CONCURSOS:

Edite o seu Livro! A corpos editora edita todos os géneros literários. Clique aqui.
Quer editar o seu livro de Poesia?  Clique aqui.
Procuram-se modelos para as nossas capas! Clique aqui.
Procuram-se atores e atrizes! Clique aqui.

 

Spinoza e o Panteísmo - Parte XI - A Ética baseada no Saber


 

Nesse capítulo, Spinoza volta a tratar das questões morais e o inicia inventariando os tipos mais comuns de ordem ética que são adotados pela humanidade. A saber:

1) O Sistema calcado nas virtudes budistas ou cristãs, que alguns chamam de “virtudes femininas”; ou seja;
1.1 – todos os homens são iguais.
1.2 – o Mal será combatido apenas com a utilização do Bem.
1.3 – “Amor” é sinônimo de “Virtude”.
1.4 – a Democracia ilimitada é a forma de governo apropriada.

2) O Sistema baseado nas teses de Filósofos como Maquiavel, Nietzsche e outros:
1.1 – exaltação às chamadas “virtudes masculinas” como o arrojo, a ousadia, a disposição para o combate etc.
1.2 – aceitação do fato de haver desigualdade entre os indivíduos.
1.3 – admissão e enaltecimento dos riscos inerentes ao combate, à conquista e ao domínio.
1.4 – identificação de “Poder” e “Virtude”.
1.5 – exaltação do continuísmo aristocrático como forma de governo.

3) O Sistema proposto pelos Filósofos gregos clássicos, Sócrates, Platão e Aristóteles, que contém:
1.1 – a negação de que os sistemas anteriores sirvam para todas as circunstâncias.
1.2 – a afirmação de que apenas a Mente (a Sabedoria amadurecida) pode julgar quando se deve agir segundo as “virtudes femininas” ou de acordo com as “virtudes masculinas”.
1.3 – a afirmação de que a “Virtude verdadeira” é a Inteligência, a sabedoria e não a humildade ou o arrojo.
1.4 – defesa de uma mescla entre Democracia e Aristocracia como forma de governo ideal.


A partir desse inventário, Spinoza partiu em busca da melhor forma de harmonizar essas posições divergentes e com isso criou uma síntese que ainda hoje é considerada a ideal.
Ele propõe de inicio que a “Felicidade” deva ser o objetivo da conduta humana, sendo a “felicidade” definida como “a presença do prazer e a ausência do sofrimento”.
Porém, como o “Prazer e a Dor” são conceitos relativos e passageiros e não estados absolutos ou definitivos, ele propõe que sejam considerados apenas como “transições”; assim, o “prazer” é a transição de uma situação negativa para outra positiva e a dor, obviamente, o inverso.
E porque, então, todas as paixões humanas são transitórias e as emoções são apenas movimentos em direção à realização (ou inteireza) do homem enquanto Ser; o homem ético, escorado na Sabedoria, saberá o momento oportuno de agir com a humildade adequada e/ou com o arrojo necessário.
Nesse equilíbrio é que está a “Virtude Verdadeira” e por isso, Spinoza não advoga que o homem se sacrifique em prol de outrem, até porque, para ele, o egoísmo é uma necessidade ditada pelo instinto de autopreservaçao. Em suas palavras:

“Já que a Razão não exige coisa alguma contra a natureza, ela admite que cada homem deva amar a si mesmo e procurar aquilo que lhe for útil, e desejar aquilo que o leve verdadeiramente a um maior estado de perfeição: e que deva esforçar-se para preservar o seu ser até o ponto que lhe compete”.

Respeitando, portanto, a natureza das coisas e dos homens, Spinoza constrói o seu ideário com base nas exigências da natura e não sobre um suposto altruísmo que foi tão caro e precioso para os Filósofos utópicos. Tampouco se apoia no egocentrismo nefasto que propõe ir além das necessidades naturais, como propuseram os pensadores “Cínicos”, entre outros.
Em linhas gerais, pode-se dizer que a sua sistemática nega:

1) Qualquer valor para a fraqueza, para a subserviência, para a humildade; pois elas seriam, na verdade, sórdidas enganações de manipuladores ou manifestações de fraqueza e covardia.

2) Qualquer validade para a soberba, para o orgulho que não se justifique por méritos reais. A presunção, diz, torna o presunçoso um incômodo para os demais.

