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Tardes

Eu continuo a sentir os teus lábios sobre a minha pele. Sentirás tu os meus? As vozes que me perseguem dizem que já não. Que tu já não sentes. Mas eu sinto.
Naquelas tardes que se prolongaram até chegar o dia em que tudo acabou,lembro aquela proximidade que nos levava para além de nós, e que sempre nos trouxe para longe de tudo e todos. Até hoje respiro os segredos que partilhámos, nas horas em que o sol se despedia e eu também. Despedia-me de mim, de todas as formas, em todas as palavras, nos mais pequenos gestos e tornava-me livre. Só para chegar perto de ti. Perto dessa maneira de viver tão pautada pela utopia. E sonhava. Eu era quem me apetecia ser. Eu podia ser mil e uma coisas. Tu nunca eras o mesmo.Mudavas com as estações doano. Preferia-te no Inverno, com a chuva a cair lá fora e cá dentro tu a caíres em ti mesmo. Era quando estavas mais perto de mim. Quando paravas em ti, e eras simplesmente tu mesmo. Adorava ver-te sem fios que te puxavam, sem discursos ensaiados noutras viagens. Eras tu. Eu adorava quando eras tu, porque assim eu também podia ser o que era realmente. Sem jogos ou disfarces. Apenas nós. Um com o outro. Sem feridas abertas na pele que doem no coração. Apenas 2. Apenas amor.
Recordo-me que cheguei até ti com pézinhos de lã, bem devagar para que não fugisses, como fogem os peixes cor de prata que encandeiam os meus olhos, quando eu ponho os meus pés na água salgada.
Eu fui livre. Livre até os teus olhos despirem a minha alma completamente. Aí deixei de ser livre e passei a ser tua. Fiquei embalada nessa tua incerteza. E deixei-me ir. Porque quis, porque fui. Porque fomos o que podemos ser. Não o que eu queria que fôssemos. Secalhar tinha que ser mesmo assim. Os nossos gestos sempre sufocaram as nossas palavras. Eu tinha tanto para dizer, mas sei que tu não podias ouvir. Ás vezes as palavras trazem venenos que não queremos provar. E eu já lidava com os meus pensamentos envenenados, as minhas dúvidas iluminadas de razões que eu própria desconhecia. Era escuro demais para mim. Hoje já não te peço mais do que aquilo que me deste. Não te exigo o que um dia te pedi. Naqueles tempos, eu despia a minha alma pesada e pegava nas palavras escondidas nos teus lábios para me ressuscitar. Agora já não preciso de palavras silenciosas para existir. Nos meus olhos salgados, és hoje uma miragem pintada em tons demagenta que acompanha a minha sombra nas tardes que me esquecem. Eu era a brisa que pousava nos teus cabelos castanhos, e que subitamente se ia embora. Naquelas tardes, eu fui feliz, mas não fui eu. Fui outra. Para ser tua.

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quarta-feira, dezembro 7, 2011 - 23:46

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Ana Salustiano

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