatural dou uma volta de 180º sobre mim mesmo e resolvo voltar para trás e voltar para casa indo antes na direcção de Rainha passando pelo Parque D. Carlos. - Sim é isso que fazer, pensei.
Descendo pela rua da Calçada da Praça 5 de Outubro, em pouco mais de um minuto atinjo a rotunda da Rainha D.ª Leonor, esse postal tão requisitado pelos turistas que por aqui passam durante todo o ano e deparo-me com o cenário do costume. Um vaivém de carros acelerando e desacelerando apressados, apitando e conspurcando e contaminando o ar envolvendo tão profunda e majestosa imagem que já nem os pombos utilizam. Aquilo que devia ser uma espécie de Estatua da liberdade para os caldenses, também ela símbolo de esperança e igualdade, não é mais que um postal para desconhecidos ou local de festejos futebolísticos. As mesmas gentes suspeitas em frente ao café da esquina. Apitadelas e mais apitadelas na guerra das pressas e das prioridades com uma asneirola aqui e ali uns dedos médios levantados. O costume. A prova viva desta sociedade stressada e imbuída num capitalismo sem escrúpulos como um coctail molotov pronto a ser arremessado imprudente a todo o instante às barbas de uma delicada democracia.
Pressiono o botão mágico e fascinante da minha imaginação e paro o tempo atravessando as viaturas imóveis pela estrada, observo os rostos amargurados dos condutores e transeuntes num misto de pena e compaixão num desejo mútuo de poder alivia-los ou ser sereno e friamente indiferente a este crescente drama emocional que fustiga dolorosamente as gentes do nosso tempo. Tudo parou. Os gases libertados pelos escapes dos carros e motas levitam parados como estando numa tela pop-arte do mais contemporâneo que possa haver por ai.
Estou agora do outro lado de costas viradas para a rotunda em frente ao grande portão metálico verde ferrugem que dá entrada para o parque e viro-me para trás como um estranho que acabara de acordar de um coma profundo.
- Onde é que estou?
Clico mentalmente os dedos da mão e de novo a agitada confusão da circulação do trânsito acompanhada pela mais desconcertante e atordoadora sinfonia.
No final das contas nada de novo até aqui. Faz parte da minha rotina passar por aqui mas, por mais que tente habituar-me a esta confusão diária não sou simplesmente capaz de digerir tudo isto.
Passar os portões do parque, subir os seus três ou quatro degraus de pedra grosseiros envelhecidos pelas intempéries e desgastados por incontáveis passagens tem o poder de me renovar o corpo e alma. Mas que dentro das suas muradas centenários se possa ainda ouvir um pouco da confusão mundana é como se cada inspiração encha pouco a pouco o nosso ser de uma reconfortante e refrescante sensação de paz, calma e harmonia. Um estado Nirvana.
São agora cinco da tarde. Estou dentro do parque debaixo de gigantescos plátanos tocado pelos poucos raios de luz que conseguem penetrar a densa folhagem que ostentam nesta época do ano. Ah, como eu amo a primavera.
Fecho os olhos e encho os pulmões de ar durante uns segundos como estivesse a praticar um simples exercício de yoga. Sinto os odores da terra, das árvores e das flores encheram um meu coração de alegria. Sou por momentos parte integrante desta moldura. Por maior que seja o meu desejo de continuar aqui de olhos fechados é melhor continuar o meu caminho ou ainda dou por mim apertado dentro de algum colete-de-forças.
Abro os olhos avanço revigorado sob o pavimento feito de terra, brita fina e areia compactados como pedra na direcção do Pópulos esticando uma mão imaginária de homem-borracha para ir acaridando delicadamente as hortenses multicolores, lírios brancos e agapantos azuis (lembrando um fogo de artifício abrindo-se no céu nocturno como um dente-de-leão) que enfeitam os canteiros que rodeiam o apelativo parque infantil que vai fugindo de mim a minha direita. Com a excepção de um outro casalinho de velhinhos ou adolescentes que por ali andavam de banco em banco apenas a passarada e eu deslizávamos pela enorme e larga avenida do parque ao sabor da languidez de quem foi tocado por algo superior. Ao fundo um bando pombos aguardava a esmola sob a forma de pão que mais tarde ou mais cedo alguém acabaria por lhes oferecer. Pareceu-me ver o mesmo pombo que me fitou lá em cima na praça e de novo fiquei com a estranha impressão que também ele estava a olhar para mim como me quisesse dizer ou pedir alguma coisa. Deve ser só uma impressão.
Tendo em conta que nesta altura do ano é dia até quase às 21h, é o mesmo que dizer que a tarde, como uma criança de dois anos, balbuciava ainda as primeiras frases desajeitadas apoiadas em pouco mais do que duas ou três palavras exprimindo as suas primeiras vontades e eu tinha ainda tempo de sobra para aproveitar esta deliciosa atmosfera e aproveitar para ler mais um pouco de um dos dois livros que trazia comigo, Em Busca do Carneiro Selvagem, de H. Murakami. Sim é isso mesmo que eu vou fazer. Vou sentar-me de costas à casa dos barcos e de frente ao lago com a Dama do mesmo na minha vista ao pé dos velhinhos que se ocupam com as suas conversas diárias, com a leitura de jornais, com um joguinho de cartas ou com o que quer lhes interesse. Sentar-me-ei no banco de jardim romântico feito de duas tábuas grossas com os rebordos bem torneados e pintadas de vermelho sangue combinadas, uma para as costas e outra para o rabo, em duas estruturas metálicas fazendo lembrar aquelas muletas de três pés tipo andarilho. Estarei bem ali.

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domingo, julho 12, 2009 - 22:12
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