São traços bem definidos e posições dotadas de uma rigidez que, em principio, parece destoar da suavidade que caracteriza o filósofo. E, realmente, no desenrolar de seus pensamentos, ele se reaproxima de sua faceta mais branda e, talvez, mais ingênua, como quando, por exemplo, mostra-se horrorizado com toda a maldade humana, com a inveja existente entre os que se dizem amigos e com o desprezo que cada qual devota a quem julga ser-lhe inferior. Uma ingenuidade, aliás, que se torna mais evidente quando ele propõe acabar com os males humanos através da simples eliminação das emoções e intenções negativas, já que para ele seria “simples” mostrar a todos os homens que o “ódio pode ser vencido pelo amor graças à proximidade entre ambos (sic)”. Em seus termos:

“Aquele que acredita ser amado por quem ele odeia torna-se presa de conflitantes emoções de ódio e amor, uma vez que amor tende a gerar amor; de modo que o seu ódio se desintegra e perde a força. Odiar é reconhecer a nossa inferioridade e nosso medo; não odiamos um inimigo que acreditamos convictamente podermos vencer”.

Todavia, a suposta ingenuidade do filósofo logo é superada e na sequência ele retoma a sua convicção acerca do Saber enquanto sinônimo de comportamento ético. Embora as suas palavras pareçam repetir a ideologia cristã, a rigor, trata-se de uma falsa impressão, haja vista que o cerne de seu Sistema Ético é mais influenciado pelos gregos do que pelos hebreus, como se pode inferir dessa outra afirmação:
“O esforço para compreender é a primeira e única base da Virtude”.


Continua...
 
Produção e divulgação de Pat Tavares, lettré, l´art et la culture, assessoria de Imprensa e de Comunicação com o Público. Rio de Janeiro, inverno de 2014.

Submited by

terça-feira, agosto 19, 2014 - 16:33

Prosas :

No votes yet

fabiovillela

imagem de fabiovillela
Offline
Título: Moderador Poesia
Última vez online: há 7 anos 35 semanas
Membro desde: 05/07/2009
Conteúdos:
Pontos: 6158

Add comment

Se logue para poder enviar comentários

other contents of fabiovillela

Tópico Título Respostas Views Last Postícone de ordenação Língua
Poesia/Geral A Montanha 0 718 02/24/2013 - 13:55 Português
Poesia/Tristeza Maria do Crack 0 1.104 02/21/2013 - 11:12 Português
Poesia/Geral A Quarta 0 759 02/20/2013 - 13:07 Português
Poesia/Geral Sereias 0 937 02/18/2013 - 21:44 Português
Poesia/Geral A Hora 0 1.009 02/17/2013 - 12:34 Português
Poesia/Geral Colibri Beija-Flor 0 941 02/16/2013 - 20:10 Português
Prosas/Cartas Um Adeus em Naif 0 4.335 02/15/2013 - 21:54 Português
Poesia/Geral A Hora 0 774 02/12/2013 - 21:48 Português
Poesia/Geral Bastaria 0 1.429 02/10/2013 - 17:15 Português
Poesia/Geral Acreditar 0 1.598 02/06/2013 - 11:24 inglês
Poesia/Geral Personagens 1 805 01/30/2013 - 23:13 Português
Poesia/Geral Gulag 0 883 01/25/2013 - 11:47 Português
Poesia/Tristeza Abandono 0 752 01/24/2013 - 11:55 Português
Poesia/Tristeza A Espera 0 1.225 01/23/2013 - 19:30 Português
Poesia/Amor Falta teu corpo 0 611 01/23/2013 - 14:49 Português
Poesia/Geral Capela 0 584 01/22/2013 - 12:15 Português
Poesia/Fantasia Delírios 0 444 01/19/2013 - 12:52 Português
Poesia/Geral Nada Dizer 1 586 01/15/2013 - 15:40 Português
Poesia/Geral É Preciso 0 564 01/14/2013 - 12:08 Português
Poesia/Geral Sotão 1 471 01/13/2013 - 14:53 Português
Poesia/Geral Casablanca 0 586 01/09/2013 - 14:10 Português
Poesia/Geral Ir 0 3.890 01/06/2013 - 12:50 Português
Poesia/Fantasia Alaúde 0 795 01/02/2013 - 13:31 Português
Poesia/Geral Ame-o ou Deixe-o 0 957 12/31/2012 - 13:18 Português
Poesia/Geral O Baile 0 616 12/28/2012 - 13:38 Português