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OS GÉMEOS - 34

.

 

(continuação)

 

— William, o teu querido irmãozinho está a preocupar-me... Quando marca uma hora, nunca me deixa ficar à espera. Já devia de cá estar há mais de cinco minutos! Não saí daqui do átrio, salvo quando fui à ressecção verificar se já lá estavam todas as malas. Será que subiu num elevador enquanto tu descias no outro? De qualquer modo, se assim foi já teve tempo de voltar.

James, que estava de costas voltadas para Madeleine, muito interessado na montra do quiosque de recordações e artesanato, ao pé do sofá onde ela se sentara, aproximou-se um pouco mais, encarando-a sorridente e com um inclinar de cabeça a sugerir-lhe paciência. Viu a instantânea dúvida a franzir-lhe o olhar, e a hesitação, e tornou a afastar-se, quase não conseguindo representar a naturalidade precisa para continuar o engano. Por instinto, talvez, ela reconhecera-o, ou pelo menos desconfiara que os seus olhos tinham visto algo improvável. Durante aquela meia hora fora cortar o cabelo curtinho como o de William, rapara o bigode e, porque não queria dar-se a mais trabalho, limitara-se a tirar a gravata, conservando o fato claro que contrastava bastante com o que o irmão trazia. Podia ter sido esse pormenor que a alertara. O certo é que Madeleine não confirmara quem era ele...

— Tu és terrível! Então pensavas que me iludias!... — logo a ouviu dizer, a abraçar-se a ele, agitada de riso.

— Confessa, que à primeira vista iludi mesmo... — refutou James, beijando-lhe o cabelo enquanto se desembaraçava dela, e reparava, de novo inseguro, que William estava a chegar junto deles, a coçar a cabeça, com semblante interrogador, a avaliar-lhe a transformação do visual.

— Sabes que tiveste uma ideia excelente? Assim vão poder revezar-se a acompanhar-me, ora um ora outro, e eu mostrar-me-ei sempre com o mesmo! Mas podereis estar descansados que eu não vos confundirei. E daí, não sei... Vai ser um jogo engraçadíssimo para mim!... Ora vejamos, ora vejamos... qual de vocês é o Willy?... Tu?... Não. Tu?... Não, não... Ah! Deves ser tu... Mas que maravilhosa situação!...

— Eu? Eu sou o James-William.

— Não é verdade! Ele é o James-William, eu sou o William-James.

— Só falta uma coisa, meus amores... Tratem de comprar roupas igualzinhas. Quantas mulheres vocês devem ter ludibriado assim!...

— Então, aprovas?

— Aprovo, e com muita alegria!

— Encontrar alegria numa coisa é melhor do que meramente gostar dela. — sentenciou William sem dúvida convencido de que James, não dando ponto sem nó, voltara à fórmula antiga para se resguardar de impróprias sequelas que adviriam de férias em comum, gozadas bem no meio em que ele agora residia com muita frequência. Mas não imaginou mais do que isso. Por si, não tinha nada a opor, até porque também tinha a certeza de que Madeleine os saberia sempre distinguir. Ela era sábia... “Os sábios são alegres... quase sempre”, diria Hana se estivesse ali com eles.

— Não. Não queria que falasses sobre isso... embora morra de curiosidade por saber alguma coisa sobre esse especial trabalho de investigação que andas a desenvolver há anos.  Mas Jimmy pediu-me, com seriedade de mais, para não te perguntar nada, e eu acho que devo respeitar as tuas férias.

Era o primeiro dia que ela havia destinado para absoluto repouso. Durante semana e meia tinham vivido num corrupio contínuo de visitas turísticas, espectáculos e festas que se prolongavam noite fora. Nesses dias William nunca se conseguira levantar antes da hora do almoço, por preguiça mas sobretudo porque logo as suas horas de sono tinham sido tão alteradas que se não dormisse o necessário se arriscaria a não poder aguentar o folguedo, e ele não queria fazer papel de paisano na companhia dela, e também de James, que, por artes que lhe gabava, fora a todo o lado com eles porque sem sombra de dúvida era quem estava a escolher os locais e todos os divertimentos, e isso fazia com sugestões inspiradas e perfeita insuspeição.

— Como ia contar, é um trabalho monótono para quem não tem nada a ver com a Biologia, mas...

— Não! Por favor, William.... — interrompeu-o de novo Madeleine. — Eu até já quis ir lá ver... Mas não falemos de nada disso agora, está bem? Esquece o teu arrozal. Como vão as tuas colaboradoras? Louise é muito simpática. Telefona muitas vezes cá para casa, para falar com o Willy, e lembra-se sempre de me transmitir cumprimentos teus. De Hana é que eu não tenho sabido nada.

— Se não achas bem que eu fale do meu arrozal, então também não deverei falar delas...

— Oh. Estás a ser vingativo! Delas podes falar... já me ocorreu ter pena dessas mulheres, por estarem desterradas lá... Mas se estão é porque gostam, ou porque têm interesse em estar ao pé de ti. Então, que fiquem... E que te sirvam bem.

Havia naquela frase muita censura. Ressaca? Amofinação por James de repente os abandonar sozinhos por vários dias? Ou, também plausível, imaginação às voltas com a vida íntima dele? — perguntou-se William. Ela ainda não sabia da existência de Zirá, e de Amélia... Não tinha que dizer-lhe que nunca tocara em Louise, e que Hana... bem, Hana... por uma vez trouxera-lhe o cheiro e a fantasia de terras exóticas... Não, não tinha que lhe dizer isso. Para não a magoar, ou porque então ficaria franqueado um irrecusável caminho de sobressalto sentimental?

— Vou até à piscina. Importas-te de ao jantar mandares preparar para mim alguma coisa muito leve? Gostaria de me deitar cedo. Quero estar na melhor forma amanhã. O que é que já tens planeado? Aonde iremos?

— Depois se verá. Tenho induzido Jimmy a decidir por nós... era a melhor maneira de o termos connosco. Agora estamos por nossa conta. Até podemos ir embora daqui, se nos apetecer. Que dizes a isso? — atirou-lhe Madeleine, num tom de frivolidade, a concordar ansiosa que ele se retirasse, sem querer desabafar: “— Estou tão nervosa... Apetece-me rir, apetece-me chorar... Que tolice! Vai para a piscina, vai... Posso deixar-te ver-me assim alvoroçada?”

 

 
(continua)

Escrito de acordo com a Antiga Ortografia

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segunda-feira, junho 3, 2013 - 11:10

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Nuno Lago

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