Sangue sobre a Neve

No alto da montanha, de onde apenas o céu escuro retinia em seu negro brilho promessa de neve, ao sabor do vento, a fita branca rasgada, pelo fervor da batalha, dançava presa a uma lança, na qual o sangue se tornava negro, testemunha única, ultimo vestigio, sustento dos despojos da batalha, eterna enquanto durtar…
Ate onde a vista alcança corvos negros infames comedores, alegrias da desgraça, gralhando ao céu, em circulos perfeitos vagam sobre corpos como um negro veu, corpos deitados, sonhando talvez, com braços que jamais abraçarão com casas as quais não voltarão e com familias as quais não verão jamais… com olhos brancos postos no nada, alegrias da desgraça que o vento assubia e a morte abraça.
Os despojos da batalha arrefecem sobre a fria neve do desespero, o guerreiro finta o céu com os olhos languidos de quem espera o abraço da Deusa, consolação única das amarguras de uma existência nula ao serviço do vazio... o céu veste-se de carmim ao sabor do sangue que aos poucos invade uma alva neve na vitória dos perdidos e no nada que apenas sobra depois do amor e das grandes batalhas... o calor do corpo abandonado ao sabor dos farrapos de vida aquece a neve debaixo da sua presença e o desespero que nessas horas sempre assiste os infelizes lava-lhe a cara de quem já não quer lutar, postrado no chão o guerreiro rendesse e a vibora devora-lhe o coraçao...
Muitos anos ao de passar mais de mil passarão, sobre estes corpos e estes nomes e na neve do esquecimento também eles se esquecerão.
Acabou a batalha, nada foi como devia ser, comédia do destino, que, quem entra na batalha nunca entra para perder…
Chega a hora, o guerreiro deve partir, “ate amanhã capitão, até ao dia em que no inferno eu o vir…”